TEXTO Vilma Neres
FOTOS Antonio Terra
“ Quero cotas iguais e não
diferentes! (…) Essa reparação já passou da hora, não desisto, pois eu
sou um negro quilombola. A força do Ilê nos conduz nessa trajetória.
Esse país aqui foi feito por nós, ninguém vai mudar ou calar a nossa
voz! (…)”
O trecho acima da música “A bola da vez” do Ilê Aiyê noticia
o sentimento do grupo “Revolta dos Turbantes”, formado por estudantes,
professores, fotógrafos, jornalistas, cientistas sociais, geógrafos
etc., sendo todos esses jovens e adultos negros* participaram do
último protesto sucedido no dia 20 de junho de 2013 na cidade do Rio de
Janeiro, em afirmação e reivindicação das pautas de demandas da
população negra local. Sensibilizados com a falta de representação de
pessoas nas últimas manifestações em favor das questões que atingem essa
população, um grupo de aproximadamente 200 pessoas juntou-se ao mar de
gente que cobria as quatro pistas de
trânsito numa extensão de 3,5 km da Avenida Presidente Vargas.
“Revolta dos Turbantes” formaliza o encontro entre jovens e adultos. Alguns desses, a exemplo de Adélia Azevedo, os fotógrafos Januário Garcia, José Andrade e do produtor audiovisual Umberto Alves, também foram às ruas durante o regime militar, protestaram a favor das Diretas Já e pelo impeachment de Collor,
em 1992. Esse encontro, consolidado no dia 20, foi político.
Inicialmente motivado pelos jovens, Júlio Vitor e Rodrigo Reduzino,
através do facebook e mais efetivamente no dia 19 em uma reunião
presencial sediada no pátio do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais
da Universidade Federal do Rio de Janeiro – IFCS/ UFRJ, Centro da
cidade. “Revolta dos Turbantes” caracteriza um encontro também
simbólico e estético, em que quase todos adornaram suas cabeças com
turbantes em valorização da ancestralidade africana. Do mesmo modo que
representa o grito pelas demandas da população negra, iniciado defronte à
Igreja da Candelária, onde velas foram acesas em memória dos jovens
mortos durante a chacina de 1993.
A
lista de pautas exigidas, ao Estado e à sociedade brasileira, espelha a
invisibilidade de negros e a violação de seus direitos nos mais
diversos setores do país. Essas reivindicações abarcam até mesmo os
direitos fundamentais, ainda inexistes em algumas regiões do país, como o
acesso à saúde, educação e moradia digna. Entre outras demandas
específicas da população negra, como em apoio a PEC das domésticas;
contra o extermínio da juventude negra; pela demarcação e titulação das
terras de Quilombo e Indígenas; pela efetivação da Lei 10.639/2003 e
11.645/2008 que instituem o ensino da história africana, afrobrasileira e
indígena no currículo escolar; respeito às religiosidades de matriz
africana; pelo acesso à renda e ao mercado de trabalho; contra a remoção
de famílias em áreas onde há especulação imobiliária;
contra o Estatuto do Nascituro; pela desmilitarização da PM; contra a
redução da maioridade penal; pelo fim do racismo no SUS.
O
fotógrafo José Andrade (Zezzynho), também militante desde os idos do
regime militar relembrou emocionado a manifestação de 1988 durante o Centenário da Abolição,
em que foram impedidos de ultrapassar o monumento Pantheon Duque de
Caxias, localizado na Avenida Presidente Vargas. “Esse grupo de jovens,
que ordeiramente acompanhou toda a manifestação, com palavras de ordem
as quais de desejo e de desabafo sobre o sistema, deu essa resposta ao
atravessarmos o Pantheon”, conta. Disse ainda se sentir com a alma
lavada e a sensação de dever cumprido com a Revolta dos Turbantes.
Andrade citou alguns nomes dos que eram jovens naquela época e que se
fizeram
presentes nessa última manifestação, a exemplo de Marcos Romão,
Januário Garcia, Adélia Azevedo, Spirito Santo, Aderaldo Gil, e mais
alguns outros que estiveram presente compartilharam esse momento.
Assim
como os demais manifestantes que coloriram a Avenida Presidente Vargas
no início da noite do dia 20, durante o ato da “Revolta dos Turbantes”
foram entoadas as seguintes mensagens, direcionadas aos demais
manifestantes que lá protestavam por causas específicas, não somente
pelo direito ao passe livre:
“Eu não sou bunda, eu não sou peito! Mulher Preta pede respeito!”
“A polícia mata preto!”
“O Estado mata Preto!”
“Quem não pula é racista!”
“Vem, vem, vem pra rua vem contra o racismo!”
Abaixo, assista um vídeo postado por Afronaz Kauberdianuz, em sua página no
youtube. A fala é do militante e professor pela rede pública/federal de
ensino, Aderaldo Gil, durante o encerramento do ato da “Revolta dos
Turbantes” aos pés do monumento Zumbi dos Palmares, na Avenida Presidente Vargas.
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