1. Aqualtune (c.1600-?) - princesa e comandante militar

Derrotada, foi vendida como escrava e trazida para Alagoas. No engenho onde estava como escrava ficou sabendo da existência do Quilombo dos Palmares e fugiu para o local levando consigo vários companheiros.
Ali teria três filhos que se destacariam na luta contra a escravidão: Ganga Zumba e Gana, líderes no Quilombo dos Palmares; e Sabina, a mãe de Zumbi.
A causa da sua morte é incerta, mas seus feitos ajudaram a consolidar o Quilombo dos Palmares como refúgio dos escravos na colônia.
2. Zumbi dos Palmares (1655-1695) - líder do Quilombo dos Palmares

Zumbi já nasceu no Quilombo e, portanto, livre. No entanto, numa das incursões contra o quilombo foi vendido para um sacerdote e assim estudou latim e português.
Desta forma sabia das péssimas condições de vida que estavam submetidos os africanos que eram trazidos à força para trabalharem nos engenhos nordestinos.
Volta ao Quilombo e quem o liderava era Ganga-Zumba. Nessa época, o lugar já tinha uma população de 30 mil pessoas e representava uma ameaça ao governo português. Por isso, decidem fazer uma oferta para que se entreguem se violência.
A proposta é rejeitada por Zumbi que teria armado uma emboscada para Ganga-Zumba ou o envenenado. Começa, assim uma guerra entre os quilombolas, colonos e a Coroa portuguesa.
Liderando o Quilombo dos Palmares, seu exército foi derrotado, sua cabeça exposta em praça pública, mas seu exemplo de luta foi passado de geração em geração. A vida de Zumbi se tornou exemplo para o movimento negro atual.
3. Dandara (? - 1694) - esposa de Zumbi

Para não ser pega pelos soldados coloniais, Dandara preferiu suicidar-se, atirando-se num precipício.
4. Aleijadinho (1738(?)-1814) - escultor e arquiteto

Sendo pardo ou mulato nem sempre recebia o que lhe correspondia por suas obras e muitas peças não podem ter a autoria confirmada por carecerem de contrato.
Mesmo assim foi encarregado de várias obras importantes das ordens religiosas mais ricas da região das Minas Gerais. Suas obras estão em cidades como Congonhas, Mariana e Sabará e em vários museus brasileiros.
Desenvolveu uma doença degenerativa que o fez perder (ou paralisar) os dedos das mãos e dos pés.Mesmo gravemente enfermo não parou de trabalhar e imprimiu às suas criações um estilo inconfundível sendo reconhecido como grande mestre barroco do período.
5. Tereza de Benguela (?-1770) - rainha do Quilombo de Quariterê

Após ter tido seu exército derrotado, Tereza de Benguela foi morta e decapitada com a cabeça exposta em praça pública. Desta maneira, o governo pretendia o castigo por desafiá-lo servisse de exemplo para todos.
Dia 25 de julho, data de sua morte, é celebrado o Dia da Mulher Negra no Brasil.
6. Mestre Valentim (1745-1813) - paisagista e arquiteto

No Brasil, estabeleceu-se no Rio de Janeiro, então capital da colônia. Prestou serviço para as grandes ordens religiosas e realizou trabalhos para o Mosteiro de São Bento, a Igreja de Santa Cruz dos Militares e a Igreja de São Pedro Clérigos (já demolida).
Chamado de "Aleijadinho carioca" pelo seu talento foi também o autor do traçado original do Passeio Público e do Chafariz das Marrecas.
No entanto, sua obra mais conhecida é chafariz localizado na atual Praça Quinze, onde centenas de escravos recolhiam água para abastecer as casas.
7. Padre José Maurício (1767-1830) - músico e compositor

Com a vinda da Família Real ao Brasil, em 1808, a vida cultural do Rio de Janeiro sofreu um incremento considerável.
O príncipe-regente Dom João, admirador da música, nomeou-lhe mestre de Capela e o fez cavaleiro da Ordem de Cristo, uma das mais tradicionais ordens portuguesas.
Compôs, sobretudo, música religiosa que refletem exatamente a transição do barroco para o classicismo pela qual passava a música europeia.
Com as comemorações do bicentenário da Família Real em 2008, a obra de José Maurício Nunes Garcia foi redescoberta. Assim surgiram várias gravações de orquestras brasileiras e internacionais que permitiram sua divulgação às novas gerações.
8. Maria Firmina do Reis (1822-1917) - escritora e professora

Foi a primeira mulher a passar para o concurso público como professora, a fundar uma escola mista e a escrever um romance "Úrsula" . Este livro anteciparia o gênero de literatura abolicionista que seria moda com "Escrava Isaura", de Bernado Guimarães (1825-1884).
Publicaria em 1871 um conto com a mesma temática "A Escrava" e reuniria seus poemas na coletânea "Cantos à beira-mar".
Maria Firmina foi completamente esquecida e silenciada da História do Brasil, mas pesquisas recentes tem trazido luz sobre sua obra e vida.
9. Luís Gama (1830-1882) - escritor e ativista político

Foi para São Paulo aos 10 anos e trabalhou como escravo doméstico. Aprendeu a ler aos 17, e nesta época, conseguiu provar junto aos tribunais que era mantido como escravo injustamente e que, portanto, deveria ser posto em liberdade.
Um vez livre, Gama passou a atuar como rábula, um advogado sem diploma que pleiteava causas específicas. No seu caso, Luís Gama conseguiu libertar mais de 500 escravos alegando que todo negro chegado ao Brasil após 1831 deveria ser livre, tal como dizia a Lei Feijó.
Escritor abolicionista, o enterro de Luís Gama foi um verdadeiro acontecimento em São Paulo acompanhado por 4000 pessoas.
Em 2015, a OAB - Ordem de Advogados do Brasil, lhe concedeu postumamente o título oficial de advogado.
10. André Rebouças (1838-1898) - engenheiro e ativista político

Construiu docas nos portos de Salvador, Rio de Janeiro e Recife. Propôs meios para melhorar o abastecimento de água da capital do Império e planejou linhas ferroviárias junto com seus irmãos Antonio e José.
Abolicionista, amigo da Família Imperial, foi um dos fundadores da "Sociedade Brasileira Contra a Escravidão". A princesa Isabel causou escândalo quando dançou com André Rebouças nos bailes da Corte deixando claro sua posição abolicionista.
Monarquista, acompanhou a família imperial no seu exílio em Lisboa e dali partiu para Angola.
11. Francisco José do Nascimento (1839-1914) - marinheiro e ativista político

Em 1881, os jangadeiros, liderados por Francisco do Nascimento, se recusam a transportar os escravos para o sul do país. Desta forma, o comércio ficou paralisado.
O ato do jangadeiro correu por todo país e foi saudado pelos abolicionistas como um gesto heroico. A partir de então, sua alcunha seria "Dragão do Mar" e entraria para história do estado e do país.
O Ceará foi a primeira província do Brasil a abolir a escravidão em 1884.
12. Machado de Assis (1839-1908) - escritor, jornalista e poeta

Foi funcionário público em vários ministérios, enquanto desenvolvia sua atividade literária publicando crônicas e contos nos jornais.
Além disso, fundou a Academia Brasileira de Letras, e foi seu primeiro presidente. A instituição ainda cumpre um importante papel na divulgação da língua portuguesa e tem a sua sede no Rio de Janeiro.
13. Estêvão Silva (1845-1891) - pintor, desenhista e professor

Especializou-se na pintura de naturezas-mortas, e o crítico Gonzaga Duque observou que "ninguém era capaz de pintá-las tão bem quanto Estêvão Silva". Igualmente, retratou paisagens e figuras religiosas.
Apesar de esquecido pela historiografia brasileira, Estêvão Silva participou do Grupo Grimm, que renovou o paisagismo brasileiro no século XIX.
Na praia da Boa Viagem, em Niterói, os membros pintavam sob orientação do alemão Georg Grimm. Faziam parte artistas como Antônio Parreiras e França Júnior, entre outros.
O Museu Afro Brasil, em São Paulo, realizou uma exposição para resgatar a figura deste importante personagem.
14. José do Patrocínio (1853-1905) - farmacêutico e ativista político

No entanto, cedo trocou o laboratório pela redação de jornais onde defendia ardorosamente o fim da escravidão.
Com Joaquim Nabuco, em 1880, fundou Sociedade Brasileira Contra a Escravidão. Além de comícios políticos, a organização arrecadava dinheiro para alforrias e facilitava fugas de escravos. Do mesmo modo, concorreu e ganhou a eleição para vereador do Rio de Janeiro em 1886.
Assinada a Lei Áurea, em 1888, Patrocínio vai a Paris, de onde volta com o primeiro automóvel da cidade do Rio de Janeiro. Igualmente, investe suas economias na fabricação de dirigíveis. Falece de tuberculose aos 51 anos de idade.
15. João da Cruz e Souza (1861-1898) - poeta e escritor

Partiu para a capital, onde foi arquivista da Estrada de Ferro Central do Brasil. Colaborava com diversos jornais e estava atento a causa abolicionista que se desenrolava naquele momento.
Publicou três livros em vida, mas foi sua obra póstuma "Evocações" que lhe garantiu um lugar entre os grandes escritores brasileiros.
Seus poemas são os primeiros do estilo simbolista no Brasil. Apesar disso, faleceu tal qual um poeta romântico, pois a tuberculose terminou com sua vida quando tinha apenas 36 anos.
16. Mãe Menininha do Gantois (1894-1986) - Iyálorixá

Mãe Meninha do Gantois foi escolhida aos 28 anos para ser a dirigente do Gantois, terreiro que havia sido fundado por sua bisavó.
Na década de 30, as celebrações de Candomblé ou Umbanda estavam proibidas por lei. Porém, ela se destacou em fazer que o Candomblé fosse conhecido por intelectuais e políticos.
A legião de admiradores da mãe de santo incluíam nomes como Jorge Amado, Dorival Caymmi, Vinícius de Moraes, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa, etc.
Graças a sua sabedoria, a religião afro-brasileira ganhou mais visibilidade e respeito.
17. Pixinguinha (1897-1973) - músico, compositor e arranjador

Na época do cinema mudo, os artistas negros não eram contratados para as orquestras que acompanhavam o filme, nem tocavam no hall do cinema.
No entanto, com a gripe espanhola, Pixinguinha consegue convencer um produtor a contratar o seu conjunto “Os Oito Batutas” , integrado somente por músicos negros. O grupo animaria os espectadores antes das projeções dos filmes.
Pixinguinha vai para o rádio onde escreve arranjos e conhece os grandes cantores da época, como Orlando Silva, que gravaria “Carinhoso”.
Suas canções até hoje estão no repertório dos grupos de choro, samba e MPB, pois ele é considerado o fundador da moderna música brasileira.
18. Antonieta de Barros (1901-1952) - professora, jornalista e deputada

De igual maneira, fundou jornais onde defendia ideias feministas. Na década de 30, entrou na política e foi a primeira deputada estadual negra do país e primeira deputada mulher do estado de Santa Catarina.
Igualmente, foi eleita em 1934 pelo Partido Liberal Catarinense na assembleia que redigiria a nova Constituição. Esteve nas comissões que relatariam os capítulos Educação e Cultura e Funcionalismo.
Integrou a assembleia legislativa catarinense até 1937, quando teve início a ditadura do Estado Novo. Posteriormente, voltaria a se dedicar ao magistério ocupando cargos de direção em diversas escolas.
19. Laudelina de Campos Melo (1904-1991) - empregada doméstica e ativista política

Laudelina fundou a primeira Associação de Trabalhadores Domésticos do Brasil, posteriormente fechada pelo Estado Novo.
Com a volta da democracia, Laudelina continuou a lutar pela valorização da cultura negra e do trabalho doméstico. Para isso, auxiliava a fundar associações de cunho político e cultural.
Também organizava manifestações e abaixo-assinados com o propósito de pressionar os legisladores a promulgarem leis favoráveis ao trabalhador doméstico.
Deixou sua casa em testamento para a Associação que ajudara a criar.
20. Carolina de Jesus (1914-1977) - escritora

Em busca de uma vida melhor, foi para São Paulo onde viveu na favela de Canindé e sustentava os três filhos vendendo papel e ferro.
Na década de 60, a favela seria deslocada por conta da especulação imobiliária e Carolina narra o cotidiano do lugar num diário. Ali conta as mazelas e a luta pela sobrevivência numa linguagem crua, mas poética.
O jornalista Audálio Dantas, da Folha da Noite, que cobria a ação do governo, ajuda Carolina publicar suas anotações. O livro seria lançado com o título “Quarto de Despejo”.
A publicação torna-se um sucesso imediato e é traduzida para 29 idiomas. Seguiriam a continuação, onde ela descreve o lugar da mulher negra dentro da sociedade brasileira, e “Provérbios”. Sua biografia seria publicada postumamente, em 1986, como “Diário de Bitita”.
21. Abdias do Nascimento (1914-2011) - intelectual, ator e político

Engajado no movimento negro do Brasil colaborou com a Frente Negra Brasileira. Durante a ditadura militar (1964-1985) foi para os Estados Unidos onde foi professor universitário. Igualmente, exerceu como deputado e senador.
Abdias do Nascimento lançou várias obras sobre temas relativos a condição do negro dentre as quais se destaca "O Genocídio do Negro Brasileiro - Processo de um racismo mascarado", de 1978.
Homem de diversos talentos, Abdias do Nascimento ainda foi artista plástico e fez várias obras que se inspiravam na arte africana. Igualmente, se vestia com estampas e peças de vestuários de origem africana.
Também é frequentemente comparado ao pastor americano Martin Luther King pelo seu compromisso com os direito civis da população afrodescendente.
22. Adhemar Ferreira da Silva (1927-2001) - atleta olímpico

Seu primeiro título foi o Troféu Brasil em 1947 e continuaria a brilhar sendo tricampeão pan-americano, sul-americano e quebrando vários recordes mundiais.
Consagrado nas Olimpíadas de Helsinque (1952) e de Melbourne (1956) foi o primeiro a ganhar uma medalha de ouro para o Brasil e ser bicampeão olímpico.
Além disso, foi escultor e participou do filme "Orfeu Negro", agraciado com a Palma de Ouro em Cannes em 1959. Formou-se em Educação Física, Direito e Relações Públicas. Ainda foi designado adido cultural na Nigéria onde atuaria de 1964-1967.
23. Grande Otelo (1915-1993) - ator e cantor

A carreira artística começou nas ruas da cidade natal quando o menino cantava e fazia graça para os transeuntes em busca de um trocado. Quando um circo chegou a cidade, Grande Otelo se apresentou com eles e seguiu viagem para São Paulo.
Começava assim uma profícua carreira de ator de teatro e de cinema, especialmente em comédias ao lado de Oscarito.
No entanto, gravou também títulos com diretores do Cinema Novo como "Rio Zona Norte", de Nelson Pereira dos Santos e "Macunaíma", de Joaquim Pedro de Andrade.
Foi também o primeiro ator negro a atuar no Cassino da Urca e mais tarde, participaria de vários programas de televisão.
A Escola de Samba Estácio de Sá o homenageou em 1986 e a Escola de Samba Santa Cruz fez o mesmo em 2015. Ambas agremiações são do Rio de Janeiro.
24. Ruth de Souza (1921) - atriz

Através do crítico Paschoal Carlos Magno, consegue uma bolsa para estudar atuação nos Estados Unidos.
Ruth de Souza foi a primeira atriz negra a atuar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Igualmente, foi a primeira a atriz negra a receber uma indicação de melhor atriz com seu papel no filme "Sinhá Moça". Isto ocorreu no Festival de Internacional de Veneza, em 1954.
Por isso, é chamada de primeira-dama negra da dramaturgia brasileira. Construiu uma exitosa carreira no teatro, cinema e televisão.
25. Marielle Franco (1979-2018) - socióloga, ativista e vereadora

Após a graduação, se envolveria com os movimentos pelos direitos dos negros e das mulheres. Entrou para a política filiando-se ao PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) e foi assessora do deputado estadual Marcelo Freixo (1967), atuando especialmente na Comissão de Direitos Humanos.
Disputou as eleições municipais, elegendo-se como a quinta vereadora mais votada e a terceira mulher negra a ganhar este cargo na cidade do Rio de Janeiro.
Em 2018, Marielle Franco voltou suas atenções para a intervenção federal que está ocorrendo no estado Rio de Janeiro e se tornou uma das principais críticas deste projeto.
Foi assassinada, junto com seu motorista, enquanto voltava para casa, após participar de um evento sobre mulheres negras no bairro da Lapa.
Leia mais:
- Dia da Consciência Negra
- Consciência Negra
- Principais Características da Cultura Afro-Brasileira
- Mulheres Extraordinárias que Fizeram História
- Mulheres que Fizeram a História do Brasil