segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Conheça a história de alguns heróis e heroínas negras no Brasil

O silêncio existente sobre a participação do negro na história do Brasil retrata um dos aspectos perversos do racismo na sociedade brasileira. No ensino de história é negado o protagonismo negro e aprendemos erroneamente que as grandes lideranças, os grandes feitos das personalidades do país, foram protagonizados somente pelos brancos.
Como os negros estiveram em situação desigual em relação aos brancos, poucas histórias a seu respeito foram registradas. Sem contar, nos poucos casos registrados, omitiram a origem etnicorracioal ou, simplesmente mudaram a cor dos mesmos, a tal ponto, de pessoas, mesmo lendo e estudando sobre determinadas personalidades negras brasileiras de séculos passados, as imaginarem como brancas.
Isso porque a imagem de alguns foram veiculadas como brancos, como o caso, de Machado de Assis e Aleijadinho.
Conheçam agora algumas personalidades negras que se destacaram, influenciando na história brasileira, mesmo vivendo em situações de extrema adversidade.
Francisco José do Nascimento
Estátua de Francisco José do Nascimento, O “Dragão Do Mar”, homenagem ao herói abolicionista cearense
O Dragão do Mar. Francisco José do Nascimento recebeu esse apelido em decorrência de sua luta contra a embarcação de escravizados, realizada pelos escravocratas do Ceará que estavam vendendo os cativos para os fazendeiros da região Sudeste. Com isso, pretendiam atenuar os prejuízos devido a uma grande estiagem e à epidemia do cólera que ocorria no período de 1877 e 1879.
Francisco era presidente da Sociedade Cearense Libertadora. que se opunha ao escravismo no Ceará. Conhecedor do mar, pois era filho de pescador e, ainda garoto, prestava serviço ao navio Tubarão, fazendo entregas de recados, tornou-se mais tarde, prático-mor da barra do Porto de Fortaleza. Diante da situação que se instalou, organizou os jangadeiros, bloqueando o porto.
Uma das importantes ações que exemplificam a luta abolicionista no Ceará, que fizeram com o estado fosse o primeiro a abolir a escravidão, no ano de 1884. Francisco nasceu em 1839, vindo a falecer em 1914.
Dandara
Dandara foi uma grande guerreira na luta pela liberdade do povo negro. Ainda no século XVII, participou das lutas palmarinas, conquistando um espaço de liderança. De forma intransigente, entendia que a liberdade era inegociável. enfrentando todas as batalhas que sucederam em Palmares. Era a companheira de Zumbi dos Palmares. Opôs-se, juntamente com ele, a proposta da Coroa Portuguesa em condicionar e limitar reivindicações dos palmarinos em troca de liberdade controlada.

Dandara morreu em 1694 na frente de batalha, para defender o Quilombo dos Macacos, mocambo pertencente ao Quilombo dos Palmares.
Luíza Mahin
Luíza Mahin, foi uma protagonista importante na Revolta dos Malês. Conforme alguns estudiosos, se essa revolta vingasse, Luísa seria a rainha da Bahia. Construindo um reinado em terras brasileiras, já que fora princesa na África, na tribo Mahi, integrante da nação nagô. Foi alforriada em 1812.
Ela também participou da Sabinada entre 1837-1838. Perseguida, acabou fugindo para o Rio de Janeiro. Não se sabe ao certo, mas imagina-se que essa importante mulher tenha sido extraditada juntamente com seus companheiros muçulmanos africanos que encabeçaram a Revolta dos Malês.
Carolina Maria de Jesus
Nasceu em Sacramento, no interior de Minas Gerais, no ano de 1914.
Sendo de uma família extremamente pobre, trabalhou desde muito cedo para auxiliar no sustento da casa. Com isso, acabou não frequentando a escola, além de dois anos. Mudou-se para São Paulo, indo morar na favela, para sustentar a si e seus filhos, tornou-se catadora de papel. Guardava alguns desses papéis, para registrar seu cotidiano na favela, denunciando a realidade excludente em que viviam os negros. Em 1960, foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas, que conheceu seus escritos. Assim, ela escreveu o livro Quarto de Desejos, que vendeu mais de 100 mil exemplares.
Na imagem vemos Carolina Maria de Jesus ao lado da também escritora, Clarice Lispector.
Tornou-se uma escritora reconhecida, particularmente fora do país, sendo incluída na antologia de escritoras negras, publicada em 1980 pela Randon House, em Nova York.
André Rebouças
Rebouças, além de ter sido um dos mais importantes militantes do movimento abolicionista no Brasil, foi uma das maiores autoridades no país em engenharia hidráulica e ferroviária. Nasceu em 1838, filho de Antonio Rebouças, advogado, parlamentar e conselheiro do Império. Estudou nas melhores escolas do Rio de Janeiro, completando seus estudos na Europa, onde se especializou em fundações e obras portuárias. Participou na Guerra do Paraguai (1865-1870), como engenheiro.
Foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira contra a Escravidão. André Rebouças, também era geólogo, matemático, biólogo, astrônomo, higienista e filantropo. Morreu em 1898.
Cruz e Souza
João Cruz e Souza foi um grande personagem na luta abolicionista no país. Filho de pais forros, nasceu no dia 24 de novembro de 1861 em Florianópolis, era poeta e jornalista.
Defensor da abolição, utilizou seu talento como orador e poeta para denunciar o escravismo e a hipocrisia brasileira frente a escravidão. Suas obras consagradas, o tornaram um dos maiores expoentes do simbolismo brasileiro. Dentre seus escritos, destacam-se os livros Missal e Broquéis. Chegou a ser funcionário nomeado da Central de Ferro do Brasil. Morreu em 1898 de tuberculose.
Aqualtune
Aqualtune era uma princesa do Reino do Congo, foi trazida escravizada para o Brasil, logo que foi derrotada em guerra no interior do reinado. Quando desembarcada no Brasil em Recife, foi vendida e levada para o sul de Pernambuco. Não demorou a integrar os movimentos de fugas que explodiam no regime escravista, tornando-se uma liderança importante para os quilombos de Palmares.
Segundo o que aponta alguns estudos, Aqualtune era avó de Zumbi dos Palmares. Morreu queimada, quando já era idosa.
Mãe Menininha do Gantois
Mãe Menininha do Gantois nasceu em 10 de janeiro de 1864. Era neta de escravizados da tribo Kekeré, da Nigéria. Foi iniciada no candomblé, ainda criança, no terreiro fundado pela sua bisavó. Aos 28 anos de idade, como filha de Oxum, assumiu o cargo de maior hierarquia na religião. Conseguiu estabelecer interlocuções como várias personalidades, buscando o respeito da sociedade para a religião, muito perseguida pelo poder político.
Devido aos seus poderes espirituais e sua capacidade de agregar as pessoas, conquistou o respeito até mesmo de outras religiões. Tornou-se a mais respeitável mãe de santo da Bahia, onde até hoje funciona o terreiro do Gantois, fundado em 1849, por sua bisavó. Sempre divulgava o candomblé, explicando sobre a importância do mesmo. Sua vida religiosa foi marcada pela fé e bondade. De grande carisma, Mãe Menininha do Gantois tinha respeito de personalidades importantes, dentre as quais, Dorival Caymmi, Caetano Veloso, Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
Faleceu aos 92 anos, em 1986 na cidade de Salvador.
Tereza de Benguela
Tereza de Benguela foi uma liderança quilombola que viveu no século XVIII. Mulher de José Piolho, que chefiava o Quilombo do Piolho ou Quariterê, nos arredores de Vila Bela da Santíssima Trindade, Mato Grosso. Quando seu marido morreu, Tereza assumiu o comando daquela comunidade quilombola, revelando-se uma líder ainda mais implacável e obstinada. Valente e guerreira ela comandou o Quilombo do Quariterê, este cresceu tanto sob seu comando que chegou a agregar índios bolivianos e brasileiros. Isso incomodou muito as autoridades das Coroas, espanhola e portuguesa. A Coroa Portuguesa, junto à elite local agiu rápido e enviou uma bandeira de alto poder de fogo para eliminar os quilombolas. Tereza de Benguela foi presa. Não se submetendo a situação de escravizada, suicidou-se.
Carro alegórico na Marquês de Sapucaí com a representação de Tereza de Benguela, a rainha do Quilombo do Piolho ou Quariterê
Em diversas situações, a história dos heróis negros e heroínas negras estão imbricadas à luta geral da população negra em contraposição ao escravismo e/ou outras várias formas de racismo presentes na sociedade brasileira. Mas é importante salientar que muitas dessas personagens continuam anônimas na história brasileira.

fonte: SANTOS, Ângela Maria dos & SILVA, João Bosco da(orgs.). História e Cultura Negra: Quilombos em Mato Grosso. Cuiabá: Gráfica Print Indústria e Editora ltda/SEDUC, 2009. pp. 32-4.
Do Blog Mestres da História


segunda-feira, 10 de agosto de 2015

A desigualdade social em nosso país tem cor!

No sentido de procurar esclarecer a tremenda desigualdade social em nosso país com relação a questão racial, colocamos alguns dados que desmistificam a falsa ideia da “democracia racial” no nosso país, como por exemplo: o rendimento médio dos homens não negro no Brasil 
é quase duas vezes e meia maior que o de homens negros e quase quatro vezes mais que as mulheres negras, segundo dados do IBGE, a partir de informações do PNAD .

A convivência entre estes atores se desenvolvia em um drama diário, acompanhado e testemunhado por muitos outros atores que, assim como eles, lutavam “pelo pão de cada dia”. Logo, cumpre-me apresentar a forma ritual como essa convivência complementar se viabilizava e, por fim, apontar para possibilidades de interpretação para duas categorias chaves inerentes àquele “processo ritual”: o derrame e o esculacho.

Nos chama a atenção nesses relatos o tom de absoluta naturalidade como foram veiculadas as histórias. Todavia, a liminaridade entre legalidade e ilegalidade em que viviam esses indivíduos não me podia passar despercebido. Nessa mesma direção, não  surgir como uma personagem envolvida nos conflito Adílio Cabral dos Santos. Geralmente como empreendedor de violência contra o personagem que e um dos raros caros que a Vitima trabalhador , negro...

"SUPERVIA ADMITE QUE AUTORIZOU TREM A PASSAR SOBRE CORPO DE HOMEM NO RIO"
Um trem passou por cima do corpo de um homem que havia sido atropelado por outro coletivo e estava estendido nos trilhos. Imagens mostram o momento em que o condutor, auxiliado por pelo menos outros dois funcionários que estão ao lado dos trilhos, passa pelo corpo na estação de Madureira, Zona Norte do Rio de Janeiro, na última terça-feira (28).
Há outras pessoas próximas aos trilhos, e os funcionários da empresa SuperVia, 
concessionária que administra o sistema, acenam para que o maquinista avance sobre o corpo. No dia do acidente, a empresa disse em nota que por volta das 17 horas agentes acionaram os Bombeiros para atender um homem que acessou a via irregularmente e foi atingido por um trem. A vítima é Adílio Cabral dos Santos, que havia pulado o muro e invadido o local dos trilhos. 

Vídeo mostra momento em que trem passa por cima do corpo de homem que já havia sido atropelado Segundo os Bombeiros, não foi feito chamado em relação à ocorrência, e que houve apenas um aviso, por volta das 19h15, para atender uma ocorrência de trauma não relacionada à morte, e que apenas durante o atendimento a equipe foi informada por funcionários de que havia um corpo na linha férrea. 
A Polícia Civil e a Agetransp, agência reguladora que fiscaliza os transportes no Rio de Janeiro, abriram investigação para apurar as responsabilidades. O episódio provocou a revolta do secretário estadual de Transporte, Carlos Roberto Osorio ( Será?...). Ele qualificou o caso como desumano e disse que a apuração vai verificar quem deu o comando e o motivo para que o trem passasse por cima do corpo. 

"Um absurdo, inaceitável. O centro de controle tem a visão de tudo que acontece no sistema, de que trem em cada trilho, e é ele que dá o comando ao maquinista. Se aquele trem estava irregularmente naquele trilho, alguma falha aconteceu e nós precisamos entender quem deu a autorização para que o trem prosseguisse, mesmo com o corpo na pista "


A exposição à violência e a tênue linha entre legalidade e ilegalidade Durante parte de minhas
viagens das percepções dos indivíduos acerca das instituições sociais, particularmente aquelas responsáveis pela segurança pública. Os discursos expressavam que a convivência com a violência...

“Se eles vem, eu não vou. Se eles estão num canto eu tô no outro. E assim vou passando o dia e levando pra casa o leite dos meninos” (Camelô falando de seu cotidiano nos trens)


"A respeito do Concurso de crimes tais como, Violação e profanação do código penal brasileiro (art.210)"

Concluindo:

Costuma-se dizer, no Brasil, que “Deus ajuda a quem cedo madruga”. A expressão busca inferir legitimidade social a quem trabalha. Toda uma rede social estaria disponível para o ator social que vive do trabalho. Geralmente, a crença neste adágio, talvez em função de processos políticos endógenos, associa legitimidade a direitos sociais que deveriam ser providos pelo Estado. Todavia, nem todos que acordam cedo são considerados oficialmente trabalhadores. Logo, o Estado por aqui não lhe confere direito social algum e, pior, pode não 
lhe reconhecer direitos civis. Conseqüentemente, há situações em que o arbítrio e a violência de indivíduos que se apropriam da representação estatal comprometem a expectativa dessa legitimidade.

Um afro abraço.



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Postado por UNEGRO/Rio de Janeiro no UNEGRO- RIO DE JANEIRO em 7/31/2015 10:18:00 AM

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Origens das Favelas

Claudia Vitalino.
UNEGRO/RJ



Origens das Favelas

De maneira geral, as favelas surgiram pela necessidade de sobrevivência de uma população carente de recursos. Sem alternativa, os cidadãos foram construindo casas em terrenos não povoados. As comunidades cresceram com grande rapidez ao longo dos anos, graças, em parte, ao descaso do poder público.
A formação de favelas no Rio está ligada ao término do período escravocrata, no final do século XIX. Sem posse de terras e sem opções de trabalho no campo muitos dos escravos libertos deslocaram-se para o Rio de Janeiro, então capital federal. O grande contingente de famílias em busca de moradia e emprego provocou a ocupação informal em locais desvalorizados, de difícil acesso e sem infraestrutura urbana.
Com a Proclamação da República, em 1889, a elite e os administradores do Rio queriam apagar do seu passado os vestígios de uma cidade colonial. Cortiços sem condições sanitárias e povoados por ex-escravos foram demolidos na reforma de Pereira Passos. Sem ter outras opções de moradia os desabrigados foram obrigados a construir suas próprias casas. Começou então a ocupação dos morros centrais da Providência e de Santo Antônio, em 1893, seguida pelo Morro dos Telégrafos eMangueira, em 1900.

Com o passar dos anos, a modernização das zonas nobres da cidade continuou. As pequenas ruas e os casarões deram lugar a longas avenidas e construções arrojadas. Muitas casas foram demolidas, diminuindo a oferta de moradia e elevando o preço dos aluguéis. O fenômeno provocou o aumento da formação de favelas, para atender a população mais carente. 
Com uma rapidez incrível, as favelas foram se desenvolvendo em toda a zona sul, perto dos comércios e ao lado das regiões escolhidas para abrigar a nobreza e a elite. O Morro da Babilônia, entre a Praia Vermelha e a Praia do Leme, começou a ser ocupado em 1907. Dois anos depois apareceram favelas no Morro do Salgueiro, na Tijuca e na Mangueira. Em 1912, as comunidades já estavam instaladas em Copacabana e, logo depois, ocupavam também o Morro dos Cabritos, entre aLagoa e Copacabana, e o Morro Pasmado, em Botafogo.
Essa propagação das favelas nos bairros mais ricos parecia a única saída possível para a população pobre que precisava morar perto do local de trabalho. Num tempo em que apenas trens e bondes precários chegavam até as periferias da cidade, os nobres não queriam esperar por horas e horas seus empregados. Os morros eram uma solução cômoda também para elite. A alguns metros das mansões e jardins de Botafogo surgiram anos depois os primeiros barracos do Morro Santa Marta.

No entanto, desde o início do século XX as favelas foram vistas como um problema. Os morros provocavam medo e curiosidade, o que gerava desconhecimento sobre a situação. Em 1927, o arquiteto francês Alfred Agache apresentou um plano de urbanização e embelezamento para o Rio, em que propunha a transferência dos moradores das favelas por motivos sociais, estéticos e hierárquicos. Somente alguns projetos de Agache foram levados adiante, mas a ideia de que as comunidades precisavam ser eliminadas permaneceu.

Por volta de 1930, surgiram os primeiros loteamentos na zona oeste, como opção de moradia para a população de baixa renda. Em 1937, foi proibida a construção de novas favelas ou mesmo a melhoria das que já existiam. A lei vigorou até a década de 70.
Muitas favelas foram removidas neste período. Alguns moradores foram alojados em conjuntos habitacionais com uma estrutura precária, construídos em locais distantes do comércio da cidade. Esta constante locomoção e descaso com a população carente fez com que os cidadãos começassem a se organizar em associações para reivindicar seus direitos.
A Fundação Leão XII conseguiu implantar redes de água e luz em algumas favelas. A união entre a Igreja e o poder público deu origem à organização Cruzada São Sebastião, que também conseguiu melhorias com projetos de luz, água, esgoto e urbanização. Além disso, construiu um conjunto habitacional no Leblon conhecido como Cruzada, destinado aos moradores que residiam nas favelas removidas.

Até 1965, 30 mil pessoas haviam sido retiradas das favelas. O ápice da política de remoção ocorreu entre 1968 e 1975, quando 176 mil pessoas foram levadas para 35 mil unidades habitacionais. Muitas comunidades acabaram incendiadas e seus líderes desapareceram.
Houve casos dramáticos, como o da favela da Catacumba, que chegou a ter uma população superior a dez mil pessoas nos anos 60, mas foi removida em 1970. Por causa de sua localização, com vista privilegiada da Lagoa Rodrigo de Freitas, a comunidade sofreu especulação imobiliária e deu lugar a prédios de luxo. Pelo mesmo motivo foram extintas nos anos 60 as favelas da Praia do Pinto, de Macedo Sobrinho e da Ilha das Dragas, todas na região da Lagoa.
Em 1972 20% das favelas do Rio de Janeiro haviam sido eliminadas, o que não impediu que outras continuassem crescendo. Em 1974 o governo suspendeu o plano de erradicação, mas nenhuma outra política foi adotada, e as comunidades ficaram sujeitas ao abandono. Com o tempo, as moradias ganharam novas formas. Os barracos frágeis foram substituídos por construções feitas de tijolos e telhas. Desenvolveu-se, então, um mercado imobiliário dentro das favelas, com locais mais e menos valorizados, dependo dos serviços oferecidos.
Os governantes e administradores começaram a perceber que as velhas propostas de erradicação das favelas, com deslocamento e reassentamento dos cidadãos em áreas 
distantes, não eram mais a solução. Tais projetos demandavam um altíssimo custo financeiro e, além disso, rompiam relações sociais e econômicas dos moradores.

Em 1993 surgiu o Grupo Executivo de Assentamento Popular (GEAP). A entidade estabeleceu as bases para uma política habitacional, reconhecendo que o morar urbano é direito do cidadão, que a moradia não é apenas casa, mas integração à cidade, cabendo à coletividade prover a estrutura habitacional necessária, com serviços públicos, transporte, educação, saúde, cultura e lazer.

Neste mesmo ano, foi lançado um ambicioso projeto da Prefeitura de Rio em parceria com empresas privadas, o Favela-Bairro. Com o objetivo de integrar as favelas aos bairros, desenvolveu diversas reformas em mais de 150 comunidades. Urbanizou algumas áreas, criou vias de acesso, realizou obras de saneamento básico. Foi um dos primeiros projetos a se integrar com a população para saber as reais necessidades dos moradores. Durante o sucesso do programa, outras muitas favelas surgiram, o que gerou também algumas críticas.

Hoje o Rio de Janeiro tem quase mil favelas, e várias ações estão em andamento para melhorar a infraestrutura e o ambiente das comunidades. Projetos do governo, de empresas e de uma infinidade de ONGs. As favelas não são, nem de perto, o que eram na sua origem. Elas se desenvolveram, ganharam ofertas de comércio e serviços. O poder público finalmente começou a se envolver com seus problemas.

Todo o trabalho ainda não é suficiente. As carências da população ainda são enormes. As favelas não param de surgir e crescer, o que nos leva a pensar em ações preventivas que precisam ser realizadas. Não há dúvidas de que as obras de urbanização foram de extrema importância. Foram elas que possibilitaram a chegada de serviços como a coleta de lixo, os correios e o fornecimento de energia, entre outros. São estas obras que ainda hoje criam espaços públicos dentro das comunidades, criam condições de convivência e segurança com a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), por exemplo.
A atuação das Forças Armadas é um capítulo à parte nos impasses das UPPs. Pela Constituição, os militares federais não poderiam atuar em policiamento de rotina. Para atender ao pleito de Pezão, o Ministério da Defesa criou, há oito meses, a Diretriz Ministerial número 09, com o objetivo de dar amparo legal à intervenção. “Não se pode dizer que a atuação do Exército seja ilegal, pois foram criadas leis. Mas é inconstitucional”, aponta o advogado João Tancredo, presidente do Instituto Defensores de Direitos Humanos.

O malabarismo jurídico não garantiu à comunidade a paz esperada. São requentes os confrontos entre traficantes da Maré e soldados do Exército. Segundo informações da “Força
de Pacificação”, em mais de sete meses foram presos 390 suspeitos, além de 150 menores, e realizadas 241 preensões de drogas. A truculência continua a ser uma das reclamações dos moradores. 

Se liga:Inúmeros relatos e várias manifestações populares em favelas de UPP afirmam a presença de policiais corruptos, autoritários, torturadores e matadores, que só fazem aumentar o genocídio da juventude negra dentro das favelas de UPP. Vemos que a instituição Estado, no Rio de Janeiro, funciona sob as bases na- quilo que Foucault (1993) chama de biopoder; logo, sua função homicida é assegurada pelo racismo, que busca definir a legitimidade de tais ações. O racismo inscrito no Estado tem importância vital na gestão dos territórios e das populações, pois representa a condição com a qual a polícia pode exercer o direito de matar, humilhar e amedrontar, segundo a linguagem foucaultiana... 

 O Exército informa que nenhum desvio de conduta de seus soldados foi comprovado.Todas essas ações iniciadas no passado nos dão agora condições de encontrar a raiz dos problemas dessa população. Está na hora de dar condições para que essa população cresça, para que consiga alcançar o mercado de trabalho e se desenvolver dentro dele. Está na hora de ensinar a sociedade que estes moradores de favelas fazem parte da cidade, que a cidade não vive sem eles e que eles podem e devem crescer e melhorar suas vidas. Temos que unir esforços e unir públicos para melhorar a qualidade de vida dessa população que faz a cidade girar...