Resenha critica sobre o mito da preguiça.
Hilário Bispo
A cigarra e a formiga
Podemos começar falando do mito da preguiça usando o ditado popular que
compara a cigarra e a formiga, começo também fazendo uma comparação com os
baianos e os outros brasileiros, se olharmos do ponto de vista que o estado da
Bahia a população na sua maioria são de pretos e pardos vamos comprovar que o
Brasil é um povo racista, machista é homofóbico, os baianos = a cigarra, os
paulistas = formiga.
A formiga é organizada
trabalhadeira é pensa no futuro e a cigarra é uma farrista só quer divertir não
pensa no futuro e é preguiçosa, pois só fica cantando; citamos como referência
uma pesquisa feita em cima dos baianos, o estudo é pontilhado por entrevistas
com personagens da Bahia, como João Jorge, diretor do grupo Olodum, Vovô,
diretor do Ilê-Ayê, Comprovamos o pensamento preconceituoso há pouco mais de 4
meses durante um show, o mineiro Rogério Flausino, cantor
da banda Jota Quest, disse que “baiano não trabalha”. Não faz muito tempo que a
baiana Gal Costa publicou no Twitter: “como na Bahia as pessoas são
preguiçosas”. Eles dois reproduziram o mito da preguiça, mesmo que em situações
diferentes, Rogério brincava com o público de Salvador e Gal reclamava de um
serviço não prestado, mas, de qualquer forma, ofenderam o povo da Bahia.
Só que a ideia da preguiça vem de muito antes das
redes sociais e dos programas humorísticos da televisão. Foi romanceada por
Jorge Amado, cantada por Dorival Caymmi e vendida pela indústria do turismo: “quer
descansar”? Vem para a Bahia, estado da alegria, onde a festa nunca termina,
essa afirmação reforça o pensamento que os cariocas adoram carnaval o baiano
sobra e água fresca os paulistas,um povo trabalhador, os mineiros povo sem identidade,
os nordestinos como povo burro e os sulistas preconceituosos pois pensam como
estrangeiros.
A antropóloga Elisete Zanlorenzi foi investigar a
questão, desvendou a origem do mito e foi até notícia. Leia o que publicou o
jornal Folha de São Paulo, em 2005:
Segundo a pesquisadora, a caracterização do baiano
como preguiçoso começa com as grandes migrações de nordestinos, genericamente
chamados de “baianos”, para o sul do País. Os recém chegados, ainda sem emprego,
alojavam-se em cortiços ou favelas. “Estas condições contribuíram para que o
termo baiano fosse associado a outros como sujo, desorganizado, não produtivo
e, finalmente, preguiçoso”, explica Elisete.
Um outro aspecto interessante que contribuiu com a
associação da Bahia à preguiça está ligado ao discurso de baianos famosos como
Dorival Caymmi, Caetano Veloso, Gal Costa, e Maria Bethânia. “Eles chegavam no eixo Rio
são Paulo afirmando serem preguiçosos. Era como dizer: eu não sou daqui”,
analisa a pesquisadora.
Em sua
tese, Elisete menciona outros quatro motivos para a formação do mito da
preguiça baiana: a industrialização tardia de Salvador, a indústria do turismo,
que mostra somente o aspecto divertido da festa, o discurso da imprensa, que
transmite apenas o lado trágico das migrações, e a indústria da seca, que
forjou uma imagem do nordeste ligada à incapacidade profissional para
justificar a necessidade de investimentos na região.
A preguiça foi construída historicamente e reforçado pela
mídia, que reproduz os interesses da elite. Desde o século XVI, a elite local
depreciava os negros escravos, descritos como desorganizados e sujos, depois
como analfabetos e sem conhecimento, e, finalmente, como preguiçosos. A famosa
Ladeira da Preguiça, em Salvador, ganhou este nome por ter sido a via de acesso
de mercadorias vindas do porto para a cidade, levadas em carretões puxados a
boi e empurrados por escravos.
Essa
foi uma forma de interiorização da dominação, no período da escravidão. Depois,
a depreciação assumiu a forma da exclusão. O mesmo aconteceu com negros, índios
e imigrantes nordestinos, nas regiões Sul e Sudeste, quando, a partir da década
de 1950, intensificou-se a imigração. A imagem de preguiçoso espalhou-se.
Chamados genericamente de "baianos", os imigrantes eram, em sua
maioria, mestiços, afrodescendentes, oriundos de fazendas afetadas pela seca e
sem qualificação profissional. O nordestino foi responsabilizado por todo o
caos urbano sem, ao mesmo tempo, ser lembrado em nenhum projeto de inclusão
social.
"Depreciar era uma forma de justificar baixos salários
e falta de investimento", esclarece Elisete. O sociólogo Octavio Ianni
(1925-2004), um dos examinadores da banca de doutorado da antropóloga, destacou
que a tese mostrava a forma sutil de racismo a negros e nordestinos.
"Quando se folcloriza, o discurso se desloca da realidade e ganha vida
própria, criando uma força até maior em relação ao discurso inicial",
explica Elisete, professora da Faculdade de Ciências Sociais da PUC-Campinas.
Na literatura, Mário de Andrade personificou tudo isso em Macunaíma. Chico Buarque
enxergou os mesmos traços no malandro carioca, avesso ao trabalho. Lima lembra
ainda de João Ubaldo Ribeiro, em Viva
o povo brasileiro, que também fala do nosso perfil preguiçoso. Ariano
Suassuna criou personagens avessos ao trabalho em O auto da compadecida.
"Esse mito é muito forte, sob o qual vivemos à sombra. É o discurso do
colonizador.
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