terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Combater o racismo, promover a igualdade

Escrito por Maria Júlia Nogueira, secretária de Combate ao Racismo da CUT Nacional
10/02/2010

Nos dias 25 e 26 de fevereiro (quinta e sexta-feiras), a Secretaria Nacional de Combate ao Racismo da CUT (SNCR) realizará uma Oficina de Planejamento em São Paulo para debater as prioridades e aprovar o plano de ação para 2010.
Além da participação dos dirigentes das Secretariais Estaduais, estão confirmadas as presenças do ministro da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial, Edson Santos; da deputada Janete Rocha Pietá; do deputado Vicente Paulo da Silva e do dirigente bancário Marcos Benedito, ex-coordenador da Secretaria de Combate ao Racismo da CUT.
Entre os objetivos do Seminário encontram-se a atualização de análises sobre o movimento negro e as perspectivas das políticas e estratégias de combate ao racismo e pela promoção da igualdade racial, definindo o plano de ação em consonância com a estratégia e o planejamento da Executiva Nacional da CUT.
Mais do que nunca, é preciso enfrentar coletivamente a subalternidade reservada aos negros e materializada na falta de apoio e investimento na sua formação profissional que, aliada à discriminação e ao preconceito ainda existentes, implicam em falta de acesso ao emprego, desvantagens salariais, maiores taxas de desemprego, maior jornada de trabalho, ingresso precoce no mercado, concentração nas ocupações mais insalubres e maior taxa de morbidade profissional.
Vale lembrar a pesquisa do Dieese sobre o mercado de trabalho entre 2004 e 2009 nas cinco regiões metropolitanas (Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, São Paulo), que apesar de apontar para uma melhora na situação dos negros, no quesito de igualdade de oportunidades ou rendimentos seguem as grandes diferenças entre negros e não negros.
Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam que trabalhadores negros de ambos os sexos recebem em média 50% a menos que os trabalhadores brancos de ambos os sexos por hora. Também é facilmente perceptível a dupla discriminação, de gênero e raça, pois as mulheres negras recebem 39% do que recebem os brancos da mesma faixa de escolaridade e qualificação.
Conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), 65% das ocupações precárias são exercidas por negros, sendo que 76,2% das mulheres negras no serviço doméstico não têm sequer a carteira assinada. Mais do que para uma reflexão sobre o tema, estas informações devem servir como guia para a ação, como estímulo para transformar esta caótica realidade. É preciso reconhecer os obstáculos culturais e sociais existentes, mas também a nossa força, o nosso valor e capacidade para removê-los quando atuamos coletivamente, com a auto-estima elevada.
O Estado brasileiro nasceu sob a égide do escravismo, onde a liberdade custou muito sangue negro. O que ocorreu foi um verdadeiro holocausto, com quatro milhões de africanos trazidos para o Brasil durante quatro séculos. Vidas humanas foram ceifadas para o capital, que torturou, estuprou, explorou a mão-de-obra infantil, submeteu povos inteiros ao massacre cultural e à perseguição religiosa.
Não há como construir um novo Brasil, justo e soberano, sem incorporar a grande massa negra de forma mais incisiva no nosso projeto de desenvolvimento. Daí o nosso empenho em potencializar a ação da nossa Secretaria, ampliando o diálogo com os governos e movimentos sociais para virar esta página.

www.cut.org.br

Campanha Nacional "AFIRME-SE!"

Mobilização e Articulação da Campanha Nacional "AFIRME-SE!"
Proposta de retirar um documento do RS e articular a presença de uma delegação gaúcha na Audiência de julgamento da Política de Cotas no STF - Supremo Tribunal Federal de 03 à 05 de maio de 2010, em Brasília/DF. O objetivo do evento é ajudar a organizar a Campanha de repercussão nacional a partir da mobilização de entidades e militantes que lutam em defesa das ações afirmativas no Brasil. O Supremo Tribunal Federal entre 3 e 5 de março, através de uma audiência pública, iniciará as discussões que irão pôr em xeque a legitimidade constitucional das cotas nas Universidades Públicas. A Campanha afirme-se! Tem como propósito despertar a sociedade brasileira para o ataque iminente que põe em risco a continuação de políticas que beneficiam os setores historicamente excluídos e marginalizados do país. Caso o Supremo Tribunal Federal julgue inconstitucional a adoção dessas ações afirmativas, as cotas serão retiradas das universidades públicas o que será uma grande derrota para o movimento negro, quilombolas, indígenas, movimento gay e até o Estatuto da Igualdade Racial estará sendo ameaçado.
Contexto: O sistema de cotas surgiu nos EUA, na década de 60, no período de lutas intensas por ações afirmativas naquele país. Influenciados por líderes como Marthin Luther King a comunidade negra norte-americana conseguiu adotar a reserva de vagas nas universidades brancas e segregadas dos Estados Unidos. Entretanto, após denúncias de que as cotas estavam aumentando a desigualdade racial e a legitimidade republicana, a Suprema Corte pôs fim ao regime cotista.
No Brasil, as políticas de ação afirmativa foram sistematizadas após a promulgação da Lei nº 3.708 como fruto de inúmeras mobilizações e reivindicações do movimento negro organizado. Entretanto, essa conquista histórica está sendo posta em ataque por processos que estão em trâmite no Supremo Tribunal Federal. O principal argumento utilizado pelos autores dos processos é o seguinte: a reserva de cotas com o intuito de aumentar a participação de negros nas universidades brasileiras viola a Constituição federal, que garante, no artigo 206, "igualdade de condições para o acesso" à escola e ensino gratuito "em estabelecimentos oficiais". Por isso, a Campanha Afirme-se! – Pela Manutenção no STF das Políticas de Ação Afirmativa espera contar com o apoio do movimento social na plenária de articulação e mobilização, para que juntos possamos lutar contra esse ataque aos direitos conquistados pela população que sempre esteve à margem das benesses do Estado.
Acesse, divulgue, repasse e colabore: http://afirmese.blogspot.com

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Encontro dos Povos Guarani

Maior evento da etnia será registrado por indígenas Guarani-Mbya capacitados no Projeto Vídeos Nas Aldeias
Mais uma equipe de cinegrafistas, formada por indígenas Guarani, estará presente na realização do Encontro dos Povos Guarani da América do Sul - Aty Guasu Ñande Reko Resakã Yvy Rupa para registrar este, que é um dos maiores eventos da etnia.
Ariel Ortega, Jorge Morinico e Germano Benites são Guarani-Mbya e foram capacitados pelas oficinas de vídeo do Ponto de Cultura Vídeo nas Aldeias de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, que começaram a ser realizadas desde 2007.
O grupo participou da primeira oficina intensiva, com duração de aproximadamente dois meses, e, em meados de 2008, os seus registros resultaram no filme Duas Aldeias numa Caminhada. O longa metragem, de 1 hora e 5 minutos de duração, é falado em guarani e foi consagrado, em 2009, como melhor filme pelo Fórum Doc, do Festival de Cinema Etnográfico de Belo Horizonte. O filme, compactado em uma versão de 48 minutos, já foi exibido na TV Cultura e projetado nos Estados Unidos da América e Canadá.
O grupo Guarani-Mbya, que conta com uma nova integrante, Patrícia Ferreira, também formada na oficina de capacitação do Ponto de Cultura Vídeo nas Aldeias, já gravou novo material, em dezembro de 2009, que será editado este ano resultando em um novo filme dos cinegrafistas sobre a etnia Guarani.
Todo o material gravado durante o Encontro dos Povos Guarani da América do Sul resultará em documentário que será disponibilizado no Blog do encontro. O filme Nós e a cidade pode ser assistido no Blog em uma curta versão, dublada em português, de 5 minutos, na área Vídeos.

Acompanhe as notícias do Encontro no blogs.cultura.gov.br/encontroguarani

Milhares de descendentes de africanos estão puxando as cordas dos blocos

Na Bahia, milhares de descendentes de africanos estão puxando as cordas dos blocos: os chamados cordeiros.
Estes homens e mulheres pretas retratam a discrepância étnico-socioeconômica de uma minoria abastada (branca) e da maioria despossuída (preta), que aproveita este período momesco para obter uma renda extra, sem ter consciência de que fomenta uma sociedade discriminatória, estão nas ruas recolhendo latinhas, vendendo cerveja, comidas e lanches e a sua força física, envolvidos em possíveis atos de violência que surge em uma aglomeração de mais de dois milhão de foliões.
O consumo exacerbado pela juventude de bebidas alcoólicas e outras substâncias que inibem a timidez e trazem momentos de uma falsa alegria.
O carnaval é uma festa para brancos e ricos que podem dispor de dinheiro para pagar os caríssimos blocos empurrados por trios elétricos, em uma cidade de esmagador contingente populacional de pretas e pretos. Estes que inconscientemente permitiram a apropriação dos ritmos e danças de origem africana, inclusive aspectos de sua religiosidade fazem parte da festa, não ocorrendo este fato com as religiões cristãs.
Os pretos e pretas não usufruem diretamente dos milhões de reais que geram nesta empresa chamada carnaval baiano. Isto sem falar nas Escolas de Samba do Rio de Janeiro e São Paulo que se tornaram cartões postais do Brasil para o mundo, em que suas comunidades, antes organizadoras dos desfiles, hoje não mais detêm o controle da festa nem das escolas, estas que em sua maioria são dominadas por homens brancos. Mas, tudo é festa, é carnaval, a maioria do nosso povo está “feliz” pra tudo terminar na quarta-feira.
Apesar de todas estas contradições o carnaval foi uma maneira de se ativar a consciência dos afro-baianos sobre as questões da negritude, de afirmação racial através do lúdico, especialmente nos bairros denominados periféricos, com o surgimento de blocos como: Bloco Afro Ilê-Ayê na Liberdade; Olodum no Centro Histórico; Muzenza, com seus extintos ensaios na Ribeira, e posteriormente na Liberdade; Araketu em Periperi; Badauê no Engenho Velho de Brotas e tantos outros.
As manifestações africanas trouxeram em um momento histórico o dizer não à branquitude dos blocos de trio e a alegria de afirmar na música do Ilê Aiyê:

Que bloco é esse? Eu quero saber.

É o mundo negro que viemos mostrar pra você (pra você).

Que bloco é esse? Eu quero saber.

É o mundo negro que viemos mostrar pra você (pra você).

Branco, se você soubesse o valor que o preto tem.

Tu tomavas banho de piche, branco e, ficava negrão também.

E não te ensino a minha malandragem.

Nem tão pouco minha filosofia, não?

O carnaval é comemorado em diversas regiões da América Africana e na África:
A origem das festividades populares neste período é estritamente africana, apesar dos relatos eurocêntricos afirmarem que a origem desta celebração popular foi a Europa, sendo adaptada pelos africanos escravizados, há omissões históricas das origens. Evidente de que os europeus se apropriam do conhecimento africano e colocaram uma nova roupagem, nesse caso reinterpretaram as grandes festas africanas, relacionadas às colheitas, deturpando-lhes o verdadeiro sentido.
A história das celebrações está relacionada ao princípio da nossa civilização, na origem dos rituais, na fertilidade e na colheita das primeiras lavouras às margens do Nilo, em que os primeiros agricultores celebravam-nas com danças e músicas.
Estas festividades possuem sua origem no antigo Egito (Khemet) como celebração do Ano Novo Solar Africano, isto é, o Ano Novo Solar em Khemet, em que era reconhecida a importância do sol e do rio Nilo na vida dessa população, que fora precursora de diversas ciências e tecnologias, a exemplo da astronomia e as ciências naturais, entre tantas outras.
O ritmo da vida egípcia estava em torno do Nilo, onde a linhagem real, a autoridade para governar, a religião e a ciência estão intrinsecamente interligadas durante seus onze mil anos de existência. A comemoração do carnaval está ligada intrinsecamente à deusa egípcia Isis e se festejavam 05 dias de folia com muita pompa.
Os festivais do antigo Khemet tinham a intenção de sintonizar os celebrantes com os ciclos da natureza e do universo através da simbologia do mito e do ato sagrado do ritual. Eles apontavam para a natureza, com a celebração da lua minguante no inverno, o retorno de um novo ano, e da fertilidade.
A apropriação histórica infelizmente existe na história das nações invasoras, e ainda hoje livros eurocêntricos divulgam, ensinam essa e outras “verdades”, negando e omitindo suas verdadeiras origens: o continente africano.
Já na sociedade grega modificaram-se os rituais, acrescendo a bebida e o sexo, com as celebrações dionisíacas, cultos ao deus do prazer: Dionísio.
Na Roma Antiga, as festividades foram conhecidas como bacanais, saturnais e lupercais, em que festejavam respectivamente os deuses Baco, Saturno e Pã. Nas sociedades européias começaram a aparecer os primeiros grupos de travestidos, homens vestidos de mulher. Nestas também foi acrescentada uma função política de distensão social às celebrações, tolerando o espírito satírico, a crítica aos governos e governantes nos festejos.
As celebrações pagãs do antigo Império Romano, relacionadas com a chegada do Ano Novo e da primavera, persistiu mesmo após o triunfo do cristianismo pagão com a forma de carnaval. Num sentido religioso, esta festa era a última oportunidade que as pessoas tinham para abastecer o corpo com abundantes alimentos e bebidas antes de começar a época da Quaresma, que representou o jejum e a penitência. Carnaval é assim, às vezes chamado de Anti-Quaresma.
Nesse sentido, a palavra pode ser interpretada como "Carne Vale", em latim significa "adeus carne", "carnaval", na verdade, deriva de "navalis carrus": o "carro naval" ou navio, que carregava o Deus do Mar celta ou germânico, de sua morada do Norte para as festas de inverno. Em Roma, na abertura dessas festas ao deus Saturno, carros buscando semelhança a navios saíam na "avenida", com homens e mulheres nus. Estes eram chamados os carrum navalis.
Muitos dizem que daí surgiu a expressão carnevale. Os europeus adaptaram os carros alegóricos que existiam na Babilônia, em honra do deus Marduk, e no Egito, para a deusa Isis, a rainha-deusa da vida e da luz, que abre o ano. E nas festas romanas se elegia o príncipe do carnaval para reinar na folia.
O novo olhar grego e romano resultou na modificação das festas de colheitas africanas, perdeu-se o sentido da celebração do novo ano solar e da benignidade do rio Nilo e a criação de novas tecnologias que serviram para o bem estar das comunidades primevas africanas.
As mudanças realizadas por estes deturpantes olhares europeus tiveram continuidade na Afro-América, especialmente no Brasil, com festas de total ausência da solidariedade africana, que hoje louvam deuses greco-romanos remodelados: o dinheiro, a desigualdade sócio-étnica e a perversão sexual.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A 5ª Edição do FECAN que acontecerá em Montes Claros de 01 a 16 de Maio 2010

A 5ª Edição do FECAN que acontecerá em Montes Claros de 01 a 16 de Maio 2010 promete encantar todo o norte de Minas em especial Montes Claros
Com palestras, debates, shows,concursos e oficinas, a 5ª Edição do FECAN Festival de Cultura e Arte Negra agitará a sociedade montes-clarense. O Movimento Negro vem realizado atividades há 22 anos na cidade, buscando estimular a organização da comunidade em especial os militantes do Movimento Social Negro,apartir de 2003 nos do Movimento Negro exigimos das autoridades competentes implementação e aplicação da Lei 10.639, aprovada no dia 09 de Março de 2003, que determina o resgate e a valorização da cultura afro-descendente nas escolas, através das disciplinas de Educação Artística, História, Português e Literatura.
Segundo o coordenador e idealizador do evento , Hilário Bispo, pela primeira vez vamos realizar o primeiro salçao de artis visuais do FECAN stilo livre mas com a temática racial o movimento acontecerá com a intensidade positiva. “Este ano conseguiremos uma diversidade maior nas atividades que realizaremos, junto à comunidade montes clarece; sobre a importância da cultura negra em nosso dia-a-dia”, diz Hilário, que se empolga ao falar da grande participação de crianças e adolescentes nas oficinas,esperamos atingir um total de 400 crianças entre jovens e adultos.
As oficinas de Dança de Rua, Percussão, Graffite, Dança Afro e Artes Plásticas serão realizadas durante toda a semana, no NECUN . Participaá professores e jovens de diferentes escolas, faculdades e dos Centros de Convívio assistidos pela Associação de Promoção e Ação Social (APAS).
Para o desenhista Wender dos Santos Miranda,é muito gratificante trabalhar com os adolescentes. “Há 10 anos trabalho com desenho e são poucas as oportunidades que temos de mostrar a nossa arte”, diz o instrutor. Ele explica que existem muitos talentos na cidade que precisam apenas de orientação.
Segundo o professor de capoeira e Vice presidente do Centro Cultural Capoeirando Sidney Alves da Silva, trabalhar a arte e a dança com a juventude é muito importante.
As outras oficinas ministradas seram Dança de Rua (Dário Adam); Percussão (Luciano de Jesus); Dança Afro (Luciano de Jesus) e Artes Plásticas (Biola).

Maiores Informações: (38) 9104 4369 ou 9943 4731 (Hilário Bispo)



Fotos: Fábio Marçal / Marlene Bastos

Candomblé

Foto antiga de um ritual de candomblé bantu



Antes da abolição da escravatura em 1888, os negros escravizados fugidos das fazendas, reuniam-se em lugares afastados nas florestas em agrupamentos ou comunidades chamadas quilombos, depois da libertação, os africanos libertos reuniam-se em comunidades nas cidades que passaram a chamar de candomblé. Candomblé é o nome genérico que se dá para todas as casas de candomblé independente da nação. A palavra candomblé a princípio era usado para designar qualquer festa dos africanos, teria sua origem nas línguas bantu da palavra Candombe que no Uruguai é um ritmo musical afro-uruguaio que deve existir também em outros países que receberam escravos africanos

Nas religiões afro-brasileiras, vários termos são usados para designar iniciação.

Cada uma das religiões tem seus termos próprios, iniciação, feitura, feitura de santo, raspar santo, são mais usados nos terreiros de candomblé, Candomblé de Caboclo, Cabula, Macumba, Omoloko, Tambor de Mina, Xangô do Nordeste, Xambá. Nestes casos o período de iniciação é de no mínimo sete anos, se inserem os rituais de passagem, que indicam os vários procedimentos dentro de um período de reclusão que geralmente é de 21 dias (mas pode variar dependendo da religião), o aprendizado de rezas, cantigas, línguas sagradas, uso das folhas (folhas sagradas), catulagem, raspagem, pintura, imposição do adoxú e apresentação pública, é individual e faz parte dos preceitos de cada pessoa que entra para a religião dos orixás no Batuque usa-se o termo fazer a cabeça ou feitura. No Culto de Ifá e no Culto aos Egungun usam o termo iniciação porém os preceitos são diferentes das outras religiões.

No Candomblé Jeje a iniciação ao culto dos voduns é complexa e longa, pode envolver longas caminhadas a santuários e mercados e períodos de reclusão dentro do convento ou terreiro hunkpame, que podem chegar a durar um ano, onde os neófitos são submetidos a uma dura rotina de danças, preces, aprendizagem de línguas sagradas e votos de segredo e obediência.

A princípio, nessas cerimônias, tem que haver o desprendimento total, na iniciação deve-se morrer para renascer com outro nome para uma nova vida, no candomblé Ketu o Orunkó do Orixá (só dito em público no dia do nome), no Candomblé bantu além do nome do Nkisi (jamais revelado), tem a dijína pelo qual será chamado o iniciado pelo resto da vida.

Quando uma pessoa iniciada morre é feito o deligamento do Egum, Nvumbe na cerimônia fúnebre e no Axexê, conhecido pelos nomes de sirrum e zerim, que varia dependendo do grau iniciático do morto.

Na Umbanda e Quimbanda não incluem os ritos de passagem, nem feitura de santo propriamente dita, uma vez que não incorporam Orixás incorporam os Falangeiros de Orixás, usa-se o termo fazer a cabeça onde pode existir a catulagem e pintura, porém a cabeça não é raspada completamente, e não tem imposição do adoxú. A reclusão nesses casos é de três a sete dias, é feita a instrução esotérica, aprendizado das rezas e pontos riscados e cantados, e é feita a apresentação pública.

Pajelança, Babaçuê, são de origem indigena, porém já adotam algumas influências da Umbanda.

O "Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira" (Cenarab), a Baixada Fluminense tem 3,8 mil terreiros contra apenas 1,2 mil na área de Salvador e do Recôncavo Baiano, informação dada por Jairo Pereira, do Cenarab em 1997.

De todas as religiões afro-brasileiras, a mais próxima da Doutrina Espírita é um segmento (linha) da Umbanda denominado de "Umbanda branca", e que não tem nenhuma ligação com o Candomblé, o Xambá, o Xangô do Recife ou o Batuque. Embora popularmente se acredite que estas últimas sejam um tipo de "espiritismo", na realidade trata-se de religiões iniciáticas animistas, que não partilham nenhum dos ensinamentos relacionados com a Doutrina Espírita. Entretanto, outros segmentos da Umbanda podem ter algumas semelhanças com a Doutrina Espírita, mas também com o Candomblé por causa da figura dos Orixás.

No tocante específicamente ao Candomblé, crê-se na sobrevivência da alma após a morte física (os Eguns), e na existência de espíritos ancestrais que, caso divinizados (os Orixás, cultuados coletivamente), não materializam; caso não divinizados (os Egungun), materializam em vestes próprias para estarem em contacto com os seus descendentes (os vivos), cantando, falando, dando conselhos e auxilindo espiritualmente a sua comunidade. Observe-se que o conceito de "materialização" no Candomblé, é diferente do de "incorporação" na Umbanda ou na Doutrina Espírita.

  • Em princípio os Orixás só se apresentam nas festas e obrigações para dançar e serem homenageados. Não dão consulta ao público assistente, mas podem eventualmente falar com membros da família ou da casa para deixar algum recado para o filho. O normal é os Orixás se expressarem através do jogo de Ifá, (oráculo) e merindilogun.
  • Dependendo da nação ou linha de candomblé, os candomblés tradicionais não fazem a princípio contato com espíritos através da incorporação para consultas, é possível mas não é aceito.
  • Já o candomblé de caboclo tem uma ligação muito forte com caboclos e exus que incorporam para dar consultas, os caboclos são diferentes da Umbanda.
  • E existem os candomblés cujos pais de santo eram da Umbanda e passaram para o candomblé que cultuam paralelamente os Orixás e os guias de Umbanda.

No Candomblé, todo e qualquer espírito deve ser afastado principalmente na hora da iniciação, para não correr o risco de um deles incorporar na pessoa e se passar por orixá, o Iyawo recolhido é monitorado dia e noite, recorrendo-se ao Ifá ou jogo de búzios para detectar a sua presença. A cerimónia só ocorre quando este confirma a ausência de Eguns no ambiente de recolhimento.

Afastam todo e qualquer espírito (egun), ou almas penadas, forças negativas, influências negativas trazidas por pessoas de fora da comunidade. Acredita-se que pessoas trazem consigo boas e más influências, bons e maus acompanhantes (espíritos), através do jogo de Ifá poderá se determinar se essas influências são de nascimento Odu, de destino ou adquiridas de alguma forma.

Os espíritos são cultuados, nas casas de Candomblé, em uma casa em separado, sendo homenageados diariamente uma vez que, como Exú, são considerados protetores da comunidade.

Existem Orixás que já viveram na terra, como Xangô, Oyá, Ogun, Oxossi, viveram e morreram, os que fizeram parte da criação do mundo esses só vieram para criar o mundo e retiraram-se para o Orun, o caso de Obatalá, e outros chamados Orixá funfun (branco).

Existem as árvores sagradas que são as mesmas das religiões tradicionais africanas onde Orixás são cultuados pela comunidade como é o caso de Iroko, Apaoká, Akoko, e também os orixás individuais de cada pessoa que é uma parte do Orixá em si e são a ligação da pessoa, iniciada com o Orixá divinizado.

Ou seja uma pessoa que é de Xangô, seu orixá individual é uma parte daquele Xangô divinizado com todas as características, ou como chamam arquétipo.

Existe muita discussão sobre o assunto: uns dizem que o Orixá pessoal é uma manifestação de dentro para fora, do Eu de cada um ligado ao orixá divinizado, outros dizem ser uma incorporação mas é rejeitada por muitos membros do candomblé, justificam que nem o culto aos Egungun é de incorporação e sim de materialização. Espíritos (Eguns) são despachados (afastados) antes de toda cerimônia ou iniciação do candomblé.

Referências

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O Renascimento do Continente Africano é tarefa antiimperialista

Edson França

O imperialismo ganha vigor e longevidade na medida em que aprimora sua capacidade de impor hegemonia política planetária, explorar povos e países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento e evitar mobilidade na hierarquia das nações. Sendo assim, os oito anos de Governo Lula são essencialmente antiimperialistas, visto que o desenvolvimento do Brasil permitiu a imposição de uma nova relação política com os Impérios.
Lula soberanamente lançou mão de ações que balançaram o tabuleiro geopolítico mundial, cuidadosamente construído pelas nações poderosas. Tomando esse critério como parâmetro, qualquer nação ou blocos de nações (Mercosul, BRIC, G20, União Africana - UA) relacionados como economias subdesenvolvidas ou em desenvolvimento, que prospera e impõe novas agendas, assume mesmo que involuntariamente um caráter antiimperialista. Quanto mais instabilidade prevalecer entre os pobres, maior será o domínio dos ricos. Daí a razão das agendas dos países ricos, especialmente dos Estados Unidos, serem recheadas de intervencionismos, atentados contra a soberania dos países pobres, ocupações, guerras, fomentos de conflitos, etc.
A África no contexto geopolítico mundial
Munidos de chumbo e um enunciado racista que justificava o arbítrio, os impérios iniciaram um processo nefasto após o contato com a África. Primeiro através do tráfico transatlântico, dito com maior precisão: tráfico de carne humana para o trabalho escravo nas colônias do Novo Mundo. Posteriormente, implantam o colonialismo em solo africano, nele estabelecem outro papel ao continente: cessão de espaço vital (segundo o conceito ratzeliano) com objetivos de explorar matérias primas e constituir um pequeno mercado consumidor para compra de manufaturas.
Os dois eventos foram fundamentais para acumulação primitiva do capital, contribuíram com o desenvolvimento e consolidação do capitalismo. Logo, grande parte da riqueza dos poderosos decorre do saque ao continente negro. É possível atribuir a presença imperial da Europa e dos EUA e a complacência de uma minúscula elite africana, que sempre se locupletou com os saques de seu povo, a responsabilidade pelo atraso econômico e pela pobreza de um povo assentado em um continente que guarda uma incalculável riqueza.
Embora a estrutura colonial - iniciada na partilha da África, durante a Conferência de Berlim, em 1884 - tenha sido defenestrada de todo continente - em 2010 completa 50 anos que bandeiras anticolonial tremulam forte em solos africanos -, há heranças malditas do período colonial, a África sofre efeitos desse processo de exploração insana. Aos impérios, seu papel na geopolítica continua incólume: reserva territorial para exploração de matérias primas e compra de manufaturas – nem que seja arma e munição para alimentar conflitos.
Considerando que o lugar do Continente Africano foi estabelecido historicamente pelos impérios, a reversão dessa ordem será um duro golpe no imperialismo, pois quando cinqüenta países unidos em um único bloco, soberanamente reivindicarem seus destinos, os poderosos perderão a primazia do usufruto dos bens que os homens produzem e a natureza fartamente oferece.
Renascimento Africano
Assumindo o risco de incorrer em superficialidade, Renascimento Africano tem a mesma natureza que desenvolvimento africano, embora Renascimento guarde aspectos culturais, históricos e políticos singulares que não serão objetos desse texto. Para evitar dúvidas que surgem em explicações de conceitos políticos e salvaguardar a essência do termo, é perfeitamente possível afirmar que o substrato do Renascimento Africano é a conquista de melhor qualidade de vida aos africanos, a partir de projetos e planejamentos próprios, sem tutela. Uma Nova África está em pauta, no Continente e entre os movimentos sociais negros em toda diáspora (países que receberam africanos através do tráfico transatlântico e forte imigração em razão dos conflitos armados e da fome). Há convicção das forças internas conseqüentes e uma crescente solidariedade internacional, além de elementos objetivos que sustentam a tese que atribui ao século 21 o século do Renascimento Africano, seguem:
1. Vertiginosa explosão demográfica. A África atingiu a cifra de um bilhão de habitantes, segundo relatório de Population Reference Bureau (organismo dos EUA) calcula-se que em 2050 o Continente Africano atingirá a cifra e 349 milhões de jovens, equivalente a 29% do total mundial.
2. Avanço da democracia. Está em curso um processo de alternância de poder com ascensão de forças democráticas, em razão do envelhecimento dos governantes golpistas, arbitrários e com interesses ligados aos impérios. Depuseram violentamente governos revolucionários que ascenderam ao poder com apoio popular, são co-responsáveis pela maioria dos conflitos que assolaram a África nos últimos trinta anos. Novos tempos e novos ares se avizinham na vida política africana.
3. Instituição da União Africana (UA) com a tarefa de constituir os Estados Unidos da África, de modo que o projeto preconiza que os cinqüenta países diluirão em apenas um, uma nação forte. Esse processo está em estágio crescente de amadurecimento. Os africanos darão passos decisivos em 2010 na direção desse desafio. Formalizarão inicialmente entre os países subsaarianos, a chamada África Negra, visto que o enraizamento da cultura e interesses árabes no norte impede imediata unificação.
4. Presença de líderes africanos comprometidos com o Renascimento Africano na direção de todas as instituições multilaterais (ONU, UNESCO, UNICEF, OMC), de modo que o fortalecimento do multilateralismo joga água no moinho do Renascimento Africano, pois nesses espaços as lideranças buscam influenciar todas as resoluções importantes para as nações, exigem critérios justos na resolução de choques de interesses e trabalham para resgatar as dívidas que os impérios têm com o continente.
5. Fim dos conflitos e busca de resolução africana. A África tem se estabilizado, o continente outrora conflagrado, hoje está desafiado a encontrar resolução a cinco focos de conflitos, sendo o Sudão (concentrado em Darfur) o que mais preocupa, pois os outros (Somália, Uganda, Chade e o enclave angolano de Cabinda) estão em estágio avançado de resolução.
6. Forte presença do Estado no planejamento, fomento e execução do desenvolvimento. Trata-se de uma medida para blindar o acúmulo de experiências liberalizantes protagonizadas por interesses estrangeiros, além de não ceder o destino africano a exploração colonial imposta pelas transnacionais.
7. Formação de um corpo técnico qualificado. Em quinze anos se formará aproximadamente trinta milhões de africanos espalhados nas melhores universidades do planeta, concentrados majoritariamente em cursos tecnológicos. Há estimativa de um mínimo de 80% de repatriação. Essa experiência corresponde a uma necessidade orgânica da África e foi inspirada nas experiências chinesa e indiana na formação de seus quadros.
8. Exploração dos recursos naturais e agregação de valores para comercializar. É sabido que dos quarenta e oito minerais considerados estratégicos para o mundo industrializado, trinta e oito estão concentrado na África (petróleo, diamante, urânio, cobre, cobalto, etc.). Os africanos estão dispostos a aplicar todo conhecimento que acessarem para transformar sua riqueza em melhores condições de vida para população, por isso é possível que questões que assegura exclusividade de uso e comercio de conhecimento seja relativizada por eles.
Apoio ao Renascimento Africano
Para o efetivo Renascimento Africano urge recuperar o patrimônio intelectual africano deixado e sua contribuição no desenvolvimento da história e da economia do mundo. Um povo não se desenvolve quando sua auto-estima está comprometida, por isso é importante enfrentar o desafio de superar o modo de pensar dominante, ou seja, descolonizar o pensamento dos povos dominados, relativizar ou romper com o eurocentrismo e valorizar as construções genuinamente africanas.
Na hipoteca de solidariedade devemos considerar que, além dos elementos objetivos que sustentarão o Renascimento Africano, há outros níveis de necessidades que exigirão solidariedade e cooperação das nações e povos:
1. A África será próspera e livre se a sociedade civil se fortalecer, criar mecanismos e instituições que promovam a participação popular nos rumos dos países, abolirem definitivamente – por meios próprios - o uso da força para resolução de contradições.
2. Considerar que as classes dominantes invariavelmente viram a costa ao seu povo. Na África não é diferente. Há uma classe dominante nefasta, oportunista e corrupta, signatária dos desmandos provocados pelos interesses da burguesia internacional. Essa parcela da elite deve ser derrotada pelo bem do povo. Não advogo o fim das elites africanas, mas não podemos fazer vistas grossas aos que não desejam o fim das mazelas africanas porque enriquece com elas.
3. Não reconhecimento das dívidas externas contraídas com as potências mundiais. Na verdade as potências mundiais têm um grande passivo com a África, por isso considero a dívida externa africana imoral, ilegítima e ilegal. É um acinte, deve ser repudiada toda pressão do Banco Mundial ou do FMI para resgatá-las.
4. Intensificar a cooperação com investimento externo a fundo perdido em infra-estruturas, promover transferência de técnicas e advogar pelo fim do protecionismo agrícola dos europeus.
Devemos nos associar ao Renascimento Africano, somos beneficiários do bem mais precioso subtraído das terras africanas: gente. Temos identidade comum e o tema se constitui em uma causa antiimperialista. A África livre, próspera e altiva contradiz profundamente os interesses imperialistas.
Edson França é Coordenador Geral da UNEGRO e Membro do Comitê Central do PCdoB

Censo de 2010 afirme sua identidade religiosa, afinal, quem é de axé diz que é!

Segundo o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Ibge), apenas 0,3% da população geral do país (525 mil pessoas) se declaram praticantes de religiões de matrizes africanas, sejam elas o candomblé, a umbanda, o omolocô, o tambor de mina, o batuque entre outros elementos que formam o grande mosaico da religiosidade brasileira que se origina no continente africano. É interessante notar, no entanto, que festas como as de Yemonjá, tanto no Rio quanto em Salvador, as caminhadas que a cada ano se ampliam em todo o país, os dizeres e crendices populares, a literatura, o cinema e a tv, entre tantas outras manifestações brasileiras reconhecem nao só a existência da religiosidade de matriz africana como, também, mobilizam milhares, às vezes milhões de pessoas em torno de um festejo, da entrega de oferendas, do vestir-se de branco e do uso de fios-de-contas.

É perceptível que o temor da discriminação, a vergonha por praticar uma religião que é taxada como primitiva ou coisa de "negros e ignorantes" entre outros elementos faz com que milhares de pessoas não assumam sua religiosidade em público, não se orgulhem de sua prática de fé ou, como diz mãe Stella de Oxóssi, "é o caso de pensar se a pessoa tem algum problema, já que tem cargo ou função dentro da casa de santo mas para fora vai dizer que é católica", por exemplo.

Visando resgatar a auto-estima do praticante de religião de matriz africana e dar visibilidade maior ao número de praticantes em todo o país, o Coletivo de Entidades Negras (CEN) lançou na semana do 20 de novembro de 2009, durante a I Caminhada Nacional Pela Vida e Liberdade Religiosa, em Salvador, Bahia, com o apoio de diversas outras organizações sociais do Movimento Negro, a campanha "Quem é de Axé diz que é!

Esta campanha, cujo mote diz "Neste Censo, declare seu amor ao seu Orixá/Diga que é do Santo, diga que é do Gunzu, diga que é do Axé/Pois quem é de Umbanda, quem é de Candomblé/Não pode ter vergonha, tem que dizer que é!", buscará falar ao praticante de cada uma das vertentes religiosas de matriz africana no país, buscará valorizar o fazer religioso, buscará afirmar a identidade religiosa de cada homem, mulher e criança que pratica a religião.

O CEN acredita que esta campanha possibilitará uma alteração substancial nos números do Censo e, ao mesmo tempo, dará elementos para que novas políticas públicas sejam criadas especificamente para o povo-de-santo, uma vez que, havendo uma real impressão sobre a totalidade de praticantes no país, se terão elementos à mão para formular e aplicar estas novas políticas.

Para o CEN, a campanha "Quem é de Axé diz que é!' será um passo importante também para o combate à intolerância religiosa uma vez que ao assumir sua religiosidade, seu praticante, tendo sua auto-estima elevada, adotará cada vez mais os elementos visíveis desta afirmação de identidade e, ao mesmo tempo constrangerá aqueles que fazem da intolerância ou do desrespeito religioso uma ação cotidiana.


Participe dessa Campanha! Divulgue essa marca!
www.cenbrasil. org.br

CEN Brasil.
Acesse: http://www.cenbrasi l.org.br

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

É preciso descolonizar a globalização

“É preciso descolonizar a globalização”
Em debate realizado sábado (30) em Salvador, durante do Fórum Social Mundial Temático da Bahia, pesquisadores e ativistas do movimento social afirmaram a urgência de se descolonizar o pensamento e o conhecimento na África e América Latina. Para o africano Samba Buri MBoup, é preciso descolonizar a globalização, recuperando o patrimônio intelectual deixado pelos africanos e a contribuição do continente no desenvolvimento da história e da economia o mundo.
Bia Barbosa
Um dos principais desafios para construção de um outro mundo possível, na busca pela igualdade entre os seres humanos, é fazer aquilo que está simbolizado na própria logomarca do Fórum Social Mundial: tratar os continentes de forma igualitária. E um dos primeiros e mais estratégicos passos neste sentido é o desafio da descolonização do pensamento e do conhecimento produzido e distribuído nas duas regiões mais pobres do planeta: a África e a América Latina. Este foi um dos temas debatidos neste sábado (30), em Salvador, durante do Fórum Social Mundial Temático da Bahia, onde professores, pesquisadores e militantes do movimento social chegaram à conclusão de que a própria globalização também precisa ser descolonizada.“Descolonizar o pensamento é enfrentar os desafios colocados pelo eurocentrismo e pelo etnocentrismo como modos de pensar dominantes. No quadro histórico marcado pelo colonialismo europeu, quando essa visão , centrada na Europa, é utilizada como grade de leitura e interpretação da realidade de todo o mundo, constrói-se uma visão distorcida dos padrões e da natureza dos povos”, explica o senegalês Sampa Buri Mboup, professor da Universidade da África do Sul.Essência do pensamento colonial, o eurocentrismo foi, durante séculos, a base do projeto predatório e opressivo aplicado pelas elites e povos do continente Europeu, garantindo a manutenção de seus interesses. No Brasil, o colonialismo e o pensamento produzido no período estão diretamente relacionados à construção da sociedade brasileira. Era preciso construir um discurso que justificasse a escravidão e a opressão contra os povos indígenas e negros.“Os dominadores se utilizaram de um discurso religioso, que dizia que os negros precisavam ser purificados através do batismo. Todos os que aqui chegavam eram batizados e catequizados. O discurso ideológico, aliado à força, foi u m instrumento usado para manter o poder e construir a estabilidade para a classe dominante”, conta Edson França, coordenador da Unegro.Com a crise provocada pela Reforma e a ascensão do Iluminismo, foi preciso encontrar uma justificativa racional para a supremacia do eurocentrismo e a conseqüente manutenção da escravidão no Brasil. Chega então ao país o discurso chamado de racismo científico, cuja base é a classificação racial, onde o branco está no alto da pirâmide, do ponto vista da sua superioridade biológica, e o negro abaixo de qualquer etnia. “Esse discurso permitiu animalizar e fazer dele o uso necessário dele. Durante todo o processo de dominação ele não foi contestado na academia e acabou assimilado pelo senso comum. Quando o papa disse que negro não tinha alma, ninguém se contrapôs. Era preciso não apenas justificar a escravidão para as classes dominantes, mas fazer com que o próprio dominado também absorvesse o discurso. A baixa auto-estima da população negra permitiu, então, a intensificação na fragmentação, em vez da unidade para fazer o combate ao pensamento e à estrutura social vigente”, explica Edson França.Quando o racismo deixou de servir aos interesses do capitalismo moderno – e veio a idéia de que era preciso libertar os escravos para aumentar a massa de consumidores –, o discurso colonizado apostou na miscigenação como forma de “branquear o Brasil”. E até hoje os efeitos provocados pelo pensamento colonial são estruturantes para a desigualdade entre brancos e não brancos em nosso país.
Descolonizar a globalizaçãoPara os movimentos que se organizam em torno do Fórum Social Mundial, há um número de desafios e apostas estratégicas que se colocam pela frente na construção deste outro mundo possível no que diz respeito à descolonização do pensamento. Para o professor Samba Buri MBoup, é preciso começar descolonizando a compreensão do próprio conceito de globalização, já que o mundo global também tem sustentado essa desigualdade. São tarefas que vão da desconstrução do mito da África como um continente sem história ao combate à idéia da marginalidade do continente no comércio e na economia.“Apesar do discurso dominante, há muitas provas de que a África foi palco de uma h istória e ciên cia tão antigas quanto os primórdios do mundo e central em todos os momentos da economia mundial: na fase de acumulação primitiva, na colonização, na revolução industrial, na era pós-colonial e até hoje. A realidade é apresentada de cabeça pra baixo, para que olhemos para nós mesmos como se fôssemos menores, enquanto nosso continente é o berço da civilização humana. É preciso reavaliar o potencial da herança africana”, cobra MBoup. No continente mais esquecido do planeta, a alternativa ao discurso colonial da África é chamada de Renascimento Africano, um projeto global de sociedade e civilização construído na resposta coletiva e organizada da África aos desafios da globalização. O projeto, já encampado por 20 países, propõe o domínio do conhecimento científico e da tecnologia; a autonomia e rejuvenescimento da consciência política africana – como resposta à crise de lideranças no continente –; e a consci entização basea da na unidade dos povos africanos. “Há estudos que demonstram de forma clara e irrefutável a profunda unidade cultural dos povos africanos. Hoje interceptam o potencial de desenvolvimento africano, a serviço de uma causa que não é nossa, ao imporem uma situação de monolitismo e intolerância religiosa, quando a historia africana é de pluralismo. Esta é uma tarefa que também temos que ensinar nas escolas”, conclui Samba Buri MBoup.

A vida me ensinou a ser negra

A vida me ensinou a ser negra
Fonte O Globo/RJ
AZUETE FOGAÇA
A primeira vez que escrevi sobre a questão racial brasileira foi nos anos 70, em resposta a um texto lido na "Folha de S.Paulo", no qual se comparava a sociedade brasileira com a sul-africana, chegando-se à conclusão que, se o Brasil adotasse algumas medidas semelhantes às do apartheid, a situação dos negros seria melhor do que era então. Quase quarenta anos e muitas lutas depois, é decepcionante, embora não seja surpreendente, observar a recusa da sociedade brasileira a aceitar a existência da desigualdade racial entre nós. A se levar a sério o que esses arautos da igualdade racial falam, o Brasil seria o único país cujo passado escravocrata não teria gerado preconceitos, discriminação e desigualdade com base nas diferenças étnicas e culturais entre brancos e negros.
Impossível, neste caso, não associar, de alguma forma, esta recusa à existência de racismo à negação do Holocausto. No mundo ocidental, o que inclui o Brasil, à absurda tese de Ahmadinejad acertadamente se responde com a História, com os depoimentos dos sobreviventes, com as fotos dos campos de concentração, com os documentos do governo nazista e outros dados que comprovam a tentativa de extermínio; e a mobilização permanente dos judeus é extremamente importante para que tal horror não se repita.
Mas, no caso do racismo brasileiro, aos fatos da História do Brasil que revelam as raízes da questão racial, se reserva o esquecimento; aos dados socioeconômicos que confirmam a discriminação, se reserva a desconfiança, como se fossem dados forjados; aos depoimentos dos negros quanto às humilhações sofridas e às suas reivindicações igualitárias ou reparadoras das injustiças históricas, se reserva o descrédito e a mensagem explícita do chamado "racismo às avessas". É neste contexto que o Dia Nacional da Consciência Negra é, erradamente, visto como uma comemoração exclusiva da população negra, quando deveria ser o dia em que essa sociedade brasileira, que se diz miscigenada e avessa ao racismo, mostraria seu orgulho em ter, na sua formação e desenvolvimento, e ao lado da herança europeia, a vasta e importante contribuição dos negros.
Mas, infelizmente, não é assim.
Ao discurso da igualdade se contrapõem práticas que, na verdade, demonstram uma certa nostalgia do período escravocrata, ou do tempo em que os negros se resignavam com a condição de subalternidade; a mãe-preta e as mucamas com certeza deixaram saudades nos herdeiros da casa-grande, assim como hoje se lamenta a falta das empregadas domésticas que abriam mão de suas vidas próprias para cuidar de várias gerações de uma mesma família.
Ao discurso da miscigenação como evidência da igualdade racial se opõe a constatação de que muito dessa miscigenação se deve a atos de força, ao uso das escravas como objetos sexuais, o que de certa forma sobrevive até hoje, na exploração negativa da imagem da mulher negra e na condenação à miséria que leva à prostituição.
A Consciência Negra significa o conhecimento e a compreensão dessa realidade, e a luta para mudá-la. Significa criar modelos positivos, para que as crianças e os jovens negros acreditem que podem ser professores, engenheiros ou médicos, que não há nada de errado em ter nariz chato e pele escura, que ninguém nasce predestinado a ser criminoso ou prostituta e que é preciso se organizar para enfrentar os mecanismos sociais que perpetuam a desigualdade.
No Brasil, apelar para a miscigenação e se dizer negro é fácil.
Difícil é viver como negro. Quando eu era menina, eu era apenas uma mestiça de pele marrom. A vida me ensinou a ser negra.
AZUETE FOGAÇA é professora da Universidade Federal de Juiz de Fora.





sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O Haiti e a maldição branca

O Haiti e a maldição branca
No primeiro dia deste ano, a liberdade completou dois séculos de vida no mundo. Ninguém se inteirou disso, ou quase ninguém.

Por Eduardo Galeano
O Haiti foi o primeiro país onde se aboliu a escravidão. Contudo, as enciclopédias mais conhecidas e quase todos os livros de escola atribuem à Inglaterra essa histórica honra. É verdade que certo dia o império que fora campeão mundial do tráfico negreiro mudou de idéia; mas a abolição britânica ocorreu em 1807, três anos depois da revolução haitiana, e resultou tão pouco convincente que em 1832 a Inglaterra teve de voltar a proibir a escravidão.

Nada tem de novo o menosprezo pelo Haiti. Há dois séculos, sofre desprezo e castigo. Thomas Jefferson, prócer da liberdade e dono de escravos, advertia que o Haiti dava o mau exemplo, e dizia que se deveria "confinar a peste nessa ilha". Seu país o ouviu. Os Estados Unidos demoraram 60 anos para reconhecer diplomaticamente a mais livre das nações.

Por outro lado, no Brasil chamava-se de haitianismo a desordem e a violência. Os donos dos braços negros se salvaram do haitianismo até 1888. Nesse ano o Brasil aboliu a escravidão. Foi o último país do mundo a fazê-lo.

O Haiti voltou a ser um país invisível, até a próxima carnificina. Enquanto esteve nas TVs e nas páginas dos jornais, no início deste ano, os meios de comunicação transmitiram confusão e violência e confirmaram que os haitianos nasceram para fazer bem o mal e para fazer mal o bem.

Desde a revolução até hoje, o Haiti só foi capaz de oferecer tragédias. Era uma colônia próspera e feliz e agora é a nação mais pobre do hemisfério ocidental. As revoluções, concluíram alguns especialistas, levam ao abismo. E alguns disseram, e outros sugeriram, que a tendência haitiana ao fratricídio provém da selvagem herança da África. O mandato dos ancestrais. A maldição negra, que empurra para o crime e o caos.

Da maldição branca não se falou.

A Revolução Francesa havia eliminado a escravidão, mas Napoleão a ressuscitara:

- Qual foi o regime mais próspero para as colônias?

- O anterior.

- Pois, que seja restabelecido.

E, para substituir a escravidão no Haiti, enviou mais de 50 navios cheios de soldados. Os negros rebelados venceram a França e conquistaram a independência nacional e a libertação dos escravos.

Em 1804, herdaram uma terra arrasada pelas devastadoras plantações de cana-de-açúcar e um país queimado pela guerra feroz. E herdaram "a dívida francesa". A França cobrou caro a humilhação imposta a Napoleão Bonaparte. Recém-nascido, o Haiti teve de se comprometer a pagar uma indenização gigantesca, pelo prejuízo causado ao se libertar. Essa expiação do pecado da liberdade lhe custou 150 milhões de francos-ouro.

O novo país nasceu estrangulado por essa corda presa no pescoço: uma fortuna que atualmente equivaleria a US$ 21,7 bilhões ou a 44 orçamentos totais do Haiti atualmente. Muito mais de um século demorou para pagar a dívida, que os juros multiplicavam. Em 1938, por fim, houve e redenção final.

Nessa época, o Haiti já pertencia aos brancos dos Estados Unidos.

Nem Bolívar

Em troca dessa dinheirama, a França reconheceu oficialmente a nova nação. Nenhum outro país a reconheceu. O Haiti nasceu condenado à solidão. Tampouco Simon Bolívar a reconheceu, embora lhe devesse tudo. Barcos, armas e soldados lhe foram dados pelo Haiti em 1816, quando Bolívar chegou à ilha, derrotado, e pediu apoio e ajuda.

O Haiti lhe deu tudo, com a única condição de que libertasse os escravos, uma idéia que até então não lhe havia ocorrido. Depois, o herói venceu sua guerra de independência e expressou sua gratidão enviando a Port-au-Prince uma espada de presente. Sobre reconhecimento, nem uma palavra.

Na realidade, as colônias espanholas que passaram a ser países independentes continuavam tendo escravos, embora algumas também tivessem leis que os proibia. Bolívar decretou a sua em 1821, mas, na realidade, não se deu por inteirada. Trinta anos depois, em 1851, a Colômbia aboliu a escravidão, e a Venezuela em 1854.

Em 1915, os fuzileiros navais desembarcaram no Haiti. Ficaram 19 anos. A primeira coisa que fizeram foi ocupar a alfândega e o escritório de arrecadação de impostos. O exército de ocupação reteve o salário do presidente haitiano até que este assinasse a liquidação do Banco da Nação, que se converteu em sucursal do City Bank de Nova York.

O presidente e todos os demais negros tinham a entrada proibida nos hotéis, restaurantes e clubes exclusivos do poder estrangeiro. Os ocupantes não se atreveram a restabelecer a escravidão, mas impuseram o trabalho forçado para as obras públicas.

E mataram muito. Não foi fácil apagar os fogos da resistência. O chefe guerrilheiro Charlemagne Péralte, pregado em cruz contra uma porta, foi exibido, para escárnio, em praça pública.

A missão civilizadora terminou em 1934. Os ocupantes se retiraram deixando no país uma Guarda Nacional, fabricada por eles, para exterminar qualquer possível assomo de democracia. O mesmo fizeram na Nicarágua e na República Dominicana. Algum tempo depois, Duvalier foi o equivalente haitiano de Somoza e Trujillo.

E, assim, de ditadura em ditadura, de promessa em traição, foram somando-se as desventuras e os anos. Aristide, o cura rebelde, chegou à presidência em 1991. Durou poucos meses. O governo dos Estados Unidos ajudou a derrubá-lo, o levou, o submeteu a tratamento e, uma vez reciclado, o devolveu, nos braços dos fuzileiros navais, à Presidência.. E novamente ajudou a derrubá-lo, neste ano de 2004, e outra vez houve matança. E de novo os fuzileiros, que sempre regressam, como a gripe.

Entretanto, os especialistas internacionais são muito mais devastadores do que as tropas invasoras. País submisso às ordens do Banco Mundial e do Fundo Monetário, o Haiti havia obedecido suas instruções sem pestanejar. Eles o pagaram negando-lhe o pão e o sal.

Náufragos anônimos

Teve seus créditos congelados, apesar de ter desmantelado o Estado e liquidado todas as tarifas alfandegárias e subsídios que protegiam a produção nacional. Os camponeses plantadores de arroz, que eram a maioria, se converteram em mendigos ou emigrantes em balsas. Muitos foram e continuam indo parar nas profundezas do Mar do Caribe, mas esses náufragos não são cubanos e raras vezes aparecem nos jornais.

Agora, o Haiti importa todo seu arroz dos Estados Unidos, onde os especialistas internacionais, que é um pessoal bastante distraído, se esquecem de proibir as tarifas alfandegárias e os subsídios que protegem a produção nacional.

Na fronteira onde termina a República Dominicana e começa o Haiti, há um cartaz que adverte: o mau passo.

Do outro lado está o inferno negro. Sangue e fome, miséria, pestes…

Nesse inferno tão temido, todos são escultores. Os haitianos têm o costume de recolher latas e ferro velho e, com antiga maestria, recortando e martelando, suas mãos criam maravilhas que são oferecidas nos mercados populares.

O Haiti é um país jogado no lixo, por eterno castigo à sua dignidade. Ali jaz, como se fosse sucata. Espera as mãos de sua gente.

Eduardo Galeano é escritor e jornalista uruguaio, autor de As Veias Abertas da América Latina e Memórias do Fogo.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Não foi só o terremoto que implodiu a ilhazinha dos pretos, o racismo metódico e cotidiano dá corpo ao genocídio sistematizado e previsível.

Não foi só o terremoto que implodiu a ilhazinha dos pretos, o racismo metódico e cotidiano dá corpo ao genocídio sistematizado e previsível.

por Arísia Barros


O Haiti é uma ilhazinha dos pretos. Dos pretos mais pobres da América. A ilhazinha é símbolo da resistência de um povo que ousou cultuar sua fé, a cultura.

Em 1804 a ilhazinha dos pretos tornou-se a primeira república negra e o primeiro país da América Latina a conquistar sua independência e até hoje paga um preço altíssimo Os pretos não se renderam à França, mas a metrópole européia buscou derrotá-los pela força do capital. A França cujo lema é Liberté,Égalité, Fraternité, ou seja, Liberdade, Igualdade, Fraternidade, cobrou, durante 100 anos, uma indenização pelas terras e “escravos” perdidos com a independência.

20 bilhões de dólares foi o valor da quota dos pretos pago à metrópole européia para ter direito a “carta de alforria” e o mundo não interviu...

Na ilhazinha dos pretos o que mais se tem é preto. Na ilhazinha a língua falada é o Kreyòl. No último censo em julho de 2007, eram 95% de negros e só 5% mulatos e brancos. Território quase 100% africano, uma África por excelência, e, é interessante como a condição étnica da população da ilhazinha dos pretos é invisibilizada nas inúmeras reportagens pós-terremoto em que o Haiti, agora, é protagonista.

O terremoto humano no Haiti acontece faz tempo. A AIDS no Haiti é um tsunami. Já matou 24.000 pessoas. A hepatite e malária também matam. Com a violência das catástrofes.

Na verdade a ilhazinha dos pretos vive no olho do furacão: 52,9% da população é analfabeta, outra maioria vive abaixo da linha da pobreza, os índices de mortalidade infantil e maternal são extremamente altos e segundo a ONU 70% dos quase dez milhões de haitianos estão desempregados. Na época da revolução haitiana negros era constantemente assassinados e açoitados. Na ilhazinha atual pretos morrem cotidianamente submetidos à fome, as doenças, as tragédias ambientais, as invasões, à ditadura. A Metrópole Européia isolou a ilhazinha dos pretos do continente americano para forçar a desgraça humana. A Metrópole Européia isolou a ilhazinha dos pretos para sucatear sua identidade soberanamente africana. Ancestral!

A escravidão de pretos é tratada com naturalidade, porque é “natural” para “um” mundo racista que pretos sejam explorados e oprimidos, que o digam os pretos que cotidianamente são feridos em sua dignidade pela condição étnica..

A condição étnica do Haiti cria condições favoráveis para que queiram aboli-lo do planeta. O Haiti é preto e pobre, entretanto o cônsul do Haiti no Brasil é branco.Quanto mais pobre for o Haiti mais fácil é derrotar a ilhazinha dos pretos. Foi lá que aconteceu a primeira revolução anti-escravagista e anti-colonialista da humanidade. Identidade e resistência. Lá também aconteceu uma invasão americana.

Á margem de uma extrema pobreza o “farol da liberdade do povo negro no mundo”, vive só em sua busca de liberdade. No mercado de trabalho,segundo a UNESCO, a mão de obra do Haiti é a mais barata do mundo. Mão de obra escrava!

Mas, não foi só o terremoto que implodiu a ilhazinha dos pretos, o racismo metódico e cotidiano dá corpo ao genocídio sistematizado e previsível.

O terremoto em Porto Príncipe não é pior crise humanitária em décadas, como arvoram as “autoridades’. A pior crise é o escombro moral provocada pela política utilitária de ocupação da ilhazinha dos pretos. Há séculos..

Se a infraestrutura do Haiti não fosse tão precária mais vidas poderiam ser salvas...

A democracia do Haiti é ferida constantemente, mesmo sem os desmontes da natureza. A ilhazinha possui belas praias, curte jazz e Hip-Hop. Localizada na entrada das Américas, mesmo combalida, quase exterminada, buscará caminhos para manter a soberania e a dignidade de seu povo.

É urgente que a missão humanitária internacional, inclusive o Brasil, de forma organizada e racional ajude o Haiti, hoje, a sair do caos e lenta mais persistente na construção do projeto de identidade nacional da ilhazinha dos pretos: a liberdade como condição de cidadania! A Gigantesca ilhazinha dos pretos têm um lema em kréyol na língua dos “escravos” em contraponto ao Liberté, Égalité, Fraternité que diz: “bite n´bite nous pas tombe”, ou “seja tropeçamos, mas não caímos”. A ilhazinha dos pretos renascerá!