quarta-feira, 18 de abril de 2012

RACISMO NO DIA MUNDIAL DA ARTE NA SUÉCIA?

RACISMO NO DIA MUNDIAL DA ARTE NA SUÉCIA?


Por Malachiyah Ben Ysrayl.

Historiador e Hebreu-Israelita
E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br
Msn: kefingfoluke1@hotmail.com
Skype: lindoebano
Facebook: Walter Passos


Resolvi postar uma informação encontrada no facebook de Swahili Kmt:

"Durante a celebração do Dia Mundial da Arte, em 16/04/12, no Museu de Arte Moderna, Suécia, a ministra da cultura daquele país, Lena Adelsohn Liljeroth, partiu um "bolo" caricaturando a senhora Saartjie "Sarah" Baartman, chamada "A vênus negra". O bolo foi partido primeiro em sua genitália e alimentou a cabeça da "obra", uma pessoa em blackface e escondida sob a mesa, numa referencia a uma autofagia canibal... Tudo isto entre muitos sorrisos."
A MULHER PRETA HUMILHADA



Na foto abaixo está o autor da obra, o afro-sueco: Makode Aj Linde, que disse ser a obra um combate a mutilação genital feminina, sendo que os gritos foram feitos por uma pessoa branca pintada de preto.

A muitação feminina ainda ocorre em 28 países africanos. Leia mais sobre a Mutilação genital feminina acesse o link do BAYAH: MUTILAÇÃO GENITAL FEMININA - VIOLAÇÃO DO CORPO DA MULHER

Makode Aj Linde, artista plástico afro-sueco.

Na foto abaixo, a ministra da Cultura da Suécia - Lena Adelsohn Liljeroth - que diz lutar contra o racismo no seu país.

Ministra da Cultura da Suécia.

Os brancos amantes da arte na Suécia se deliciam com mais um vilipêndio a memória da mulher preta africana SARAH BAARTMAN.

Os HEBREUS DE ELEFANTINA - COMUNIDADE NO ANTIGO KEMETE


Por Malachiyah Ben Ysrayl.

Historiador e Hebreu-Israelita
E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br
Msn: kefingfoluke1@hotmail.com
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Os Hebreus constituíram-se quanto povo dentro do território africano. Tal composição possuiu sua gênese em Mizraim, no Kemete (atual Egito), e de lá se consolidou em Canaã, após o Êxodo sob a direção de Moshe.

Importante destacar que Kemete e Canaã eram um só território africano para aquelas civilizações, cuja divisão territorial somente ocorreu muito recentemente com a invasão das civilizações brancas e a drástica alteração toponímica, através da construção do canal de Suez.

Importante também compreender que Kemete, potencia comercial, naval e intelectual da época, era um local propício para o desenvolvimento e constituição do povo hebreu, seja para acolhê-los durante os diversos períodos de crises econômicas enfrentadas, alianças militares e mercantis, seja pelas necessidades de asilo e migrações populacionais, principalmente em decorrência das diversas guerras hebraicas que culminaram nas diásporas.

Por conta de seu desenvolvimento econômico, Kemete foi o local ideal e mais seguro para a sobrevivência dos hebreus, desde a época de Avraham (Abraão, pai de muitos pretos).

Em outra análise, não há como concordar com alguns grupos afrocentristas, notadamente inimigos dos hebreu-israelitas, que habitualmente se referem à civilização de Kemete para atribuí-la todo o conhecimento, restando aos hebreus a absorção e adaptação cultural, ao passo que também negam a pretitude de Israel, apoiando, por ignorância, a farsa Askenazi.

Esta análise equivocada demonstra ausência do conhecimento histórico de Kemete e de suas relações econômicas, políticas e culturais. Sem mais delongas, não podemos esquecer que o povo hebreu se origina em Kemete e a sua cor epitelial não era diferenciada, tanto assim que em diversos relatos eles são considerados um só povo, como é o preto hoje.

Hebreus Israelitas cativos na Babilônia

No livro de Bereshit (Gênesis) há diversos relatos dos hebreus se parecerem com os habitantes de Mizraim, alguns exemplos: Os dez irmãos de Yosef não o reconheceram, no sepultamento de Yaacov e Moshe cresceu na corte do faraó. Inclusive Yahoshua foi levado para Mizraim com os seus pais Yosef e Miryahm fugindo de Herodes por causa da matança das crianças de Beit Lehem.

Após esse introito, necessário para elucidar alguns temas sobre a comunidade dos hebreus em Kemete, discorreremos sobre a comunidade hebraica de Elefantina, uma ilha do rio Nilo, a oeste de Aswan, na fronteira com a Núbia (Sudão), que se estabeleceu na região no V século antes da nossa eram comum.



Elefantina é uma palavra de origem grega que significa elefante, os antigos habitantes de Mizraim chamavam de Yebo, que também significa elefante, este nome surge por causa dos elefantes que foram levados do sul para a Núbia. A ilha possuía uma importância geográfica estratégica por causa das constantes guerras entre Kemete e o poderoso império de Kush.

Por que os hebreus se instalaram na Ilha de Yebo? Há algumas hipóteses:

- O rei Manasses da Judéia enviou soldados que se estabeleceram em Elefantina apoiando o Império de Mizraim.

- Mercenários judeus foram enviados para o Egito durante o reinado do faraó Psammetichusis II, o rei Zedequias teria sido o responsável pelo ato. Isto porque, o rei Zedequias foi o único governante de Judá contemporâneo com Psammetichusis II. Desde então, Mizraim teria sido mais propenso a apoiar os rebeldes antibabilônicos, a presença de mercenários judeus em MIzraim pode ter sido visto como um ato de cooperação contra um inimigo comum. Corroborando com essa hipótese, extraímos o escrito no Livro de II Reis:

"Com isso, todas as pessoas [restante dos judeus em Judá] desde o menor até o maior, juntamente com os oficiais do exército, fugiu para o Egito com medo dos babilônios." (2 Reis 25:26).

Alguns profetas falam da presença de hebreus no Egito, entre eles, Isayah:

"Veja, eles virão de longe,
alguns do norte, alguns do oeste,
alguns da região de Assuão [Siena]. " -Isayah 49:12

A vivência dos hebreus em Elefantina ainda é estudada com afinco, pois permite através de uma vasta quantidade de documentações, entre elas, papiros e sítios arqueólogicos, o entendimento da diáspora dos hebreus.

Elefantina era conhecida como a terra do deus Khnub, originário de Kush-Nubia como outros importantes deuses e deusas de Kemete. Originalmente esse deus é representado como um homem com cabeça de carneiro. Os hebreus construíram um templo para YHWH parecido com o templo de Salomão o qual foi destruído por egípcios, por causa dos holocaustos, que incluíam ovelhas, bois e cabras. O sacrifício de carneiros no templo era claramente uma das principais causas da revolta dos egípcios. Um documento encontrado retrata a destruição final do templo em 410 aC, Segundo o documento, os sacerdotes egípcios de Khnub cooperou com Vidranga que enviou o seu filho Nefayan no comando de um exército egípcio e ordenou "o templo de YHWH na Fortaleza de Elefantina tem que ser destruído"

Há um papiro que solicitar ao rei Dario da Persa a reconstrução do templo de Elefantina, acesse o link:

http://www.kchanson.com/ancdocs/westsem/templeauth.html

Na ilha diversos papiros denominados como “Papiros de Elefantina”, foram encontrados nos assoalhos das casas, vasos de cerâmica e jarros. Estes documentos escritos em aramaico, e alguns em hierático e demótico, relatam a vida cotidiana, isto é, assuntos políticos, religiosos, econômicos e sociais. Os documentos legais encontrados estão preocupados com ações judiciais; vendas; casamento, empréstimo, presentes e outros contratos relacionados com posses de propriedade.

De especial importância é a "Carta da Páscoa", que remonta a 419 a.C. A carta era de Ananias para Jedenayah da guarnição israelita em Elefantina. Em sua carta, Hennanyah instruiu os hebreus a "manter o Festival do Pão Ázimo" e "serem puros e cuidadosos.", juntamente com outras instruções relacionadas à observância do festival. Os estudiosos suspeitam que Hennanyah tenha sido o irmão da figura bíblica, Neemyah.

O destino desconhecido da comunidade de Elefantina pode ser interpretado de maneiras variadas. Uma possibilidade é a migração para a Núbia, assim como os soldados egípcios fizeram durante o tempo de Psammetichus. Sendo assim, seria uma estranheza se os hebreus fossem brancos de olhos azuis como são os askenazis, que se dizem judeus e habitam no território de Israel e se originam do Cáucaso.

Outra hipótese, mais instigantes, é que caminharam para o ocidente da África, devido a diversas tradições orais de grupos étnicos que afirmam terem vindo de Mizraim ou Kemete (Antigo Egito) e de Kush-Núbia e resguardam em sua linguística e costumes, hábitos inteiramente hebraicos.



MENINA BONITA DO LAÇO DE FITA- LIVRO INFANTIL POLITICAMENTE CORRETO - MESTIÇAGEM COMO IDEÁRIO DAS ELITES


Por Malachiyah Ben Ysrayl.

Historiador e Hebreu-Israelita
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Sempre apreciei literatura infantil. Durante a infância até a adolescência, eu li e, muitas vezes, reli inúmeras revista em quadrinhos, livros infantis e recortes de jornais. Ainda hoje, assisto desenhos animados e continuo gostando de literatura para crianças.

Naquela época, eu não compreendia a ideologia intrínseca em cada uma daquelas publicações, e mesmo com a “visão de menino”, sabia que naquelas histórias eu não me encontrava - toda criança procura nos personagens uma identificação -, nelas eu apenas me embranquecia e concomitantemente com a discriminação racial vivida, eu vivia mergulhado em crises. Sem perceber, as mensagens simbólicas de poder sempre me colocavam como inferior em uma sociedade branca judaico-cristã.

Atualmente, neste afã mercadológico da nova literatura, leio os livros infantis como observador e crítico das mazelas que ocasionam para as crianças pretas, em especial aqueles livros escritos por pessoas que não estão inseridas na realidade dos africanos e seus descendentes no Brasil, nem conosco mantém compromissos étnicos-identitários.

Por desafios, aprendi a escrever contos na tentativa de suprir a fantasia dos meus filhos e filhas pretas, quando ao buscar, não encontravam uma literatura adequada e específica para crianças pretas naquele período, desta forma, eu mesmo tive que criar as histórias.

Quando meus filhos estavam pequenos, havia uma febre de programas televisivos endereçados a crianças, como a Xuxa e muitos outros. Tais programas exaltavam o imaginário mundo das fadas e princesas européias, a dita beleza dos traços caucasianos, a ilusão da superioridade fenotípica branca e a degradação da figura das pessoas pretas.

Não permiti que os meus filhos assistissem a Xuxa e suas Paquitas, e hoje eles me agradecem. Da mesma maneira, nunca presenteei minhas filhas com bonecas de fenótipos europeus, sempre lhes dava bonecos e bonecas pretas, cujos nomes faziam referência a ilustres líderes com Zumbi, ou a belíssimos nomes africanos como Dandara, com as quais elas interagiam umbilicalmente com a pretitude. Dessa maneira, meus filhos aprenderam as suas histórias e se sentiam felizes, refletindo, ainda crianças, sobre a sua origem africana e, desde lá, conscientes de enfrentar com cabeça erguida a vida real de racismo na educação brasileira.

Os livros paradidáticos traziam mensagens que não satisfaziam a minha necessidade de informá-los sobre a sua ancestralidade africana e onde eles pudessem ser vistos. Então, comecei a colher informações e usando a criatividade escrevi dezenas de histórias e muitas delas com a participação deles, uma interação de africanidade onde os meus filhos foram participes, proporcionando a eles, hoje, o pertencimento como africanos, uma consciência adquirida desde a tenra infância, através dos contos escritos por mim.

A literatura infantil é iconográfica, com representações estéticas raciais, discursos ideológicos e poderosas influências simbólicas. O livro infantil não é pautado na inocência, mas nos interesses e projeções do autor e na manutenção da submissão daqueles considerados subalternos na sociedade. O livro infantil é a mensagem política do adulto, e sua explicação do mundo para as crianças, e naquele mundo, o preto não ocupa o lugar de poder e desconhece os padrões da ancestralidade. O livro infantil para o povo preto tem que ser considerado como arte-educação-política de literatura libertária para as nossas crianças.

Um dos livros didáticos apresentado ao meu filho caçula na 1ª série do ensino fundamental foi MENINA BONITA DO LAÇO DE FITA, escrito por Ana Maria Machado, uma renomada escritora com “mais de 100 livros publicados no Brasil e em mais de 18 países somando mais de dezoito milhões de exemplares vendidos. Os prêmios conquistados ao longo da carreira de escritora também são muitos, tantos que ela já perdeu a conta. Em 2003, Ana Maria foi eleita para ocupar a cadeira número 1 da Academia Brasileira de Letras, substituindo o Dr. Evandro Lins e Silva. Pela primeira vez, um autor com uma obra significativa para o público infantil havia sido escolhido para a Academia.”

Fonte: http://www.anamariamachado.com/biografia

MENINA BONITA DO LAÇO DE FITA


Este livro é conceituado pela crítica nacional e internacional, admirado pela maioria dos professores, e divulgado por uma parcela importante de militantes do MOVIMENTO NEGRO BRASILEIRO, inclusive mulheres, sendo referência pela maioria de professoras pretas. Sobre ele, irei tecer algumas reflexões críticas.

A princípio, merece destaque o fato do livro não ser pensando para a comunidade preta, ao contrário, a autora se inspira em sua filha, uma menina branca de ascendência italiana, conforme se pode extrair das informações do seu sitio pessoal na internet. Vejamos:

“Este livro, para mim, é uma história que surgiu a partir de uma brincadeira que eu fazia com minha filha recém-nascida de meu segundo casamento. Seu pai, de ascendência italiana, tem a pele muito mais clara do que a minha e a de meu primeiro marido. Portanto, meus dois filhos mais velhos, Rodrigo e Pedro, são mais morenos que Luísa. Quando ela nasceu, ganhou um coelhinho branco de pelúcia. Até uns dez meses de idade, Luísa quase não tinha cabelo e eu costumava por um lacinho de fita na cabeça dela quando íamos passear, para ficar com cara de menina. Como era muito clarinha, eu brincava com ela, provocando risadas com o coelhinho que lhe fazia cócegas de leve na barriga, e perguntava (eu fazia uma voz engraçada): “Menina bonita do laço de fita, qual o segredo para ser tão branquinha?” E com outra voz, enquanto ela estava rindo, eu e seus irmãos íamos respondendo o que ia dando na telha: é por que caí no leite, porque comi arroz demais, porque me pintei com giz etc. No fim, outra voz, mais grossa dizia algo do tipo: “Não, nada disso, foi uma avó italiana que deu carne e osso para ela...” Os irmãos riam muito, ela ria, era divertido. Um dia, ouvindo isso, o pai dela (que é músico) disse que tínhamos quase pronta uma canção com essa brincadeira, ou uma história, e que eu devia escrever.”
Fonte: http://www.anamariamachado.com/historia/menina-bonita-do-laco-de-fita

No primeiro olhar, o livro totalmente inocente conta a história de uma menina pretinha questionada por um coelho branco o porquê da sua cor epitelial, responde simploriamente, frases que a maioria não responderia:

- Menina bonita do laço de fita, qual é o teu segredo para ser tão pretinha?

A menina não sabia, mas inventou:

­- Ah deve ser porque eu caí na tinta preta quando era pequenina...
- Ah, deve ser porque eu tomei muito café quando era pequenina.
- Ah, deve ser porque eu comi muita jabuticaba quando era pequenina.
A menina não sabia e... Já ia inventando outra coisa, uma história de feijoada...

As respostas da menina sem nome fazem referências a uma gama de preconceitos incutidos que muitas crianças pretas ouvem para justificar a sua cor de pele. Um dos exemplos, é que as pessoas nascem pretas porque estão sujas:

“Cai na tinta preta (o sujo de tinta).”

Também é Interessante é a explicação da mãe da menina, outra personagem sem nome, que explica a cor da filha assim:

“quando a mãe dela que era uma mulata linda e risonha, resolveu se meter e disse:
- Artes de uma avó preta que ela tinha...”

Observemos que a mãe sem nome e adjetivada como “uma mulata” - fruto da miscigenação - e nós sabemos que o termo mulato não é aceito pelos setores do Movimento Negro por exprimir através da própria sociedade branca escravocrata, o filho considerado híbrido, o homem afeminado em diversos romances da literatura brasileira, a mulher sexualmente fácil, a rejeição da mulher preta. Por outro lado, a idéia de mulatismo agrada as classes dominantes por criar uma sociedade sem conflitos e impor o poder do homem branco sobre as mulheres pretas na construção de uma sociedade na concepção de Gilberto Freire.

A mulata sem nome e sem consciência racial explica a cor da menina sendo decorrente das:

- Artes de uma avó preta que ela tinha...

Quais foram estas artes? A avó preta foi uma mulher arteira, sexualmente falando, que teve relações com um homem branco, sendo estas artes (sexo) o motivo da menina ser preta? As artes são da mulher preta e não do homem branco. O homem branco na sociedade escravocrata brasileira e posteriormente após a escravidão, não faz artes, a responsabilização sempre é das mulheres pretas. Consequentemente, lembremos, que na escravidão, quando diversas mulheres pretas foram estupradas pelos senhores e seus filhos, elas que fizeram as artes. No período pós-abolição, as mulheres pretas continuam a fazer artes e terem os seus filhos “mulatos”. A autora poderia ter usado o termo:

- Por causa de um amor que a avó preta dela tinha.

Contudo, foi de extremo equivoco a autora explicar a ascendência da menina pretinha envolvendo as artes de uma avó preta e omitir o seu avô branco.

O coelho branco, símbolo de fertilidade, é um questionador e acha a menina preta bonita e deseja tornar-se preto. É o homem branco cordial, que “ama o povo preto”, e tenta se tornar preto. Ele faz diversas tentativas e não consegue alterar sua cor epitelial.

- Aí o coelho, que era bobinho, mas nem tanto, viu que a mãe da menina devia estar mesmo dizendo a verdade, porque a gente se parece sempre é com os pais, os tios, os avós e até com os parentes tortos.

Dentro daquele contesto, ainda não compreendi com clareza o que são parentes tortos.

Todavia, através da relação sexual com uma coelhinha preta, completa o seu desejo de uma ninhada multiétnica. Na representação do homem branco cordial e da sociedade sem conflitos raciais:

“- E se ele queria ter uma filha pretinha e linda que nem a menina, tinha era que procurar uma coelha preta para casar.
Não precisou procurar muito. Logo encontrou uma coelhinha escura como a noite, que achava aquele coelho branco uma graça.”

O coelho branco sempre é uma graça, lindo e poderoso que encantou a coelhinha preta igual à menina e neste casamento surge uma ninhada de coelhos semelhante à sociedade brasileira: sem graves problemas raciais, na concepção equivocada e maldosa da autora. O que nos chama a atenção é que o coelho branco segue os padrões sociais aceitos e contrai núpcias com a coelhinha preta que o achou uma graça, enquanto a avó da menina faz artes, é a preta arteira, a pecadora, a jezabel.

“-Foram namorando, casando e tiveram uma ninhada de filhotes, que coelho quando desanda a ter filhote não para mais! Tinha coelhos de todas as cores: branco, branco malhado de preto, preto malhado de branco e até uma coelha bem pretinha.”

As idéias de pluralidade racial, multietnicidade e cordialidade nas mentes das crianças são programadas pela autora, que no âmago do discurso com esta brincadeira para uma criança branca escreve um livro sem nenhuma preocupação com a comunidade preta brasileira, sem quaisquer fundamentos históricos, e reproduz um ideário das elites brancas deste país: Uma civilização brasileira sem conflitos, sem mazelas da escravidão cristã, sem luta de classes, sem importância referencial da África, uma sociedade mestiça, um livro a base do pensamento de Gilberto Freire. Um louvor a mestiçagem, em resumo: um livro “politicamente correto”.

O livro nega toda a idéia de construção de relação que devemos ter com a nossa ancestralidade africana, apesar de no seu início sugerir que “Ela ficava parecendo uma princesa das terras da áfrica, ou uma fada do Reino do Luar”. Ela sugere em contraposição a princesa das terras da África à história das fadas brancas do Reino de Luar. Temos que criar nas nossas crianças um referencial apropriado de afrocentricidade, porque o que se coloca neste conto ainda é uma idéia de branqueamento embutido na menina pretinha do laço de fita.

Não podemos aceitar a continuidade do mito do paraíso racial e o pluriculturalismo na educação deve ser baseado no respeito às diferenças e não na negação da história do povo preto.

Acredito que é uma covardia quando mascaramos das crianças a sua realidade e as inserimos em outro mundo como se fosse seu, quando deixamos que se sintam no mundo branco e elas descobrem sozinhas que este mundo não as querem com a sua ancestralidade.

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