A Identidade da Raça
A cultura negra marca sobremaneira a cultura brasileira. Seus traços estão na nossa forma de falar, de nos portarmos, em nossos rostos, em nossa comida, música e dança. A história do Brasil é indissociável da influência dos povos africanos que foram trazidos para cá e que participaram ativamente da construção econômica e social de nosso país. Contudo, a participação dos negros ainda é muito reduzida dentro das esferas de decisão do poder público, nas universidades e em cargos de direção de grandes empresas. Situação que se agrava conforme o gênero, a idade e a classe social dos indivíduos.
O documentário “Raça”, da série Juventude de Atitude, produzida pela Associação Imagem Comunitária com o apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, aborda a questão do negro na perspectiva de três entidades juvenis que atuam na valorização da identidade afro-brasileira em Belo Horizonte: a ONG Humbiumbi, o grupo de mulheres Negras Ativas e a Associação Cultural Odum Orixás.
Humbiumbi é o nome de um pássaro angolano que usa o seu canto para conclamar pássaros de outras espécies para segui-lo em seu vôo. Cada vez mais alto e juntos, sempre. A ONG nasceu da proposta de promover a troca cultural entre brasileiros e angolanos, aproximando os dois povos. Atualmente, ela está localizada no Buritis e trabalha com jovens da região centro-oeste da capital, realizando projetos de comunicação, artes, saúde, acompanhamento familiar, educação e participação comunitária. Além disso, a instituição busca envolver diversos segmentos da comunidade e fazer de seu centro cultural um espaço de convivência e de expressão genuína da população dos bairros de periferia da região.
O grupo Negras Ativas foi criado em 2003 por um grupo de amigas, ativistas do movimento negro. O coletivo, formado por mulheres jovens e negras, atua com o objetivo de promover a inclusão e o reconhecimento da mulher na arena do debate político, cultural, familiar e social, afirmando seu espaço criativo e expressivo na construção de uma sociedade mais plural, pautada no respeito aos direitos de mulheres e homens. A diversidade, o respeito mútuo e a liberdade de expressão são propostos como os principais instrumentos de transformação das relações de gênero. Além disso, as integrantes do Negras Ativas também formam um grupo de rap, cujas letras denunciam o machismo e a opressão contra as mulheres.
A Associação Cultural Odum Orixás, por sua vez, também tem na cultura o principal mote para promover a reflexão sobre a trajetória do povo negro e as produções de matrizes africanas no contexto de Minas Gerais. Com um forte viés político, a Associação nasceu na década de 70, como um balé folclórico de jovens negros. Desde então, o grupo vem expandindo sua atuação para além da coreografia e da dança, envolvendo também iniciativas de formação, geração de renda e mobilização comunitária. Entre uma oficina e outra, o trabalho da ONG é marcado por discussões relacionadas ao resgate e à valorização das manifestações culturais afro-brasileiras, principalmente na perspectiva da juventude.
Identidade e Diversidade
Na atuação das três entidades, a questão da afirmação da identidade negra evidencia-se como uma das principais questões. Quer seja de um indivíduo ou de um grupo, a identidade é constituída na interação com o outro e corresponde aos elementos que organizam os significados acerca de nós mesmos. Assim, é no universo das interações simbólicas que estes grupos atuam. Ao valorizar as raízes da cultura negra, essas entidades criam condições para que as pessoas se afirmem e se reconheçam como importantes atores sócio-culturais, abrindo caminhos para novas conquistas.
Valéria da Silva, da Humbiumbi, afirma que as pessoas têm dificuldade para reconhecer as suas próprias raízes e, com isso, de se conhecerem melhor e de se aceitarem. Segundo ela, é fundamental “mostrar para a pessoa que ela é importante e que ela é capaz de transformar o meio em que está inserida”.
Adilson Sabará, da Associação Cultural Odum Orixás, alerta sobre o perigo da segmentação. De acordo com ele, “o negro, ou quem atua na defesa das questões da identidade afro-brasileira, não deve se fechar para as outras coisas do mundo, para as outras oportunidades e referências”. Segundo ele, a questão não é impor algo, mas criar espaços para que os diferentes grupos possam se respeitar. Cássia Donato, do Negras Ativas, confirma essa idéia ao destacar que a igualdade racial tem que ser buscada através de uma compreensão maior de união. Ela recorda, ainda, que mesmo o movimento negro não é algo uníssono, “um desafio e um caminho que estão sendo traçados é trabalhar dentro dos próprios movimentos a questão das diferenças, da pluralidade”. A busca e a afirmação da identidade negra tem como objetivo criar espaços de referência, de reconhecimento e de auto-conhecimento de cada um. Mas, antes de tudo, é importante que se tenha em mente que nenhuma cultura é melhor do que a outra. Ou, nas palavras de Adilson Sabará, é preciso levar em consideração que “são cores diferentes, mas de uma única raça, a humana.”
O documentário “Raça” tera foi lançado no dia 12 de julho de 2007,centro cutural da UFMG.
Às 18:00 e 20:00hs
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