Edson Cardoso, vida e profissão entregue à militância pela igualdade racial
Há 27 anos a militância na questão racial tem sido prioridade na vida de Edson Lopes Cardoso. Ele nasceu no ano de 1949, em Salvador, cidade que é referência na cultura afro-brasileira. Mas é em Brasília que Edson marca, na história do país, a luta pela igualdade racial.
Brasília - Não, não é apenas aos 31 anos que Edson Cardoso adquire uma consciência negra ou se torna um militante. Desde antes, o estudante Edson já era bastante participativo. "Sempre fui uma pessoa engajada no sentido de estar procurando fazer as coisas e viver numa ditadura. Eu fiz segundo grau num colégio extremamente participante, em 1969, num colégio da Bahia", conta ele. E a consciência não tem data. "Num país que te discrimina, que é racista e que você pertence ao grupo discriminado, você não pode dizer que não tem consciência da opressão. É claro que você tem!", explica.
Mas Edson data de 1980 a sua entrega à militância contra o racismo, quando chega em Brasília e conhece os ativistas do Movimento Negro Unificado (MNU) no Distrito Federal. "Eu trabalhava no CNPq, na Revista Brasileira de Tecnologia e lá eu conheci o Elmodad, que era uma pessoa da comunicação e filiado ao Movimento Negro Unificado aqui no DF", conta. A partir do contato que fez com outros militantes do MNU, Edson foi progressivamente se entregando a essa causa, de forma a se dedicar a ela, ininterruptamente, até hoje. Certa vez, após uma reunião em Brasília, uma militante do MNU, Jacira Silva, perguntou a Edson se ele tinha consciência da importância dele para as outras pessoas. E essa pergunta lhe chamou a atenção. "A partir daí, eu vou tomar consciência de que estudar, ler sobre a história do negro e participar eventualmente de uma reunião ou outra não era suficiente. E que as pessoas à minha volta esperavam de mim uma participação a mais", explica ele.
A vida de Edson mostra bem a diferença que há entre ter consciência de algo e ser militante. "Ter consciência não significa ser militante, não é sinônimo de ser militante. A partir de 1980, eu me disponho a ser um ativista, isso é diferente. Não é tomada de consciência, é decidir-se pela militância, pelo ativismo", explica.
Edson é poeta e também jornalista. Formou-se em Letras e fez mestrado em Comunicação na Universidade de Brasília. Sair do campo da literatura e ir para o jornalismo foi, de certa forma, uma exigência da militância. Editou o jornal Raça & Classe, em 1987, quando trabalhava na Comissão do Negro do Partido dos Trabalhadores, criada por ele mesmo no DF. Depois se desliga do PT e, em 1989, edita o jornal do MNU. Em 1996, Edson cria o Ìrohìn, no qual trabalha até hoje. "A gente consegue, numa primeira fase dele, tirar cinco edições. Ele ficou de 1996 a 1999 com muita dificuldade. E aí nós conseguimos retomar o número seis só em 2004", conta Edson. Ìrohìn significa "notícia", na língua africana iorubá. O jornal, que também tem a versão on line, é alimentado pelo trabalho de jornalistas colaboradores em várias cidades do país.
A militância é pautada não só na divulgação de informações, mas também na formação e na mobilização. Oficinas e palestras são constantes em sua agenda. Edson foi ainda o principal articulador da Marcha Zumbi dos Palmares, em 1995, e da Marcha Zumbi + 10, em 2005. Trabalhar por 12 anos no Congresso Nacional foi outro período importante na militância de Edson. "Eu posso dizer que foi uma contribuição significativa, ou seja, você, como assessor, pode cotidianizar o tema, falar do tema todo o dia, que foi o meu papel", considera Edson, que foi assessor de relações raciais na Câmara e no Senado - foi assessor para relações raciais do senador Paulo Paim (PT-RS), além de trabalhar como chefe de gabinete de deputados negros no Congresso Nacional.
Tudo na vida de Edson está permeado pela militância. Casado com Regina Adani, tem duas filhas, chamadas Ianê e Tana, nomes de origem africana. "Eu vou construir minha família com aspectos relacionados à militância e de algum modo vai ser sempre assim, quer dizer, minhas filhas pequenas foram para encontros, para congressos", conta ele. Edson pretende voltar a Salvador, mas ainda não tem data para isso. Mesmo que Edson deixe Brasília, a sua entrega à militância pela igualdade racial é, como ele mesmo diz, irreversível. Conheça o Jornal Ìrohìn: http://www.irohin.org.br
Por Marília Matias de Oliveira, Especial para o Portal Palmares
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