domingo, 15 de dezembro de 2013

O Mito da Preguiça

Resenha critica sobre o mito da preguiça.
Hilário Bispo
15/12/2013


A cigarra e a formiga

Podemos começar falando do mito da preguiça usando o ditado popular que compara a cigarra e a formiga, começo também fazendo uma comparação com os baianos e os outros brasileiros, se olharmos do ponto de vista que o estado da Bahia a população na sua maioria são de pretos e pardos vamos comprovar que o Brasil é um povo racista, machista é homofóbico, os baianos = a cigarra, os paulistas = formiga.
 A formiga é organizada trabalhadeira é pensa no futuro e a cigarra é uma farrista só quer divertir não pensa no futuro e é preguiçosa, pois só fica cantando; citamos como referência uma pesquisa feita em cima dos baianos, o estudo é pontilhado por entrevistas com personagens da Bahia, como João Jorge, diretor do grupo Olodum, Vovô, diretor do Ilê-Ayê, Comprovamos o pensamento preconceituoso há pouco mais de 4 meses durante um show, o mineiro Rogério Flausino, cantor da banda Jota Quest, disse que “baiano não trabalha”. Não faz muito tempo que a baiana Gal Costa publicou no Twitter: “como na Bahia as pessoas são preguiçosas”. Eles dois reproduziram o mito da preguiça, mesmo que em situações diferentes, Rogério brincava com o público de Salvador e Gal reclamava de um serviço não prestado, mas, de qualquer forma, ofenderam o povo da Bahia.
Só que a ideia da preguiça vem de muito antes das redes sociais e dos programas humorísticos da televisão. Foi romanceada por Jorge Amado, cantada por Dorival Caymmi e vendida pela indústria do turismo: “quer descansar”? Vem para a Bahia, estado da alegria, onde a festa nunca termina, essa afirmação reforça o pensamento que os cariocas adoram carnaval o baiano sobra e água fresca os paulistas,um povo trabalhador, os mineiros povo sem identidade, os nordestinos como povo burro e os sulistas preconceituosos pois pensam como estrangeiros.
A antropóloga Elisete Zanlorenzi foi investigar a questão, desvendou a origem do mito e foi até notícia. Leia o que publicou o jornal Folha de São Paulo, em 2005:
Segundo a pesquisadora, a caracterização do baiano como preguiçoso começa com as grandes migrações de nordestinos, genericamente chamados de “baianos”, para o sul do País. Os recém chegados, ainda sem emprego, alojavam-se em cortiços ou favelas. “Estas condições contribuíram para que o termo baiano fosse associado a outros como sujo, desorganizado, não produtivo e, finalmente, preguiçoso”, explica Elisete.
Um outro aspecto interessante que contribuiu com a associação da Bahia à preguiça está ligado ao discurso de baianos famosos como Dorival Caymmi, Caetano Veloso, Gal Costa, e Maria Bethânia. “Eles chegavam no eixo Rio são Paulo afirmando serem preguiçosos. Era como dizer: eu não sou daqui”, analisa a pesquisadora.
Em sua tese, Elisete menciona outros quatro motivos para a formação do mito da preguiça baiana: a industrialização tardia de Salvador, a indústria do turismo, que mostra somente o aspecto divertido da festa, o discurso da imprensa, que transmite apenas o lado trágico das migrações, e a indústria da seca, que forjou uma imagem do nordeste ligada à incapacidade profissional para justificar a necessidade de investimentos na região.
 A preguiça foi construída historicamente e reforçado pela mídia, que reproduz os interesses da elite. Desde o século XVI, a elite local depreciava os negros escravos, descritos como desorganizados e sujos, depois como analfabetos e sem conhecimento, e, finalmente, como preguiçosos. A famosa Ladeira da Preguiça, em Salvador, ganhou este nome por ter sido a via de acesso de mercadorias vindas do porto para a cidade, levadas em carretões puxados a boi e empurrados por escravos.
Essa foi uma forma de interiorização da dominação, no período da escravidão. Depois, a depreciação assumiu a forma da exclusão. O mesmo aconteceu com negros, índios e imigrantes nordestinos, nas regiões Sul e Sudeste, quando, a partir da década de 1950, intensificou-se a imigração. A imagem de preguiçoso espalhou-se. Chamados genericamente de "baianos", os imigrantes eram, em sua maioria, mestiços, afrodescendentes, oriundos de fazendas afetadas pela seca e sem qualificação profissional. O nordestino foi responsabilizado por todo o caos urbano sem, ao mesmo tempo, ser lembrado em nenhum projeto de inclusão social.
"Depreciar era uma forma de justificar baixos salários e falta de investimento", esclarece Elisete. O sociólogo Octavio Ianni (1925-2004), um dos examinadores da banca de doutorado da antropóloga, destacou que a tese mostrava a forma sutil de racismo a negros e nordestinos. "Quando se folcloriza, o discurso se desloca da realidade e ganha vida própria, criando uma força até maior em relação ao discurso inicial", explica Elisete, professora da Faculdade de Ciências Sociais da PUC-Campinas.

Na literatura, Mário de Andrade personificou tudo isso em Macunaíma. Chico Buarque enxergou os mesmos traços no malandro carioca, avesso ao trabalho. Lima lembra ainda de João Ubaldo Ribeiro, em Viva o povo brasileiro, que também fala do nosso perfil preguiçoso. Ariano Suassuna criou personagens avessos ao trabalho em O auto da compadecida. "Esse mito é muito forte, sob o qual vivemos à sombra. É o discurso do colonizador.

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