segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

os 100 mais influentes brasileiros do ano.2010

Fonte:Portal Correio Nagô
]
A edição de 13 dezembro de 2010 da Revista Época trouxe como manchete uma análise sobre os 100 mais influentes brasileiros do ano. Com cinco opções de capa, a revista dá ao leitor a opção de comprar a versão com a presidente Dilma Rousseff; a do cineasta José Padilha, diretor dos filmes Tropa de Elite 1 e 2; com o empresário Eike Batista, considerado a 8ª pessoa mais rica do mundo e finalmente a capa com o jogador santista Neymar Júnior. Mas, o que de fato chama a atenção não é o recurso publicitário acima mencionado, e sim o fato de que praticamente não há negros nessa edição especial.


Com exceção da ex-ministra Marina Silva, fenômeno das últimas eleições presidenciais, e do jogador Neymar, que ocupa a tradicional parcela de negros no campo das celebridades futebolística, todos os outros 98 escolhidos pela equipe da revista são brancos. Como disse certa vez, em entrevista, o ator negro Milton Gonçalves, “nós não estamos na fotografia do poder”.




Pela lógica da revista , a população negra brasileira deve, portanto, contentar-se em ler histórias de sucesso de seus patrícios não-negros e ícones do Brasil que “deu certo”, como a de Eduardo Saverin, bilionário, co-fundador do Facebook, de apenas 28 anos; David Neeleman, que colocou a companhia Azul em terceiro lugar no mercado de aviação brasileiro; de Alexandre Behring, que comprou ações da empresa americana Burger King - reforçando a nova imagem do capitalismo brasileiro no mercado Global - além de tantos outros “euro-ascendentes” que contribuíram para o desenvolvimento do Brasil em 2010. Até na música, tradicional reduto negro na mídia, sobrou para Margareth Menezes e Carlinhos Brown apenas fazerem comentários elogiosos sobre Ivete Sangalo e a roqueira Pitty, respectivamente.



Como se vê, se tomarmos apenas essa reportagem como referencial, conclui-se que o Brasil termina a última década de século XX como se estivesse ainda no século XIX: sem negros nos espaços de poder, apesar da retórica conservadora de que somos uma democracia racial.



O mais curioso é que, ao que parece, de fato, não houve “grandes erros” de apuração dos jornalistas de Época, pois, de fato, nossa influência objetiva nas decisões políticas e econômicas do Brasil é quase nula. Quer uma prova, é só olhar para o ministério da nova presidente Dilma Rousseff.




Entretanto, há graves omissões que precisam ser ditas na reportagem, como a do cineasta Jefferson De, ganhador do 38º Festival de Cinema de Gramado com o filme Bróder, ou a professora Nilma Lino Gomes, conselheira nacional de educação e que deu um parecer contrário a publicação do livro Caçadas de Pedrinho do escritor Monteiro Lobato, acusado de racista, gerando um grande debate nacional sobre o racismo no ambiente escolar.



Ou seja, uma melhor apuração jornalística dentro da comunidade negra certamente podem apresentar outros nomes negros de destaque em matérias como essa. Apesar disso, de fato, a reportagem em questão é, literalmente, a fotografia da desigualdade racial brasileira nos campos da política, mídia e economia; Senão, vejamos.

Segundo o pesquisador Reinaldo Bulgarelli, que atuou na recente pesquisa do Instituto Ethos de Responsabilidade Social denominada "Perfil Social, Racial e de Gênero nas 500 maiores empresas do Brasil", se continuarmos nesse ritmo de inclusão social, na melhor das hipóteses, demoraremos 150 anos para que homens negros atinjam a mesma posição dos brancos no mercado corporativo. No caso das mulheres negras, essas demorariam muito mais - a pesquisa revelou que hoje elas são apenas 0,5% do topo da pirâmide empresarial do país.




Se os números da desigualdade assustam, não há conforto ao olharmos para ações de combate a discriminação racial nas empresas: 72% das companhias entrevistadas não adotam nenhum tipo de ação afirmativa, seja na contratação de funcionários ou nos planos de carreira.




Na África do Sul, símbolo do racismo mundial, uma das principais políticas do pós-aparthied foi a criação do programa Black Economic Empowerment (Empoderamento Econômico dos Negros), que, dentre outras coisas, dá vantagens em licitações públicas para empresas de propriedade ou gerenciadas por negros - o que no caso sulafricano inclui pretos, coloured (pardos) e indianos. Apesar das críticas, o programa tem criado, dentro dos limites do capitalismo, uma classe média negra minimamente capaz de influenciar importantes decisões da nação. Por aqui, setores conservadores da sociedade ainda discutem a legitimidade das cotas raciais nas universidades.




O Brasil, como se sabe, pretende se tornar, até 2025, a quinta maior economia global, ultrapassando a Alemanha, e finalmente atuar como um player de primeiro escalão no cenário internacional. Porém, para que isso realmente ocorra, serão necessárias mais do que ações para incrementar o Produto Interno Bruto (PIB). É preciso conter o sangramento demográfico de jovens - que já começam a fazer falta na economia - e investir em educação de qualidade. Segundo pesquisa do Observatório de Favelas, Secretaria Nacional de Direitos Humanos e UNICEF, cerca de 33 mil jovens devem ser mortos no Brasil até 2013.




Na cerimônia de sanção do Estatuto da Igualdade Racial, o então presidente Lula disse que a dívida que o Brasil tem com negros "não pode ser paga em dinheiro, mas com solidariedade". Porém, o documento que possui 65 artigos ainda é tímido para enfrentar desigualdades tão latentes e não inclui marcos legais efetivos para mudança do status quo racista.


Em compensação, o que observamos no teatro de horrores das grandes metrópoles brasileiras é a punição severa de jovens negros com menos de 25 anos, vitimados ora pela guerra do tráfico de drogas ou pela ação genocida de grupos de extermínio - tudo isso sob a leniência governamental e com o álibi do chamado "auto de resistência" por parte das policias. Pelo visto, não há dúvidas sobre a opção feita pelo Estado Brasileiro, em vez de educar e unir, prefere segregar e punir. Essa é, portanto, a fotografia triste da nossa realidade.




Paulo Rogério Nunes
diretor-executivo do Instituto Mídia Étnica e co-editor do Portal Correio Nagô.

Grupo de pesquisa da Unimontes analisa acesso de quilombolas à saúde primária

Grupo de pesquisa da Unimontes analisa acesso de quilombolas à saúde primária


A comunidade de Buriti do Meio, na zona rural de São Francisco, no Norte de Minas, recebe neste mês um grupo de acadêmicos do curso de Medicina da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) para a sequência dos trabalhos da pesquisa sobre o atendimento em saúde primária para a população quilombola da região. A visita teve início no sábado (8), com previsão de retorno a Montes Claros no próximo dia 12.

Ao lado de professores e profissionais das áreas de Antropologia, Medicina, Enfermagem e Odontologia, os universitários fazem parte do grupo de pesquisa em “Atenção Primária e Saúde Materno-Infantil em Comunidades Quilombolas no Norte de Minas”. De caráter voluntário, o trabalho tem como objetivo analisar as condições de saúde da população, assim como o funcionamento da assistência oferecida pelas equipes do Programa em Saúde da Família (PSF).

“Em resumo, o trabalho pretende certificar se o serviço de saúde chega às comunidades quilombolas dentro das diretrizes sugeridas pelo Ministério da Saúde”, explica o professor Amaro Sérgio Marques, um dos coordenadores do grupo, juntamente com os professores Antônio Prates Caldeira, também coordenador do doutorado em Ciências da Saúde, e Daniel Antunes, além da enfermeira Cláudia Danyella Alves Leão.

Institucionalizada pela Unimontes, com o apoio do Hospital Universitário Clemente de Faria e do departamento de Saúde da Mulher e da Criança, a pesquisa teve início há um ano e esta será a segunda visita do grupo a Buriti do Meio. Em 2010, os oito acadêmicos de Medicina conheceram o local, assim como a comunidade de Bom Jardim da Prata, também quilombola, ambas a 40 quilômetros da sede urbana de São Francisco.

No primeiro contato, os pesquisadores puderam saber mais sobre os meios de vida da população de cerca de 600 pessoas, sendo quase um terço somente de crianças de até 10 anos, além de um número considerável de idosos. “As pessoas vivem basicamente da agricultura de subsistência e do artesanato local, uma das heranças da cultura negra”, acrescentou Amaro Marques. Ele lembra alguns problemas comuns à maioria das localidades rurais brasileiras como a falta de uma coleta de lixo adequada e de água tratada e encanada, serviços sanitários e acesso precário.

Etapas

Neste mês, serão aplicados questionários dirigidos junto aos moradores para que sejam apurados os reais indicadores sobre a saúde das mulheres e das crianças de Buriti do Meio.

Acadêmico do terceiro período de Medicina, Mateus Costa Lima é um dos voluntários na pesquisa e atesta a importância do trabalho diante da possibilidade de fusão dos temas sociais ligados à sua área de graduação. “Desde o primeiro período tenho interesse pela iniciação científica, principalmente em um projeto de cunho social, que reforça a proposta que a Unimontes defende para a humanização da Medicina”, analisou o estudante.

Para ele, que está conhecendo de perto uma realidade bastante diferente à de um grande centro como Montes Claros, a etapa de entrevistas dos moradores refletirá diretamente na academia, seja na compreensão das práticas do próprio curso, na organização de eventos científicos ou mesmo no entendimento das metodologias de uma pesquisa de saúde, mas com propósito social.

Mestre em Ciências da Saúde pela Unimontes, a enfermeira Cláudia Danyella Alves Leão atua no PSF em Montes Claros e integra a equipe de coordenação do grupo de pesquisa. O tema aplicado na comunidade quilombola foi objeto de estudo no próprio mestrado. “A pesquisa oferece condições de avaliar a questão primária da saúde em nossa região de trabalho”, explica a profissional, que responde diretamente pela orientação, análise e interpretação nas entrevistas e coletas de dados da pesquisa na comunidade de São Francisco.

FONTE : ABN NEWS

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Fonte:
Blogger

UM POUCO DE ANGOLA/AFRICA

Jornalista : Adebayo Vunje

Porque é que não há uma história geral de Angola? Qual é a dificuldade? Não há assim grandes obstáculos científicos. O nosso pais possui sobre todos os períodos da sua evolução histórica, materiais que permitam a redacção de sínteses aceitáveis. Temos pecas líticas, varias datações, directas ou indirectas, números vestígios cerâmicas, estudos de alguns contextos pré-históricos, hipóteses sobre o desenvolvimento proto-histórico, preciosas testemunhas “histor” do fim do século XV e inicio do século XVI que permitam compreender o surgimento e a constituição de algumas formações históricas integradas no actual território nacional. Depois, temos a fase propriamente histórica, no sentido heleno do termo, com documentos de comprovação ocular e escrita. Enfim, dispúnhamos de varias analises decisivas saídas das ciências auxiliares a história tais como a linguística e a antropologia. E então possível propor, com a necessária passagem pela critica histórica, recapitulações sobre o longo período das industrias líticas, a crucial fase da metalurgia que coincide, em Angola, no inicio da nossa era, com a chegada de grupos locutores de línguas e portadores de uma cultura bantu, a constituição de sólidas entidades politicas, sobretudo no noroeste do pais, os primeiros contactos com os Europeus, a viragem mercantilista, a formação da cancerosa Colónia de Angola, a consolidação e a expansão do sistema colonial de tipo capitalista e o período pós – independência. Bem que estendendo-se sobre cerca de três milhões de anos, do processo de hominização ate aos nosso dias, a composição sintética da HGA pode feita por iniciativa individual, como vimos com Joseph Ki-Zerbo, para a Historia Geral de África, o Padre Englebert Mveng para a Historia dos Camaroes ou Ndaywel-e-Nziem para a Historia da vizinha Congo-Kinshasa. A dificuldade, neste caso de figura, e humana, a de encontrar um historiador angolano aguerrido, especialmente encarregado desta árdua tarefa, livre de reuniões intermináveis e inúteis ou vítima permanente de intrigas anti-patrióticas, paralisantes, destrutoras e auto-destrutoras. Nas condições actuais, a opção que será, provavelmente, tomada e da realização de uma obra colectiva, resultado da mobilização de especialistas nacionais e estrangeiros. A dificuldade para esta opção e a do tempo. Com efeito, a HGA da UNESCO, com os seus intensos 8 volumes, levou quase 40 anos antes de ser concluída; a de Cambridge, com os 6 impressionantes volumes arrastou-se sobre 8 anos. Com as nossas condições de subdesenvolvimento e os nossos métodos de trabalho, francamente, ineficazes, a publicação de uma Historia Geral de Angola, substancial, não e para hoje. Porque é que a escravatura ainda é central no estudo da História de África? Este longo período e fundamental porque se consideramos o conceito “historia” na sua definição etimológica, grega, grande parte da evolução do nosso continente, sobretudo a África subsariana, estende-se somente sobre cinco séculos. E, por isso que os historiadores africanos defendem, para uma grande parte do nosso continente, o concepção de uma “Historia Geral”. Sobre esses cinco séculos, quase quatro séculos são sinónimos de dramático esvaziamento humano da África melano-africana. Foi imposta a esta região, uma verdadeira guerra que perdemos e que pagamos caro. Ai, não e o desenvolvimento das forcas produtivas que primava, o progresso económico que era a prioridade, o bem-estar social que era importante, o combate as graves epidemias que era necessário, a restrição do álcool que era indispensável, mas sim, as terríveis e infindáveis guerras de captura de escravos, as mortíferas caravanas e as animalizantes armazéns de escravos. Mais, a este período de esgotamento de recursos humanos sucedeu-se o aperto neo-esclavagista. E, a grande teoria mercantilista não se aplicava a nossa área. O pais ashanti, o bem nomeado Gold Coast, Costa de Ouro, não foi desenvolvido.As minas auríferas de Egoli, hoje Joanesburgo, descobertas em 1886, não beneficiaram, abundantemente, as populações negras de África do sul, consequência directa da persistência do espírito dos famosos Códigos Negros escravagistas. A luta que travou,
corajosamente, o nosso pais contra o apartheid foi um combate contra a neo-escravatura.
A situação actual de sintomático sub-povoamento e dramático subdesenvolvimento dos países ao sul do grande deserto africano resulta, indiscutivelmente, da devastação esclavagista. Foi um crime inqualificável; quase um terço dos deportados era constituído de menores! Sem a abordagem do inferno esclavagista, não há história de Afrikiya. O que acha das reparações? A coisa de que os países que sofreram mais com a escravatura devem receber dinheiro dos que mais ganharam com ela. Penso que as reparações deviam ser feitas por meio de um novo Plano Marshal, este, a favor do nosso continente. Considero esta via mais adequado a fim de corrigir o significativo atraso histórico que registou “Os Danos da Terra” por causa da castrante “Passage Captive”. Recordo, aqui, como exemplo, que algumas entidades históricas integradas, hoje, no actual território angolano, não eram muito longe da Alta Idade Media europeu. Mas, o fosso de desenvolvimento entre os dois mundos alargou-se devido o durável terror que se abateu sobre o continente niger. A gradual melhoria de armas de fogo na Europa, durante este período de negócio das madeiras de ébano e a Revolução Industrial ocorrida no século XIX estabeleceu, definitivamente, o enorme desequilíbrio de desenvolvimento entre os dois blocos continentais.E necessário um programa global de reparações. E uma obrigação moral para as antigas potencias escravistas. E, este novo Plano Marshall pode ser financiado facilmente pelas antigas potências escravistas europeias. Tem sido um dos grandes divulgadores da figura da Rainha Jinga. Ela foi há pouco tempo pateoanizada no Senegal. Porque é que não vinha uma referência à relação da rainha com a escravatura? Porque é que os historiadores africanos são muito sensíveis quando por exemplo uma figura ligada ao tráfico recebe uma honra qualquer, e depois não têm o mesmo tipo de escrutínio quando a figura é africana? Dois pesos duas medidas? A longa acção diplomática, politica, militar e religiosa da nossa Dizonda teve como pano de fundo a resistência contra a expansão da esclavagista Colónia de Angola. Este exemplo serve para ilustrar, a perfeição, a importância da redacção da Historia Geral de Angola. A reconstituição do passado de qualquer povo não e neutra. E por isso que este projecto e, e deve ser, para nos, eminentemente, de raiz nacional. Costumo, para efeito, apontar um ditado saído das savanas do Soyo que afirma: “ Enquanto os leões não terão historiadores, as narrações sobre as campanhas de caca serão sempre feitas pelos caçadores”. Quando os invasores europeus do continente africano iniciaram o tráfico de homens, tanto europeus como africanos tinham atrás de si uma secular experiência de escravatura… Sim, ate o próprio termo escravo tem a sua origem etimológica da Europa oriental, slavus, em latim, eslavo. E, as nossas sociedades geriram, igualmente, este estatuto, isso sob varias modalidades. O proto-bantu, o sistema de concordâncias das línguas de África central, Austral e oriental, atesta o radical evocando o servente, raiz que se cristalizou nos idiomas actuais em mbika, nsumbi, mbundu, etc. Mas, com os intensos e intermináveis comércios de mão-de-obra que foram organizados na África negra, não se trata de pessoal doméstico limitado. Tratou-se de um tráfico massivo, tal como as incansáveis caravanas transsarianas, ou de carácter industrial, tais como a deportação de bantu a partir da costa suaheli no intra e alem – Oceano Indico, em direcção da Ásia, do Golfo Pérsico, do Médio e Próximo Oriente e a espectacular migração forcada para o Novo Mundo, registada nas costas de África Ocidental. Foram verdadeiros crimes organizados contra África, com as suas centenas de milhares de mortos ocorridos durante as implacáveis campanhas de captura de escravos, o seu penoso encaminhamento para o litoral, o seu humilhante e penoso armazenamento, as frequentes revoltas que eclodiam durante o embarque nos navios, a viagem nos insalubres porões, na exploração artesanal e perigosa de minas de ouro e prata, nas extenuantes plantações da preciosa cana-de-açúcar, de algodão, tabaco, arroz, etc. Não há nenhuma linha de comparação entre as formas de servidão familiar praticadas tradicionalmente em África e os tráficos que acabamos de lembrar. Fomos, a unanimidade, na última reunião do Comité Científico Internacional do emblemático Projecto da UNESCO “A Rota do Escravo”, realizada, em Fevereiro passado, em Paris, bem claros a este respeito. Deve-se comparar factos históricos comparáveis; porque os diferentes tráficos de ser humanos registados em África afiguram-se piores que a “Shoah”. Em 1619 um barco holandês descarregou os primeiros 20 escravos africanos em Virgínia, uma das originais 13 colónias britânicas na América do Norte. Apesar de não existirem cifras exactas, sabe-se que entre o século XVII e meados dói século XIX centenas de milhares de seres humanos foram convertidos em mercadorias a serem vendidas como mão-de-obra escrava, particularmente para as grandes plantações de algodão no sul da América do Norte. O trabalho destes escravos contribuiu para a revolução Industrial na Inglaterra e no desenvolvimento económico dos Estados Unidos. Que comentários… Os cativos africanos instalados nas Américas e Caraíbas foram verdadeiros heróis. Com efeito, apesar da extrema adversidade social e laboral, feita de miséria desgostosa e de trabalho impiedoso, conseguiram sobreviver e produzir, como dissemos, varias culturas comerciais desde o tão rentável açúcar ao lucrativo café. Dos Benguelas aos Oelofes, passando pelos Carabalis, cativos africanos não desapareceram no duro Estado brasileiro das Minas Gerais, não desapareceram das minas de ouro do Peru… Conseguiram, com uma extraordinária coragem, estabilizar e aumentar a produção nas minas de prata de Zacatecas e Potosi, no México.. Na realidade, como o demonstrou muito bem, Eric Williams, o antigo Primeiro-ministro, naturalmente niger, de Trinidad e Tobago, no seu clássico “Capitalism and Slavery”, a acumulação primitiva do capital nas colónias inglesas da América do norte e na Europa ocidental, só foi possível, graças a exploração esclavagista. Uma cidade como Liverpool vivia, directa ou indirectamente, do tráfico negreiro transatlântico. Produzia, aí, os navios, as espingardas, as grilhetas, os pesos para imobilizar os escravos e os produtos de troca nas costas de África ocidental, o álcool, os tecidos e todas as farfalhadas que apareciam nas feitorias instaladas na baia de Cabinda ou na ilha de Gore. Outras cidades europeias, “atlânticas”, se amamentavam do movimento negreiro, Lisboa, Sevilha, Bordéus, Nantes, etc. Não e por acaso que a grande ruptura industrial adveio na primeira potencia económica do mundo dos séculos XVIII e XIX, a Inglaterra… Na verdade, o capitalismo teve como mãe, a escravatura. Desde o século XVI que a colonização e a exploração da terra americana se vinha processando sob o signo da escravatura, mas, no entanto, os primeiros escravos na América não foram Africanos… As primeiras vítimas da fúria esclavagista foram os ameríndios que subiram um dos genocídios mais terríveis registados durante a longa evolução da humanidade; mais de 40 milhões de mortos, directos ou indirectos. O debate sobre este extermínio ainda não surgiu na arena internacional. Mas, surgira! Hoje, já não se encontram, nas ilhas das Antilhas, os Karibes, antigos populações autóctones do conjunto insular. E aterrador! O Papa Paulo III teve que, em 1537, intervir, proibindo a escravização dos coitados ‘nativos” e propor de recorrer as robustas “pecas de Guine” e aos resistentes “mwangoles”. A prisão estadual da Louisiana, nos Estados Unidos, chama-se ANGOLA… Se não haver homofonia ou homografia, este cognome, oficial, deste famoso penitenciário e sintomático da ma fama que tinha a esclavagista Colónia de Angola. Este território não produziu nada, só produzia escravos, numa miséria inenarrável para os congos, mundongos, casanjes, etc. A “Cote de Angole” era o paraíso dos contrabandistas de seres humanos. Na verdade, esta possessão portuguesa era, para os ngolas, uma verdadeira comarca a céu aberto. E, naturalmente, a comparação foi feita e o nome imposto, repito, oficialmente. Revoltas dos escravos… Evidentemente, que este processo de desumanização não podia acontecer sem sedições. Isso acontecia, tanto em África que nas terras de instalação, a todas etapas do processo organizativo do trafico e sob varias formas. Notou-se, invariavelmente, sublevações armadas, suicídios, envenenamentos de mestres esclavagistas, fugas para os territórios livres, os chamados quilombos ou palenques, tentativas de tomada de poder político, como aconteceu, varias vezes no México. Uma das tentativas de controlo de um território esclavagista, vitoriosa, foi a ocorrida, durante 1791 e 1804, em Santo Domingo, hoje Haiti e Republica Dominicana. A frequência e a violência, cada vez mais ameaçadora, influenciaram, a nível das administrações coloniais, a tomada de medidas abolicionistas. Com efeito, a sociedade esclavagista tinha erguido parâmetros perigos, tanto os oprimidos que para os dominantes.. Porque razão escravos das mesmas tribos foram brutalmente separados e espalhados por locais distintos e muito distantes um dos outros? Nem sempre, se conseguia espalhar lotes de escravos, porque muitas das vezes, eram encomendas, resultados de contratos. Mesmo como a dispersão, involuntária, de cativos, havia sempre a reconstituição étnica; são as famosas “Naciones” ou “Sociedades”. Houve, igualmente, este tipo de recomposição através das conspiradoras “Confradias”. Como eram as condições de travessia nos chamados “navios negreiros”? Eram propriamente inumanas. Temos varias estampas, da época, sobre as condições sinistras de viagem dos prisioneiros nos porões: arrumação sardinhada, homens acorrentados, atmosfera insurreccional, despejo de rebeldes e de doentes, contagiosos, em pleno mar, ameaça permanente de surto de disenteria, etc. A situação dos transportadores era kafkiana. Com efeito, eles deviam cuidar da mercadoria, cansada por semanas de uma viagem mais que inconfortável, mais também, reprimir. Apesar de todas as precauções, havia, na média, “perdas” de 20% dos carregamentos. Mas, como este negócio era muito lucrativo, as baixas eram sempre superadas. Eugene Genovese, um especialista nesta matéria, na sua obra “ Economia Política da Escravatura” refere que muitos escravos se auto- amputavam com os instrumentos agrícolas. Quer comentar? A automutilação era praticada como forma de afsatamento ao trabalho penoso das minas ou das plantações. E um sinal trágico do trauma que vivia os escravizados. Razões dos escravos terem produzido uma música na América do Norte (Jazz) e na América do Sul (Samba), bastante diferentes umas das outras? Penso que isto esta ligado as influências de contextos civilizacionais diferentes tais como a utilização organologica distinta ou a adopção de vias de expressão religiosa diferenciada. Visivelmente, os afro-brasileiros conservaram, mais, instrumentos africanos e engajaram-se num sincretismo religioso com a permanência de uma forte raiz antropológica negra. A samba e música de exultação de tipo bem animista enquanto o jazz foi definitivamente marcado pela melancolia dos cantos das plantações, os famosos “work songs” e os das Igrejas. São duas escolhas diferentes, o ritmo carioca e uma verdadeira musicoterapia profana enquanto a nova musica da Nova Orleans, assimila-se a uma oração. Situação actual do estuda da escravatura na África oriental, que parece estar menos estudado? Consciente desta situação, a UNESCO colocou como Coordenador do seu significativo projecto “A Rota do Escravo”, um especialista originário da Somália.. Mais, temos no Comité Cientifico Internacional deste projecto, uma colega negra, originaria de Dubai. Os esforços para corrigir esta insuficiência de estudos já deram lugar a vários programas que permitiram conhecer melhor vários aspectos civilizacionais africanos no Golfo Pérsico, no Médio e Próximo Oriente, no intra – Oceano Indico e na Ásia. Graças a esses programas, já se estabeleceu ligações entre as reminiscências lexicais bantu dos Siddis da Índia com as línguas de origem, as da costa suaheli. Foi confirmado, por exemplo, que houve escravos angolanos instalados nos territórios portugueses da Ásia (Damão, Diu, Goa e Macau). Um deles, tornou-se Sultão nas ilhas Mascarenhas, sob o nome de Ali. Neste mesmo sentido, a UNESCO esta a concluir um documentário bem intitulada “Global Vision”, que deve permitir uma leitura mundial dos tráficos negreiros. Enfim, esta na forja o lançamento de um projecto sobre a edificação de um Museu Internacional da Escravatura em Moçambique, pais que sofreu, concomitantemente, as tratas oriental e atlântica. Acabo de ter uma concertação, a este respeito, em Maputo, com a minha colega moçambicana do Comité da UNESCO, a Dra. Begnina Zimba.. Europa, durante o Tráfico de escravos, recorria a uma série de explicações morais, éticas ou pseudo-cientí ficas para justificar uma empresa que pouco ou nada tinha ver com civilização, missão sagrada ou a suposta inferioridade da chamada raça negra… Na realidade, a principal causa do desenfreado tráfico de escravos transatlântica e, indiscutivelmente, económica. A grande teoria na Europa defendia que a riqueza dos Estados assenta nas minas, ouro e prata. Havia, então, necessidade de dispor de mão-de-obra, gratuita e abundante para a exploração mineira. A cultura da cana-de-açúcar, grande devorada de homens, completou as insaciáveis necessidades dos plantadores instalados no continente americano e no conjunto insular caribenho. O resto das explicações e ligado ao período que estava a Europa, feito de obscurantismo funesto e fanatismo religioso expansionista. As causas do tráfico negreiro transatlântico eram, essencialmente, económicas; prova disto, o pais mais abolicionista foi a Inglaterra, terra da Revolução Industrial. Não foi por acaso! Porque razão continua a haver tanta confusão entre tráfico de escravos e trabalho escravo e porque razão continua a haver tanta confusão entre trabalho forçado como imposição do capitalismo e escravatura ? O trabalho escravo no Novo Mundo era uma modalidade de exploração do homem, primitiva, brutal, típica do período da acumulação e consolidação do capital. E ligado com as origens, ferozes, do capitalismo. O trabalho forcado (?) resultou de uma cínica impostura terminológica; tratou-se na realidade, de continuar a explorar, severamente, os indígenas, pagando-lhes salários de miséria. E uma modalidade, profundamente racista, que pretendia que os negros eram, biologicamente, preguiçosos. Deviam, então, ser acurralados para trabalhar. Qual o papel dos reis, sobas, sobetas , em particular dos dembados no tráfico escravista e a sua articulação com os representantes do comércio longínquo , em particular portugueses e ingleses ? A questão deve ser analisada cientificamente. Trata-se, aqui, de articulação histórica. O trafico de escravos criou um contexto social muito complexo onde os próprios chefes, ou se sacrificavam, tentando, sem grande esperança, resistir ou experimentavam regulamentar este comercio atípico. Eram reféns do sistema. Quanto nobres africanos foram levados e vendidos? Mesmo sem eles, a circulação de cativos devia ser feita. O referido contexto pode ser assimilado a nossa incapacidade actual de fixar, no mercado internacional, o preço do nosso petróleo, diamante, café, madeira ou peixe. Estamos, bem amarrados a uma articulação histórica. qual a razão pela qual os agentes económicos do futuro - os agentes do capitalismo que eram os portugueses e os ingleses principalmente - , continuam a ser tratados como escravistas e invasores , enquanto os chefes das regiões , os Poderes regionais defensores da produção e troca de comunidades primitivas , escravistas e tributários são apontados como resistentes , libertadores e " progressistas " ? Genericamente é o que me ocorre repentinamente. Houve, na realidade, em África, muitas oposições lideradas por dirigentes das comunidades contra a “Travessia da Agua Salgada”. As reacções contra a ocupação de territórios africanos foram, em todo lado, vivas. Isso, obrigou os invasores a construir, tanto no litoral que no hinterland, fortalezas e fortes. Nestas resistências, houve centenas de sobas, corajosos, verdadeiros heróis. Quantos reis africanos foram decapitados quando tentavam opor-se a acção dos aventureiros europeus contratados em Sevilha? Centenas! Os nfumu, colaboradores, eram, apenas, vítimas do sistema, ora em vigor, o comércio triangular. E, como nos, vendemos o nosso petróleo ou diamante, mesmo sabendo muito bem, que os preços estão a baixar.
Fonte Blogger do Brejo dos Crioulos

Criançada do Brejo dos Crioulos - Caxambú I






Comunidade de Caxambú I










Brejo dos Crioulos está localizados nas margens do rio Arapuim, afluente da margem esquerda do rio Verde Grande, na divisa dos municípios de São João da Ponte e Varzelândia, no Norte de Minas Gerais, a história de Brejo dos Crioulos é uma história que ainda não consta da historiografia dos brancos que ocuparam o Norte de Minas desde dos primórdios da colonização portuguesa, nos idos do século XVI.

Conforme relatam moradores mais velhos, desde meados do Século XVII, negros fugidos da escravidão passaram a se fixar às margens da Lagoa Peroba, existente na vazante do médio ribeirão Araquém. A ocupação dessa área foi possibilitada pela existência de brejo na vazante do referido ribeirão, propícia à proliferação da maleita, que a tornava imprópria para brancos e indígenas.Com o passar do tempo, muitos outros negros fugidos se dirigiram para a área, aumentando a população que no final do Século XIX era de 38 troncos familiares.Nesse contexto, as famílias aqui localizadas desenvolveram um sistema peculiar de organização social, cultural e produtiva, baseada em heranças africanas, indígenas e portuguesas.