sexta-feira, 19 de abril de 2013

13 de Maio dia de Luta Contra o Preconceito e o Racismo.


Fonte UNEGRO



Dados do último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, mostram que do total de 450 mil pessoas que moram em Roraima, 26.364 delas se autodeclararam de cor ou raça negra. Para a coordenadora estadual da União de Negros pela Igualdade (Unegro), Glória Rodrigues, as discussões continuam voltadas para o fim do racismo e da desigualdade, além de buscar alternativas e estímulos para ensinar as pessoas a desconstruir o pensamento preconceituoso com relação ao negro.
Segundo ela, essa desconstrução é muito difícil de ser feita nos adultos que, na maioria das vezes, agem de forma velada, principalmente, quando são processados. “O preconceito só é combatido na Justiça, mas o que se consegue quando alguém acaba processado é fazer com que a pessoa deixe de maltratar, de humilhar, mas o preconceito vai continuar ali”, explicou.
Em sua opinião, o trabalho de desconstrução do pensamento preconceituoso deve ser investido nas escolas de ensino médio e fundamental. “Só com a educação dos jovens e crianças é que teremos condições de construir um novo pensamento, pois o preconceito só existe por causa da ignorância da mesma forma que acontece com a intolerância religiosa. Tudo é falta de conhecimento”, acredita.
E para desenvolver essa construção de um novo pensamento, a entidade começou este ano, juntamente com a Secretaria Municipal de Educação, a capacitar os professores do ensino fundamental sobre a temática. O protejo capacitou mais de 450 profissionais até o momento.
Outra medida, que a liderança acredita ser um mecanismo de desconstrução do preconceito com o negro, são os debates e seminários que devem ser realizados com as entidades que representam os professores. “Já está previsto nas nossas ações para o próximo ano realizar um congresso com as bases sindicais para que possamos construir de forma legal esse trabalho nas escolas”, explicou.
Sobre a situação do negro em Roraima, Glória afirma que ainda há muito que se fazer para mudar o cenário de preconceito e assédio que existe aqui. Segundo a liderança, apesar das mudanças lentas que o movimento consegue vislumbrar, quase toda semana ela se depara com situações constrangedoras pelas quais os negros têm que passar no seu cotidiano.
Hoje [ontem] mesmo eu recebi uma mulher que está sofrendo assédio seguido de racismo em seu local de trabalho. Nós, mulheres, sofremos duas vezes por sermos também negra. E é preciso combater essa humilhação porque o assédio e a desqualificação matam as pessoas. O Estado ainda tem muito que avançar e a nossa luta é permanente. Não para”, afirma.

Hoje ainda permanece a escravidão após 125 anos de libertação do trabalho escravo no Brasil.

"Escravidão e Práticas Antissindicais"

 

Helder Molina


1 – As relações entre trabalho degradante, praticas antissindicais e criminalização de dirigentes e militantes dirigentes sindicais, hoje O termo escravidão nos remete à imagem do aprisionamento e da venda de africanos, forçados a trabalhar para seus proprietários nas fazendas ou nas casas no Brasil colonial ou imperial. Essa foi a realidade do Brasil até o final do século 19, quando, por fim, a prática foi considerada ilegal pela Lei Áurea, de 13 de maio de 1888. Mais de 100 anos depois, ¬porém, o Brasil e o mundo não podem dizer que estão livres do trabalho escravo. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que existam pelo menos 12,3 milhões de pessoas submetidas a trabalho forçado em todo o mundo, e no mínimo 1,3 milhão na América Latina.

Para a OIT, “todo trabalho escravo é degradante, mas nem todo trabalho degradante é considerado escravo. O que diferencia um do outro é a privação da liberdade”. São basicamente três os fatores que levam as pessoas a permanecerem trabalhando como escravos: o endividamento (servidão por dívida), o isolamento geográfico e a ameaça à vida. Não se trata, portanto, de simples descumprimento das leis trabalhistas, mas de um conjunto de condições degradantes.
Há uma estreita vinculação entre expansão do agronegócio no contexto da economia mundializada e a precarização das relações trabalhistas. A contradição gritante é que mesmo governo que estimula as monoculturas de exportação corre atrás dos enormes prejuízos que ela provoca, inclusive à imagem do Brasil no exterior.
Há variadas formas e conteúdos de escravidão nas condições e relações de trabalho no tempo presente
2 – Terceirização, precarização: Os cativeiros públicos e privados No Brasil, a terceirização e precarização das relações e condições de trabalho se enraizou, e se aprofundou nos últimos 20 anos, como produto do neoliberalismo. Os empregadores em geral terceirizam a contratação da força de trabalho. Eles recrutam os trabalhadores e servem de fachada para que os “donos” não sejam responsabilizados pelos crimes contra os direitos trabalhistas. Essa relação escravocrata está presente nas obras do PAC (construção de usinas hidrelétricas, obras de estradas, ferrovias, saneamento), nas obras da Copa do Mundo (denúncias recentes nas obras dos estádios), e mesmo em obras da Petrobrás (como denunciou o Sindicato da Construção Civil de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, nas obras do Comperj). Os números são absurdos, como veremos logo abaixo.
Falsas promessas e cativeiro no trabalho Nos meios rurais e urbanos persistem a presença ativa dos “gatos” (ou feitores modernos) que buscam ¬pessoas em regiões distantes do local onde serão prestados os serviços ou em pensões de cidades ¬próximas.No primeiro contato, são simpáticos, agradáveis e oferecem boas oportunidades de trabalho, com garantia de salário, alojamento e comida. Para seduzir o trabalhador, oferecem “adiantamentos” para a família e transporte gratuito até o local do trabalho.
Na escravização, há ainda os “peões do trecho”, que não têm residência fixa, passando de uma frente de trabalho para outra. Nos chamados “hotéis peoneiros”, onde se hospedam à espera de serviço, são encontrados pelos “gatos”, que “compram” suas dívidas (fazem um refinanciamento informal) e os levam às fazendas. A partir daí, os trabalhadores já estão endividados e devem trabalhar para pagar.
Paus de arara O traslado é feito em ônibus em péssimas condições de conservação ou por caminhões improvisados – os paus de arara – sem qualquer segurança. Como a fiscalização tem aumentado, hoje os “gatos” emprestam o dinheiro para as passagens, chegando até a alugar ônibus de turismo, para não serem descobertos. O destino principal são as regiões de expansão agrícola.

Servidão por dívida ao chegarem ao local do serviço, os trabalhadores são surpreendidos com situações completamente diferentes do prometido. Para começar, o “gato” informa que eles já estão devendo. O adiantamento, o transporte e as despesas com a viagem já foram anotados em um caderno de dívidas, onde serão registradas daí por diante todas as “compras” de comida, remédios etc, feitas no estabelecimento mantido pelo fazendeiro. Os gastos também envolvem a construção de ¬alojamentos.
Além disso, o peão fica sabendo que será cobrado pelo uso do alojamento e que o custo de todas as ferramentas de que vai precisar para o trabalho – foices, facões, motosserras, entre outros – corre por sua conta, assim como botas, luvas, chapéus e roupas, tudo anotado no caderno a preços muito acima dos praticados no comércio. É costume o “gato” não informar o valor dos produtos, só anotar, deixando para informar depois ao trabalhador o montante da dívida.
Meses se passam sem que o trabalhador seja pago. Com a promessa de receber tudo ao final, ele continua a derrubar a mata, aplicar veneno, erguer cercas, roçar os pastos, entre outras tarefas, sempre em situações degradantes e insalubres.O acordo verbal com o gato costuma ser quebrado e o peão recebe um valor bem menor que o combinado. No dia do pagamento, a dívida do trabalhador é maior que o saldo a receber.Depois de meses, ele continua devedor do “gato” e do dono da fazenda e tem de continuar a esforçar-se para quitar a dívida.
3 - Capitalismo e escravidão: O lucro e acumulação privada valem mais que a vida e os direitos sociais.
Em razão dos laços que mantêm com os “gatos”, da mobilidade e da falta de alternativas de subsistência, é muito difícil que os resgatados deixem em definitivo esse tipo de relação de trabalho degradante.Eles tendem a voltar à mesma situação pela falta de soluções a longo prazo, que acenem com novas possibilidades de ganhar a vida com dignidade, longe da escravização.
O trabalho forçado no mundo tem duas características em comum: o uso da coação e a negação da liberdade. No Brasil, o trabalho escravo resulta da soma do trabalho degradante com a privação de liberdade. Além de o trabalhador ficar preso a uma dívida, tem seus documentos retidos e, nas áreas rurais, normalmente fica em local geograficamente isolado. O conceito de trabalho escravo é universal e todo mundo sabe o que é escravidão.


Estudos já identificaram 122 produtos fabricados com o uso de trabalho forçado ou infantil em 58 países diferentes. A OIT calculou em US$ 31,7 bilhões os lucros gerados pelo produto do trabalho escravo a cada ano, sendo que metade disso fica em países ricos, industrializados.
A mobilização internacional para denunciar e combater o trabalho escravo começou quatro décadas após a assinatura da Lei Áurea. Com base nas observações sobre as condições de trabalho em diversos ¬países, a OIT aprovou, em 1930, a Convenção 29, que pede a eliminação do trabalho forçado ou obrigatório.
Mais tarde, em 1957, a Convenção 105 foi além, ao proibir, nos países que assinaram o documento, “o uso de toda forma de trabalho forçado ou obrigatório como meio de coerção ou de educação política; como castigo por expressão de opiniões políticas ou ideológicas; como mobilização de mão de obra; como medida disciplinar no trabalho; como punição por participação em greves; ou como medida de discriminação”. Hoje, o proprietário rural não é mais dono do servo, nem responsável por sua manutenção e reprodução de sua prole, como acontecia no Brasil colonial. Ele usa e abusa da mão de obra escrava, arregimentada sob promessas enganosas, e a descarta três ou quatro meses depois. Carvoeiros, roçadores de pasto e cortadores de cana têm, em pleno século XXI, expectativa de vida inferior aos escravos do século XIX.
O trabalho escravo está presente nas principais cadeias produtivas do agronegócio brasileiro: carne e madeira (metade das denúncias); cana e demais lavouras (metade dos libertados), e carvão vegetal.
Em 2010, 242 pessoas foram libertadas de situações análogas à escravidão em atividades não agrícolas, como construção civil (175 em obras do PAC!). Na zona rural, 2/3 dos casos, entre 2003 e 2010, ocorreram na pecuária (desmatamento, abertura e manutenção do pasto); 17% em lavouras de cana de açúcar, soja, algodão, milho, café, e reflorestamento; e 10% em carvoarias a serviço de siderurgias.A maioria dos libertados trabalhava na pecuária e no corte de cana, sobretudo na região amazônica, principalmente nos estado do Pará, Tocantins, Maranhão e Mato Grosso, onde se destaca a voz profética do bispo Dom Pedro Casaldáliga, ainda hoje, aos 84 anos, ameaçado de morte por defender os oprimidos (Prêmio Nacional de Direitos Humanos 2012).
Por que trabalho escravo em pleno século XXI? O lucro! E quando flagrado, proprietário finge não saber o que ocorria em suas terras e culpa o capataz. Fazendeiros, parlamentares, magistrados, artistas de TV, figuram entre proprietários rurais que adotam trabalho braçal de baixo custo em condições subumanas – o trabalho escravo. O Brasil, que assina as convenções, só reconheceu em 1995 que brasileiros ainda eram submetidos a trabalho escravo. Mesmo com seguidas denúncias, foi preciso que o país fosse processado junto à Organização dos Estados Americanos (OEA) para que se aparelhasse para combater o problema. De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), entidade ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e responsável pelas primeiras denúncias de trabalho escravo no país, são escravizados a cada ano pelo menos 25 mil trabalhadores, muitos deles crianças ou adolescentes. Apesar dos esforços do governo e de organizações não governamentais, faltam estimativas mais precisas sobre o trabalho escravo atualmente, até por se tratar de uma atividade ilegal, criminosa.
Sem informações exatas, o poder público e a sociedade organizada ainda lutam para prevenir e erradicar essa prática. Pior que isso, o país enfrenta grandes dificuldades para punir os responsáveis pelo trabalho escravo atualmente.

O Brasil registra importantes avanços, mas ainda persiste as relações análogas à escravidão. O reconhecimento e a consequente adoção de uma política pública e de ações do Estado para reprimir a ocorrência de trabalho escravo são apontados como exemplos pela OIT. Foram libertados 40 mil trabalhadores brasileiros de trabalho degradante desde a criação do Grupo Especial de Fiscalização Móvel e do Grupo Executivo de Repressão ao Trabalho Forçado, ambos de 1995.
Em 2003, foi lançado o Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo, e para o seu acompanhamento foi criada a Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae), com a participação de instituições da sociedade civil pioneiras nas ações de combate ao trabalho escravo no país. Em dezembro do mesmo ano, o Congresso aprovou uma alteração no Código Penal para melhor caracterizar o crime de “reduzir alguém a condição análoga à de escravo”, que passou a ser definido como aquele em que há submissão a trabalhos forçados, jornada exaustiva ou condições degradantes, e restrição de locomoção em razão de dívida contraída, a chamada servidão por dívida. O crime de trabalho escravo atualmente deve ser punido com prisão de dois a oito anos. A pena pode chegar a 12 anos se o crime for cometido contra criança ou por preconceito. A iniciativa acompanhou a legislação internacional, que considera o trabalho escravo um crime que pode ser equiparado ao genocídio e julgado pelo Tribunal Penal Internacional. Porém, passados mais de seis anos, a legislação praticamente não foi aplicada, deixando no ar a sensação de impunidade, apontada pela OIT como uma das principais causas do trabalho forçado no mundo. Tanto que já há propostas no Congresso que aumentam a pena e tentam definir de maneira mais precisa o crime da escravização contemporânea.
O fim da escravidão e de práticas análogas à escravidão é um princípio reconhecido por toda a comunidade internacional. As duas convenções citadas são as que receberam o maior número de ratificações por países membros dentre todas as convenções da OIT. As diversas modalidades de trabalho forçado no mundo têm sempre em comum duas características: o uso da coação e a negação da liberdade. No Brasil, o trabalho escravo resulta da soma do trabalho degradante com a privação de liberdade. O trabalhador fica preso a uma dívida, tem seus documentos retidos, é levado a um local isolado geograficamente que impede o seu retorno para casa ou não pode sair de lá, impedido por seguranças armados. No Brasil, o termo usado para este tipo de recrutamento coercitivo e prática trabalhista em áreas remotas é trabalho escravo; todas as situações que abrangem este termo pertencem ao âmbito das convenções sobre trabalho forçado da OIT. O termo trabalho escravo se refere à condições degradantes de trabalho aliadas à impossibilidade de saída ou escape das fazendas em razão a dividas fraudulentas ou guardas armados.
4 - As práticas anti-sindicais e a crescente agressão e criminalização aos sindicatos e trabalhadores A falta de uma efetiva liberdade sindical aliada às políticas econômicas desenvolvidas pelos governos e à sanha desenfreada de lucro, empreendida pelo grande capital, no mundo e no Brasil, tem se refletido com maior intensidade os ataques aos direitos trabalhistas e a criminalização dos direitos sindicais e cerceamento da liberdade de organização dos trabalhadores. Cresce nas empresas públicas e privadas as denominadas práticas anti-sindicais, que acabam impondo limites ao exercício do direito sindical.
Como vimos, são chamadas de Práticas Antissindicais (PAS) aquelas que, direta ou indiretamente, cerceiam, disvirtuam ou impedem a legítima ação sindical em defesa e promoção dos interesses dos trabalhadores.
As manifestam-se das mais variadas formas: ameaças à integridade física, inclusive assassinatos de dirigentes e militantes sindicais (principalmente no campo); demissões de dirigentes sindicais por parte dos empregadores; decisões da Justiça que retiram a estabilidade dos dirigentes sindicais, e que impedem a cobrança de taxas definidas pelas assembléias das entidades sindicais; restrições às negociações coletivas; aplicação do interdito proibitório, que dificulta a greve e que estabele multas absurdas para entidades sindicais quitarem; discriminações de vários tipos, inclusive com patrões, dificultando, ao máximo a filiação dos trabalhadores e trabalhadoras aos sindicatos, e quando sindicalizados, forçando a que se dessindicalizem; assédio moral; impedimento legal à organização por local de trabalho; repressão à imprensa sindical; impedimeto de acesso do dirigente sindical ao local de trabalho; implantação da reestruturação produtiva que desregulamenta , terceiriza, precariza o trabalho dificultando a organização sindical.
Enfim, há uma série de práticas que dificultam ou até mesmo impedem, que as entidades sindicais possam atuar com liberdade, para desempenhar adequadamente seu papel. Tanto a OIT, quanto a legislação sindical brasileira identificam como crime essas as práticas, cada dia mais presente nas empresas governamentais federais, estaduais e municipais, e no setor privado.
O movimento sindical tem que enfrentar, urgentemente, essas questões.
No projeto de Reforma Sindical, discutido no Fórum Nacional do Trabalho, durante o Governo Lula, as centrais sindicais conseguiram, com muita dificuldade política, devido à oposição intransigente dos empresários, os seguintes itens, que devem balizar a ação sindical em defesa da liberdade e autonomia sindical.
Estas premissas são a base de uma ação política dos sindicatos, e de um projeto de lei que deve ser encaminhado ao congresso nacional: denunciar sempre que os patrões e os governos: comportar-se de maneira a impedir ou limitar a liberdade e a atividade sindical, bem como o exercício do direito de greve.
Subordinar a admissão ou a preservação do emprego à filiação ou não a uma entidade sindical. Subordinar a admissão ou a preservação do emprego ao desligamento de uma entidade sindical despedir ou discriminar trabalhador em razão de sua filiação a sindicato, participação em greve, atuação em entidade sindical ou em Representação dos Trabalhadores nos Locais de Trabalho
- Conceder tratamento econômico de favorecimento com caráter discriminatório em virtude de filiação ou atividade sindical, interferir nas organizações sindicais de trabalhadores, induzir o trabalhador a requerer sua exclusão de processo instaurado por entidade sindical em defesa de direito individual, contratar, fora dos limites desta Lei, força de trabalho com o objetivo de substituir trabalhadores em greve.
Constranger o trabalhador a comparecer ao trabalho com o objetivo de frustrar ou dificultar o exercício do direito de greve em relação aos empregados, o Art.177 do Anteprojeto de Lei, fixa em alguns incisos as práticas anti-sindicais praticadas, como por exemplo: induzir o empregador a admitir ou dispensar alguém em razão de filiação ou não a uma Entidade Sindical; interferir nas Organizações Sindicais de empregadores; violar o dever de boa-fé na negociação coletiva; deflagrar greve sem a prévia comunicação.


5 – O que fazer? Ações que o movimento sindical devem priorizar, no enfrentamento deste tema, lançar campanhas, com cartazes, bottons, camisetas, folders, jornais, vídeos, exposições de fotografias, denunciando o tema, e mobilizando a sociedade civil e os trabalhadores à luta. Realizar Atos Públicos de denúncia das PAS (Práticas Anti Sindicais, principalmente no que se refere às perseguições, constrangimentos, inquéritos policiais, ameaças e assassinatos de dirigentes sindicais.


Ampliar o combate às PAS, incluindo várias entidades dos movimentos sociais.
Denunciar ao Executivo, ao Legislativo, ao Judiciário, a OIT quaisquer PAS cometidas contra as entidades sindicais, seus dirigentes e militantes.
Divulgar amplamente, para todas as entidades sindicais e movimentos sociais, as PAS cometidas e as medidas que estão sendo tomadas, no sentido de coibi-las.
Aproveitar todos eventos , como plenárias, congressos, seminário, passeatas, e as as datas de luta do movimento sindical - como o 8 de março, 1° de maio, 13 de maio, dia do servidor público, etc, - para denunciar as PAS e divulgar o movimento de combate.
Realizar debates, seminários, congressos, convidando o Ministério Público do Trabalho, OAB, pastorais das igrejas, prefeituras democráticas e populares, OIT, e setores do governo que defendem e promovem os direitos dos trabalhadores, a imprensa progressista (o PIG – Globo, Folha, Estadão, Veja, Época- não adianta, que eles são os principais produtores, reprodutores e propagadores da criminalização dos movimentos sociais e sindicatos e do ataque aos direitos dos trabalhadores) para debater o temas das PAS com as entidades sindicais, e buscar ações públicas e coletivas comuns.
Nossos direitos foram todos conquistados nas lutas. O sindicato é o instrumento coletivo de combate de classe, e só a luta coletiva faz frear e recuar o avanço incivilizatório do capital quanto aos direitos da classe trabalhadora. 2013 estes temas devem fazer parte da agenda, planejamento de gestão, campanhas salariais, negociações coletivos, ações no legislativo e no judiciário, nos cursos de formação política, comunicação, temas transversais, isto é, em todas as frentes da luta sindical. Um ano de desafios, lutas e conquistas.



(Professor da UERJ, bacharel e licenciado em História/UFF, mestre em Educação/UFF, doutor em Políticas Públicas e Formação Humana/UERJ, educador e pesquisador sindical, assessor do SINPAF e da CUT-RJ


POLITICAS PÚBLICAS E INTERSETORIALIDADE


 Fonte.: Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça
WWW./UFMG.BR/VIRTUAL


Política pública pode ser definida como tudo aquilo que o governo (municipal, estadual ou federal) faz no que diz respeito às leis, medidas reguladoras, decisões e ações. Partindo do principio que com uma política articulada acerca dos saberes e experiências tendo em vistas ao planejamento, para realização e avaliação de políticas, programas e projetos, com os objetivos de alcançar resultados é com esse objetivo de formar profissionais aptos/as a atuar no processo de planejamen­to, orçamento, monitoramento e avaliação de projetos e ações de forma a assegurar a transversalidade e a intersetorialidade de gênero e raça nas políticas públicas, lançam o curso Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça, direcionada a servidores/as nos três níveis da Administração Pública.
Cientes que a articulação entre as agendas de gênero e raça nos programas e nas polí­ticas públicas no Brasil ainda permanece como uma tarefa premente, e que a inserção dos problemas e temas da população feminina e negra na agenda pública.
A intersetorialidade cria espaços de comunicação e relação de institui­ções que atuam em diversos setores (político, técnico, administrativo etc.), em diferentes áreas (saúde, educação, meio ambiente, assistência social, planejamento etc.), e que podem pertencer a órgãos governa­mentais, não-governamentais, empresas e órgãos internacionais. Po­líticas públicas intersetoriais agregam setores diversos e várias áreas, permitindo melhor utilização de conhecimentos e experiências acumu­ladas, colaborando para o alcance de metas comuns, sob uma coordena­ção que abarca todas as contribuições.

Política de Governo e Política de Estado

Políticas de governo são aquelas que o Executivo decide num processo bem mais elemen­tar de formulação e implementação de determinadas medidas, para responder às deman­das colocadas na própria agenda política interna – pela dinâmica econômica ou política-parlamentar, por exemplo – ou vindos de fora, como resultado de eventos internacionais com impacto doméstico. Elas podem até envolver escolhas complexas, mas pode-se dizer que o caminho entre a apresentação do problema e a definição de uma política determina­da (de governo) é bem mais curto e simples, ficando geralmente no plano administrativo, ou na competência dos próprios ministérios setoriais.
Políticas de Estado, por sua vez, são aquelas que envolvem as burocracias de mais de uma agência do Estado, justamente, e acabam passando pelo Parlamento ou por instâncias diversas de discussão, depois que sua tramitação dentro de uma esfera (ou mais de uma) da máquina do Estado envolveu estu­dos técnicos, simulações,análises de impacto horizontal, efeitos econômicos ou orçamentários, quando não um cálculo de custo-benefício levando em conta a trajetória completa da política que se pretende implementar. O trabalho da burocracia pode levar meses, bem como o eventual exame e discussão no Parlamento, pois políticas de Estado, que respondem efetivamente a essa designação, geralmente envolvem mudanças de outras nor­mas ou disposições pré-existentes, com incidência em setores mais amplos da sociedade

Nenhum Estado, nem governo se constituem sem a atuação da sociedade civil.

É da sociedade civil que emergem as demandas para que os governos efetivem com medidas concretas, os postulados muitas vezes genéricos afirmados pelos Estados Democráticos de Direito. Cabe destacar a atuação dos/as pesquisadores/as, sujeitos que têm contribuído para a qualificação das políticas públicas. São economistas, ma­temáticos/as, analistas de sistemas, engenheiros/as, sociólogos/as, antropólogos/as, psicólogos/as, profissionais da área da saúde, pedagogos/as, educadores/as e de outras áreas que ao pesquisar as políticas públicas conferem-lhe um caráter interdisciplinar.

Em outras palavras, a sociedade civil tem como ação primordial, apontar os problemas a serem enfrentados, propor e colaborar na formulação das políticas mais adequadas para saná-los e, ainda, fazer o controle social da execução destas políticas por meio dos espaços de democracia participativa, como os conselhos, audiências públicas etc.

Por isso, é fundamental, em uma política pública, pensarmos em quem ganha o que, por que e que diferença faz. Isso nos remete diretamente ao coração da formulação das políticas públicas e às relações entre sociedade e governo para a definição das ações que serão tomadas.
O CICLO DAS POLITICAS PUBLICAS

O ciclo das políticas públicas estuda todo o processo que vai da definição de agenda, elaboração da política pública, sua efetiva implantação e avaliação Tratando-se da formulação de políticas públicas, Easton (1953) constrói um paradigma para demonstrar o que entende por atividades políticas: a atividade política é analisada em termos de um sistema abarcando uma série de ações que devem permanecer em equilíbrio a fim de
que a atividade sobreviva. Nestes sistemas, a vida política é pensada como um processo que engloba inputs (entradas ou perguntas), que vêm do ambiente externo (econômico,religioso, cultural e de toda a sociedade civil), que se transformam em outputs (saídas ou respostas) e que são as decisões políticas. Estas decisões políticas afetam diretamente o ambiente externo e resultam em novas questões e perguntas.
A partir do momento em que se dá a inserção desta demanda na agenda política do governo, considera-se que se iniciou o ciclo das políticas públicas, que pode ser assim esquematizado: 1) Definição da agenda;
2) Formulação de políticas, com identificação de alternativas, avaliação das opções e seleção das opções;
3) Implementação da política pública;
4) Avaliação.

AVALIAÇÂO E MONITORAMENTO

Avaliação e o monitoramento é uma etapa essencial deste ciclo. É a avalia­ção e o monitoramento das políticas públicas que permitem verificar quem, de fato, se beneficiou da implementação de certa política pública e se ela, efetivamente, atingiu o fim para o qual foi dese­nhada. No momento da avaliação é que é possível responder com mais precisão “que diferença fez” a implementação de determinada política. Diante dos resultados, seriam feitos ajustes ou implementa­das novas políticas.
O que temos notado é que, embora seja possível criticar a baixa utilização da avaliação de políticas públicas no Brasil, enquanto ferramenta de gestão, cada vez mais tem se percebido o seu potencial na correção do curso das políticas públicas.

CONSIDERANDO OS TEMAS GÊNERO E RAÇA.
 
É possível perceber que a implementação das políticas públicas conjuga as três respostas acima:
1) Primeiro, assumindo que há problemas na sociedade referentes ao tratamen­to desigual dado às mulheres e aos/às negros/as e outros grupos discriminados;
2) Por meio de informações, produção de conhecimento e ação coletiva criam-se novas concepções em torno do tema gênero e raça, almejando a justiça social e a equidade;
3) Por fim, há a conjunção entre participantes visíveis e invisíveis para que, fi­nalmente, a política pública seja implementada.

Definindo políticas afirmativas: entre o reconhecimento e a redistribuição em contextos globais e locais
O advento das políticas afirmativas enquanto políticas públicas sob o controle do Estado marcou uma mudança paradigmática nos estudos dedicados aos chamados “novos movimentos sociais” ou movimentos identitários. No começo dos anos 1980, postulados teóricos consagrados prescreviam que os/as novos/as atores/atrizes sociais reivindicariam apenas o reconhecimento identitário (raça, gênero, orientação sexual, política ou religiosa), como se as necessidades básicas para a realização plena da cidadania prescindissem de uma base material de sobrevivência. Diante das pesquisas e dos indicadores apontando a insuficiência das políticas públicas universalistas para a correção das desigualdades, os movimentos sociais passaram a discutir com o Estado uma mudança no desenho das políticas. A pressão dos movimentos sociais explicitou que a gestão das desigualdades e as exclusões requeriam um mecanismo social que desse conta tanto do re- conhecimento quanto dos aspectos redistributivos, na medida em que historicamente foi com base nas condições de pertença racial e étnica, de gênero, orientação sexual, política ou religiosa que as desigualdades e as exclusões se assentaram. Estes aspectos foram ilustrados na unidade anterior, em que foi constatada a contra­dição inerente aos discursos liberais de igualdade, liberdade, trabalho e cidadania na formação das sociedades contemporâneas diante das realidades sociais sedimentadas na desigualdade e na exclusão. Este debate se dá de forma acalorada, em conflito com o liberalismo clássico.
Portanto, a demanda social por políticas afirmativas choca-se frontalmente com a doutrina liberal. Os movimentos feministas pelo sufrágio universal, os movimentos pelos direitos civis encabeçados pelos/as norte-americanos/as negros/as em prol da justiça sociorracial, da redistribuição de recursos e do reconhecimento expõem as contradições inerentes a esta doutrina. Esse movimento contínuo de exposição das contradições ideológicas básicas da modernidade seria encampado por todos os movi­mentos sociais, em escala global, na busca pela igualdade, sobretudo após a erosão do Estado de “bem estar social”.

Neste contexto, o que seriam as políticas afirmativas?

Na verdade, não há uma única definição dessas políticas, já que esse mecanismo de gestão das desigualdades co­bre vastas áreas da atividade social, incorporando o mer­cado de trabalho, a representação política, as oportuni­dades educacionais, entre outras. Todavia, pode se dizer que há um consenso conceitual, independente do con­texto social do qual as políticas afirmativas emergem: elas se constituem em mecanismos de diminuição de desigualdades historicamente construídas ou destinam-se a prevenir que novas desigualdades se estabeleçam no tecido social, tendo por base condições de gênero, raça, orientação sexual, participação política e religiosa. Observa-se que políticas afirmativas, no setor público, podem ser simplesmente denominadas ações afirmati­vas ou políticas de igualdade de oportunidades. No setor privado, elas adquirem geralmente a denominação de políticas de diversidade, que são voluntárias e não são monitoradas sistematicamente por órgãos estatais. Diversos/as autores/as e especialistas têm proposto definições variadas e de acordo com processos específicos de desigualdade.
Por exemplo, Celso Antônio Bandeira (2003) define que as ações afirmativas:
Das cinco definições de ações afirmativas apresentadas, des­tacamos a do ministro Joa­quim Barbosa Gomes por ex­plicitar as áreas da educação e o mercado do trabalho onde a efetiva prática da igualdade de oportunidades poderá ser alcançada. Sua definição está em acordo com aquelas fei­tas por órgãos internacionais, como a (COMISSÃO DE IGUAL­DADES DE OPORTUNIDADE NO EMPREGO - EEOC), dos Estados Unidos, e as diretrizes da (UNIÃO EUROPEIA). Desta forma, ao precisar exatamente onde, como e por que as ações afirmativas podem ser implementadas, a definição do ministro Barbosa elimina as incertezas quanto ao alcance dessas po­líticas. É fundamental reparar também que em nenhum momento o ministro se vale de termos imprecisos, como minoria, excluí­dos ou grupos culturais. Ao primar pela pre­cisão conceitual, os movimentos sociais e a sociedade em geral podem avançar nas suas propostas de busca da igualdade de oportu­nidades. É importante notarmos que, de forma am­pla, as políticas afirmativas estão mais vol­tadas às políticas que dizem respeito ao en­sino superior, especialmente às cotas.

Políticas universalistas ou políticas focais.

a) Reconhece que o combate ao racismo, à discriminação racial, à xenofobia e à intolerância correlata é responsabilidade primordial dos Estados. Portanto, incentivam os Estados a desenvolverem e a elaborarem planos de ação nacionais para promoverem a diversidade, a igualdade, à equidade, a justiça social, a igual­dade de oportunidades e a participação para todos. Através, dentre outras coi­sas, de ações e de estratégias afirmativas ou positivas, estes planos devem visar à criação de condições necessárias para a participação efetiva de todos nas toma­das de decisão e ao exercício dos direitos civis, culturais, econômicos, políticos e sociais em todas as esferas da vida com base na não-discriminação.
b) Insta os Estados a estabelecerem, com base em informações estatísticas, programas nacionais, inclusive programas de ações afirmativas, ou medidas de ações positivas, para promoverem o acesso a grupos de indivíduos que são ou podem vir a ser vítimas de discriminação racial nos serviços básicos, incluindo educação fundamental, atenção primária à saúde e moradia adequada e as desigualdades de raça, gênero e outras formas correlatas de opressão repre­sentam problemas globais, ainda que obedeçam às especificidades de cada país; e as políticas universalistas não são incompatíveis com políticas focais; elas são, antes de tudo, instrumentos constitucionais complementares.

Contabilizando as boas práticas apesar da “queda de braços”

O A experiência brasileira de implementação de políticas afirmativas tem adentrado caminhos tortuosos e embates políticos e ideológicos profundos acerca do tratamento das desigualdades sociais, sobretudo aquelas focadas em gênero e raça. Esse processo tem sido caracterizado pelo avanço dos novos movimentos sociais, como estudado na primeira unidade deste curso, levando-se em conta a ferrenha “queda de braço” entre defensores/as e opositores/as dessas políticas.

Saiba mais https://caedvirtual.grude.ufmg.br/



quarta-feira, 17 de abril de 2013

Um pouco sobre o Grupo Saruê Unimontes

 Essa matéria é do ano de 2012

A Companhia de Danças Folclóricas Saruê, formada por professores, acadêmicos e egressos da Universidade Estadual de Montes Claros, será uma das atrações no X Festival Internacional de Folclore de Minas Gerais. Além das apresentações na programação oficial do evento, às 20 horas deste domingo (12/05), no ginásio do Serviço Social do Comércio (SESC), o grupo tem sido o anfitrião das oficinas temáticas de dança, produção e coreografias para as companhias visitantes do Brasil e de outros países.

As atividades estão acontecendo no Laboratório do Exercício do departamento de Educação Física, no Centro Esportivo Universitário da Unimontes, com a participação dos coordenadores e integrantes dos grupos Ballet Ucraniano Kalena (Ucrânia), Grupo Folclórico Ítalo-Brasileiro de Nova Veneza/SC, Conjunto Polinésico Ariki Rapa Nui (Chile) e do próprio Saruê.

“As oficinas nada mais são do que um trabalho de socialização dos grupos, pois eles apresentam entre si as danças que desenvolvem em seus países e regiões de origem”, explica o diretor do Grupo Saruê Unimontes, professor José Roberto Lopes de Sales. “Um aprende o costume do outro”, resumiu.

Grupos Nova Veneza e Ariki Rapa Nui
Bailarinos dos grupos Nova Veneza e Ariki Rapa Nui durante visita à Unimontes
Os bailarinos Pablo Naranko e Leslie Lopez, do grupo chileno Ariki Rapa Nui, disseram ser “muito importante esse tipo de intercâmbio”, pois os festivais servem para exibir “as tradições musicais folclóricas e a beleza da arte tanto do Chile como de outras culturas”. A companhia reproduz nos palcos os costumes dos habitantes da Ilha de Páscoa.

Para Jussara Sávio, coordenadora do grupo catarinense Ítalo-Brasileiro de Nova Veneza, é muito importante a manutenção das tradições folclóricas. No caso de sua companhia, ela resgata “as canções antigas do repertório cultural italiano ligado aos carnavais da cidade de Veneza”.

SOBRE O FESTIVAL

O X Festival Internacional do Folclore de Minas Gerais é uma promoção do grupo Banzé (Montes Claros), com o apoio do Governo de Minas (Lei Estadual de Incentivo à Cultura), Cemig, Caixa, Transnorte e Ministério da Cultura. Na programação, apresentações de grupos do Brasil, Líbano, Senegal, Paraguai, Chile, Rússia, Ucrânia e Chile, além de representantes de colônias descendentes de indianos e italianos no País, nas cidades de Januária, Montes Claros, Pirapora, Ouro Preto e Belo Horizonte até o dia 20 de maio.

Em Montes Claros, as apresentações começam nesta sexta-feira (11), às 19 horas, com desfile pelas ruas centrais, seguida de shows no Ginásio do SESC. No sábado e no domingo também haverá apresentações, no mesmo local, sempre a partir das 20 horas.

O Saruê reúne 38 integrantes, entre dançarinos, músicos e professores. No repertório montado para o X Festival de Folclore, o grupo da Unimontes levará ao palco as danças “Coco” e “Boi Bumbá de Parintins”. Neste sábado, a partir das nove horas, os grupos estarão desfilando pelas ruas centrais da cidade e a apresentação do Saruê acontecerá no domingo, às 20 horas, no Ginásio do SESC.

“A revolução das mulheres continua”


Em Túnis, mulheres de todas as partes do mundo realizaram a Assembléia das Mulheres e reafirmaram a importância da solidariedade entre os povos no enfrentamento ao machismo e patriarcado, que se expressam em diferentes contextos sociais e políticos por elas vivenciados. Com a presença de muitas mulheres tunisianas, palestinas, marroquinas, senegalenses, francesas e brasileiras, dentre muitos outros países da África, Oriente Médio, Europa, América e Ásia, a Assembléia enfatizou a luta por Estados laicos, contra as desigualdades legais, institucionais, econômicas, políticas, sociais e culturais, pela autonomia e emancipação das mulheres no mundo. “A revolução das mulheres continua, das mulheres do Marrocos, Egito, Palestina, Tunísia, de todo o mundo. É a solidariedade que nos fará construir, ao nosso modo, um outro mundo possível”, afirmaram.
Um dos destaques foi o protesto contra o governo argeliano, que impediu mulheres do País de vir ao Fórum. Para enfrentar questões como essa, houve uma reafirmação da importância da solidariedade. “Esta deve ser nossa palavra de ordem. A luta das mulheres subsaarianas é também a luta por uma consciência feminista, que nos mostra a necessidade de investir em formação e de sair para as ruas para reivindicar nossos direitos. Não podemos permanecer paradas nas lembranças que nos machucam, precisamos superá-las e lutar”, afirmou uma representante do movimento de mulheres do Senegal. Para ela, é fundamental garantir mais acesso à educação, ao trabalho e ao conhecimento. “Devemos nos colocar juntas, ter sinergia, fazer um coletivo para conquistar a liberdade, contra o patriarcalismo. Somos estupradas, submetidas à violência e aos organismos internacionais controlados pelos países do Norte, e devemos nos unir para lutar também contra a grilagem de terras”, afirmou.
O tema do acesso à terra foi amplamente abordado pela representante brasileira, que é do MST e compartilhou um pouco da luta das mulheres da América e especificamente das mulheres camponesas do Brasil. “Somos nós mulheres que garantimos a produção que alimenta a população brasileira. As mulheres do campo no Brasil têm se organizado para fazer o enfrentamento ao agronegócio, que quando chega ao campo destrói o território e a produção de alimentos. É um modelo que traz todo tipo de violência contra as mulheres, e é nesta luta que temos nos organizado”. Por isso, é fundamental “unir todas as camponesas do mundo pela libertação das mulheres”. Tunísia
A presidenta da Associação Tunisiana das Mulheres Democráticas, Ahlem Belhardi, contextualizou a luta das mulheres neste momento pós-revolucionário, destacando que a situação é complexa e é preciso frear a contra-revolução. “Estamos mobilizadas para incluir o direito das mulheres na revolução, não podemos ser apenas um instrumento da luta”. Ela também afirmou a importância da solidariedade internacional contra o sistema econômico financeiro, que “se impõe sobre nosso território. É ótimo que estejamos juntas neste Fórum”.
Outra militante tunisiana ressaltou que é preciso aprofundar as conquistas da revolução em relação aos direitos das mulheres. “A Bacia Mineira foi a fagulha que espalhou a revolução na Tunísia, e as mulheres estavam na linha de frente nessa batalha. Mas os homens instrumentalizam as mulheres. Participei da primeira manifestação de mulheres da nossa história. Ficamos sentadas protestando de maneira pacífica e fomos presas por quatro meses, enquanto alguns homens foram presos pelos mesmos motivos por três meses”. No final da Assembléia, as mulheres propuseram a criação de uma rede de apoio às tunisianas, para estabelecer instrumentos que garantam uma solidariedade efetiva.

Fonte: http://www.abong.org.br

Preconceito racial e racismo institucional no Brasil



No Brasil, os negros sofrem não só a discriminação racial devida ao preconceito racial e operada no plano privado, mas também e sobretudo o racismo institucional, que inspira as políticas estatais que lhes são dirigidas e se materializa nelas

por Márcia Pereira Leite
“Na primeira vez em que estive aqui, em 1987, fiquei chocado ao ver que na TV, em revistas, não havia negros. Melhorou um pouco. Mas há muito a fazer. Quem nunca veio ao Brasil e vê a TV brasileira via satélite vai pensar que todos os brasileiros são loiros de olhos azuis.” (Spike Lee)1
 O comentário do cineasta norte-americano Spike Lee, em recente visita ao Brasil para filmagem do documentário Go Brazil Go, no mesmo período em que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgava a constitucionalidade das cotas raciais em universidades públicas, despertou várias discussões na imprensa e nas redes sociais sobre o racismo na sociedade brasileira. Desses debates, é possível depreender quanto ainda persiste do mito de que o Brasil seria uma “democracia racial” em que, a despeito do preconceito, não haveria nem o ódio nem a segregação que caracterizaram o regime do apartheid. Nosso racismo combinaria o preconceito de cor e o preconceito de classe, diluindo-se no caso de negros educados e bem-sucedidos e implodindo no samba, no carnaval, enfim, na cultura popular brasileira.
Queremos chamar a atenção para o que ficou ausente nesse (e em outros) debate sobre o racismo no Brasil: os mecanismos de discriminação produzidos e operados pelas estruturas e instituições públicas e privadas que os reproduzem e os fortalecem. Nesta reflexão, propomos seguir o giro da ciência social, nos anos 1960, em sua análise das relações raciais: “Abandonar os esquemas interpretativos que tomam as desigualdades raciais como produtos de ações (discriminações) inspiradas por atitudes (preconceitos) individuais, para fixar-se no esquema interpretativo que ficou conhecido como racismo institucional, ou seja, na proposição de que há mecanismos de discriminação inscritos na operação do sistema social e que funcionam, até certo ponto, à revelia dos indivíduos”.2
O racismo constitui, como se sabe, um mecanismo fundamental de poder utilizado historicamente para separar e dominar classes, raças, povos e etnias. Seu desenvolvimento moderno se deu com a colonização, com o genocídio colonizador. O racismo é, como disse Foucault, “o meio de introduzir [...] um corte entre o que deve viver e o que deve morrer”. “No contínuo biológico da espécie humana, o aparecimento das raças, a distinção das raças, a hierarquia das raças, a qualificação das raças como boas e de outras, ao contrário, como inferiores, tudo isso vai ser uma maneira de fragmentar esse campo do biológico de que o poder se incumbiu; uma maneira de defasar, no interior da população, uns grupos em relação aos outros. [...] o racismo faz justamente funcionar, faz atuar essa relação de tipo guerreiro − ‘se você quer viver, é preciso que o outro morra’ − de uma maneira que é inteiramente nova e que, precisamente, é compatível com o exercício do biopoder.”3
Para o autor, “a especificidade do racismo moderno, o que faz sua especificidade, não está ligada a mentalidades, a ideologias, a mentiras do poder. Está ligada à técnica do poder, à tecnologia do poder”,4 isto é, ao biopoder enquanto um poder (estatal) de regulamentação que se exerce sobre populações e consiste em “fazer viver e deixar morrer”.
 
(Afrodescendentes protestam contra o baixo número de negros na Fashion Rio Verão 2012/2013)
Racismo institucional no Brasil
O argumento central deste artigo consiste em que, no Brasil, negros sofrem não só a discriminação racial devida ao preconceito racial e operada no plano privado, mas também e sobretudo o racismo institucional, que inspira as políticas estatais que lhes são dirigidas e se materializa nelas. Trata-se de discriminação racial praticada pelo Estado ao atuar de forma diferenciada em relação a esses segmentos populacionais, introduzindo em nossas cidades e em nossa sociedade, pela via das políticas públicas, “um corte entre o que deve viver e o que deve morrer”, a faxina étnica.
A expressão, utilizada para evidenciar as relações entre o racismo e as políticas estatais para territórios e populações negras no Brasil, não é mera retórica. Antes, sustenta que as elevadas taxas de homicídio e de “autos de resistência”5 nos territórios de maioria negra, as políticas de remoção e de despejo de sua população, os altos índices de encarceramento de negros pobres, a precariedade das políticas públicas de habitação, saúde e educação para o conjunto da população negra e o desrespeito a suas tradições culturais e religiosas não são sucessivos produtos do acaso ou do mau funcionamento do Estado,6 mas traduzem o racismo institucional que opera no Brasil bem ao largo de qualquer perspectiva de integração social e urbana desses segmentos populacionais pela via da cidadania.
Esse modo específico de gestão estatal das populações negras e de seus territórios de moradia − que “faz viver e deixa morrer”, como diz Foucault − pode ser identificado no âmbito das políticas públicas praticadas pelo Estado brasileiro. Examinemos alguns dados empíricos que expressam o sentido e o escopo de sua formulação e de sua realização.
Os negros são as maiores vítimas de homicídio. No período de 2002 a 2008, segundo dados do Mapa da violência 2011,7 o número de vítimas brancas na população brasileira diminuiu 22,3%; já entre os negros, o número de vítimas de homicídio aumentou 20,2%. Os dados são mais dramáticos quando se consideram os jovens: o número de homicídios de jovens brancos caiu, no período, 30%, enquanto o de jovens negros cresceu 13%, o que significa que a brecha de mortalidade entre brancos e negros cresceu 43%. Se considerarmos os homicídios praticados pelas forças policiais e registrados/encobertos pelos “autos de resistência”, vemos que eles também vitimam mais intensamente os negros: de 2001 a 2007, incidiram sobre esse segmento 61,7% dos homicídios praticados por agentes do Estado.8 Não se trata simplesmente de abuso policial ou de despreparo de policiais em situações de confronto. A consistência dos dados e sua persistência no período, em que pese a redução desses homicídios nos últimos anos em algumas grandes cidades brasileiras, como Rio de Janeiro e São Paulo,9 indicam uma política de extermínio de negros (jovens, sobretudo) − o “fazer morrer” − praticada pelo Estado, por meio de seus agentes, ou por ele tolerada.10
Mas, como vimos, a tecnologia do poder também “faz viver”, ainda que em distintas condições para esses diferentes segmentos populacionais, brancos e negros. É o que demonstra uma pesquisa realizada em 2003 pelo Ministério da Saúde,11 que revelou indicadores de saúde diferenciados da população brasileira segundo o critério raça/cor. Analisando seus resultados, Meireles12 destaca que 62% das mulheres brancas ouvidas realizaram sete ou mais consultas de pré-natal, enquanto somente 37% das mulheres negras passaram pelo mesmo número de consultas. Talvez por isso a hipertensão arterial durante a gravidez, uma das principais causas de morte materna, tenha sido mais frequente entre as mulheres negras. Além disso, o risco de uma criança negra morrer antes de completar 5 anos por causas infecciosas e parasitárias é 60% maior do que o risco de uma criança branca falecer pela mesma razão, enquanto o risco de morte por desnutrição é 90% maior entre crianças negras do que entre as brancas.
Já os dados do Relatório anual das desigualdades raciais no Brasil; 2009-2010demonstram que os negros representam cerca de 60% daqueles que, por motivos diversos, não conseguem atendimento no SUS, sendo os maiores percentuais os relativos às mulheres negras − o que, sem dúvida, argumenta o autor, evidencia a precariedade do dispositivo constitucional que assegura a universalidade do direito à saúde no país.
No plano da educação, todas as pesquisas apontam que, ainda que o acesso tenha crescido no país nos últimos anos, a presença dos negros no ensino médio, universitário e na pós-graduação permanece significativamente menor do que a dos brancos – diferença que se torna exponencial nos níveis superiores de formação. A razão, ressaltam, é clara: enquanto os brancos recorrem a escolas particulares (sabidamente, no Brasil, de melhor qualidade) no ensino fundamental e médio e, assim, obtêm melhor formação intelectual para ingresso nas universidades públicas, aos negros restam as escolas públicas (crescentemente sucateadas) nos níveis fundamental e médio e o caminho das universidades privadas. Mesmo com essa estratégia, também no campo da educação as desigualdades raciais são gritantes: em 2008, a probabilidade de um jovem branco, de 18 a 24 anos, frequentar uma instituição de ensino superior era 97,8% maior do que a de uma jovem negra da mesma faixa etária.13
No plano da moradia, os indicadores sociais revelam a mesma diferenciação no interior das políticas públicas, ou como o Estado “faz viver” esses contingentes populacionais. Os territórios de maioria negra nas cidades (favelas, loteamentos, bairros pobres e periferias) são carentes de equipamentos urbanos e serviços públicos de boa qualidade. O déficit habitacional brasileiro (cerca de 5,5 milhões de unidades) é fruto da ausência de uma política estatal de habitação popular, o que resultou na precariedade que caracteriza as atuais condições de moradia e vida nessas localidades.14
Além disso, em várias de nossas grandes cidades que vêm sendo reestruturadas para favorecer a especulação imobiliária e/ou sediar “grandes eventos” e assim se inserir nos fluxos internacionais de acumulação urbana, essas populações têm sido compulsoriamente removidas das localidades em que sempre viveram, criaram seus laços de vizinhança e parentesco, suas alternativas de sobrevivência (em trabalhos formais, pequenos comércios ou “virações”).15 São, então, reassentadas em locais distantes, ambientalmente precários,16 com infraestrutura urbana de má qualidade, sem redes de sociabilidade nem alternativas de trabalho; enfim, sem lugar na sociedade, sem direito à cidade.

Muito além do preconceito
Os dados analisados e as situações descritas revelam quanto as desigualdades sociais têm cor e estão profundamente enraizadas no racismo institucional que estrutura a sociedade brasileira e se materializa por meio das políticas praticadas pelo Estado, em todos os seus níveis. O que queremos sublinhar ao discuti-los é que, no Brasil, as desigualdades sociais se somam e são elevadas pelas desigualdades raciais. Mais do que isso: as desigualdades raciais estão no cerne do modo de gestão estatal dos territórios de maioria negra e desta população.
Trata-se de um novo modo de gestão estatal de territórios e de populações, que dispensa os tradicionais discursos e práticas de integração à sociedade nacional pela via da cidadania (da educação, do trabalho e dos direitos) por entender que essas populações são desnecessárias ao atual desenvolvimento do capitalismo.
Vivemos, hoje, uma mudança no eixo da atuação do Estado, cujo sentido passou a ser – simplesmente – evitar que essas populações negras, pobres e moradoras em territórios de favelas, loteamentos, bairros pobres e periferias produzam problemas para a ordem social. Suas estratégias combinam, desde então, diferentes políticas e mecanismos de controle social repressivo (até o “deixar morrer”) com políticas de mera inserção17/mínima sobrevivência (o “fazer viver”), travestidas, no plano discursivo, de integração à cidadania e à sociedade.
No primeiro caso, especialmente nas situações em que a criminalização da pobreza tem sido mais eficiente, o Estado atua promovendo ou acobertando a segregação socioespacial e as políticas de extermínio e de encarceramento, sobretudo de jovens negros. No segundo, atuando nos territórios de maioria negra, o Estado oferece a essas populações uma ilusão de integração por meio de políticas públicas que há muito abandonaram os princípios da universalidade e da justiça (são pontuais, descontinuadas; os serviços e equipamentos que criam são de má qualidade) ou patrocinando projetos sociais realizados por organizações não governamentais que seguem a mesma lógica, além de criminalizar sua clientela, entendida como “população vulnerável ao crime”. Em ambos os casos, o racismo institucional soma-se às desigualdades sociais, raciais e urbanas que historicamente estruturaram nosso país, aprofundando-as e revelando que estamos muito longe da “diluição” dessas desigualdades e da possibilidade de uma efetiva integração social e urbana dos negros pobres na sociedade brasileira.
Márcia Pereira Leite
Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Uerj, pesquisadora do CNPq, membro do Coletivo de Estudos sobre Violência e Sociabilidade (Cevis/Uerj) e integrante do Círculo Palmarino.