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Documentário inédito, que tenta captar o debate sobre a identidade
racial do país, terá sua primeira exibição na Première Brasil – Hors
Concours
O cineasta brasileiro Joel Zito Araújo e a documentarista
norte-americana Megan Mylan – vencedora do Oscar com o filme Smile Pinki
(2008) – se tornaram amigos em meados da década de 1990, mas foi em
2004 que surgiu a ideia de dirigirem um longa-metragem juntos. Fruto
dessa parceria, o documentário “Raça”, coprodução entre Brasil e Estados
Unidos, será exibido pela primeira vez na Mostra Première Brasil– Hors
Concours, no Festival do Rio.
Para captar o debate racial que se tornou constante na mídia desde o
início do século XXI, os diretores decidiram acompanhar de perto,
durante cindo anos, três personalidades negras que estão – cada uma a
sua maneira – na linha de frente dessa batalha pela igualdade: Paulo
Paim, único negro no Senado Federal; Netinho de Paula, cantor,
apresentador de TV e empresário; e Miúda dos Santos, neta de escravos e
ativista quilombola. Joel e Megan fecharam uma parceria com o Fundo
Baobá. Quando o filme for lançado no circuito no primeiro semestre de
2013, parte da renda obtida pela bilheteria nacional será revertida para
a entidade voltada à promoção da equidade racial da população negra
brasileira.
O documentário foi filmado entre 2005 e 2011. A preocupação dos
diretores em examinar o tema de forma ampla se revela por meio de
personagens de diferentes regiões do país – Brasília, São Paulo e
Espírito Santo – envolvidos em projetos díspares que têm em comum a
busca pela superação da desigualdade racial. “A ideia por trás da
escolha dos personagens foi mostrar histórias que contemplassem a
diversidade de renda e gênero no universo específico da população negra
brasileira”, diz Joel Zito. “Foi um privilégio acompanhar este momento
histórico de transformação social no Brasil. Queremos utilizar o poder
de cinema, de uma história bem contada, para discutir como um Brasil
moderno pode ser um país que valoriza a diversidade e a inclusão”,
explica Megan Mylan.
Foram dedicados cerca de três anos para cada personagem. O filme
acompanhou os esforços do senador Paulo Paim para sancionar a lei do
“Estatuto da Igualdade Racial” no Congresso Nacional, em Brasília. Autor
do projeto original que demorou quase uma década para ser aprovado,
Paim se emociona ao discursar no Supremo Tribunal Federal, em um debate
tenso: “Eu não quero nada. Só dêem oportunidade para um povo que foi
sempre excluído. Só quem é negro sabe o quanto que é difícil essa
caminhada”. O senador ressalta que, apesar de o Brasil ter a segunda
maior população negra do mundo e de ter areputação de harmonia racial,
os negros permanecem praticamente ausentes da mídia e da política
brasileira.
O documentário apresenta a luta de Miúda dos Santos – neta de africanos
escravizados e ativista quilombola – pela posse das terras e pelo
respeito às suas tradições ancestrais da Comunidade Quilombola de
Linharinho, no Espírito Santo. Junto com os moradores da região, Miúda
briga contra um gigante do ramo da celulose, a empresa Aracruz. “Desde a
década de 70 que uma grande plantação de eucalipto tomou todos os
territórios. Os quilombolas são povos tradicionais que têm sua cultura,
sua religião de matriz africana, danças e comidas típicas. Ficamos
confinados”, conta Miúda durante o protesto organizado pela Coordenação
Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas
(Conaq), em Brasília.
“Raça” mostra também os bastidores da trajetória do cantor, apresentador
e empresário Netinho de Paula durante todo o processo de criação e
tentativa de consolidar o seu canal TV da Gente. Fundada em 2005, no
interior de São Paulo, a emissora formada majoritariamente por
profissionais negros foi idealizada por Netinho, que explica, durante
uma entrevista, que “a democracia racial no Brasil não existe no campo
das comunicações. O país está caminhando para uma mudança e a TV faz
parte de uma mudança”, diz o artista.
sandro josé da silva
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