domingo, 12 de outubro de 2008




A força da expressão cênica afro-brasileira O I Fórum Nacional de Performance Negra, organizado pela Companhia dos Comuns e Bando de Teatro Olodum, foi realizado com êxito, no Teatro Vila Velha, em Salvador, de 30 de maio a 01 de junho.Grupos e Companhias negras de todo o Brasil buscaram construir uma resposta coletiva aos problemas que enfrentam para exercerem seu ofício e fortalecerem a expressão cênica afro-brasileira.O evento foi coordenado por Chica Carelli, Hilton Cobra, Luíza Bairros e Márcio Meirelles. Nas mesas, de intenso debate, estiveram Valdina Pinto, Abdias Nascimento, Inaicyra Falcão dos Santos, Haroldo Costa, Leda Martins, Cuti (Luiz Silva) e Edson Cardoso.Ao final dos trabalhos, foi lida a Carta de Salvador, elaborada para ser um documento a respeito das resoluções, planejamentos e caminhos a serem trilhados depois da primeira edição do Fórum Nacional de Performance Negra. Esta carta será entregue ao ministro da Cultura, Gilberto Gil, por uma comissão do fórum, numa proposta encaminhada pelo presidente da Palmares, Ubiratan Castro. A ida da comissão a Brasília ainda não foi agendada.O I Fórum Nacional de Performance Negra foi realizado com o patrocínio da Funarte e Fundação Palmares, contando com o apoio da Secretaria Municipal de Reparação (Salvador).CARTA DE SALVADORO I Fórum Nacional de Performance Negra nasce da compreensão de que é imperativo um teatro e uma dança que expressem o poder e o vigor da criação artística da população negra deste país. Sua realização é um marco no percurso histórico de movimentos significativos das artes performáticas negras brasileiras.A participação efetiva de 47 grupos e companhias, de pesquisadores e artistas, de todas as regiões do Brasil, evidencia uma realidade ampla e fecunda que se nutre do processo histórico, estético e cultural. Processo este que, hoje, expande sua presença na esfera pública em decorrência das diversas iniciativas dos movimentos de combate ao racismo e à discriminação racial, e de contínua reiteração, em vários âmb[Photo]itos, da importância das culturas negras. O I Fórum apontou a diversidade de propostas estéticas que fomentam as atividades e as formas de inserção dos grupos e companhias nas comunidades. Ao mesmo tempo, mostrou que estes compartilham uma série de realizações e valores, comprometidos com uma prática artístico-cultural que, nos seus modos de criação e de reflexão, reafirma a dimensão dinâmica das matrizes afro-brasileiras. Todos têm em comum a disposição e o empenho de viabilizar manifestações artísticas autônomas. Ou seja, livres das imposições culturais e financeiras que privilegiam ideais e valores eurocêntricos, os quais tentam negar e restringir o pleno direito de expressão da identidade negra e de nossa cidadania. Por isso, também compartilham as mesmas preocupações em relação a: - meios e mecanismos de manutenção;- formulação de linguagens estéticas que confrontem os vários desafios da contemporaneidade;- formação de intérpretes, técnicos e diretores;- participação nas instâncias de deliberação de políticas públicas culturais;- criação de repertório. O I Fórum concluiu que, para o enfrentamento desses desafios e metas, há a necessidade urgente de estratégias, ações e procedimentos que fortaleçam as atividades dos grupos e companhias, dentre eles:- a criação de formas permanentes de comunicação e intercâmbio, nacional e internacional, que possibilitem a ampla disseminação de informação e conhecimento;- a articulação política no enfrentamento conjunto de questões afins; - a criação de redes de interlocução e de um banco de dados que facilite o trânsito de informações de mútuo interesse, inclusive as relativas aos meios de acesso ao patrocínio e ao fomento públicos e da iniciativa privada. A concretização dessas metas requer nossa atuação protagonista no debate sobre o papel de instituições como a FUNARTE, a Secretaria de Políticas Culturais, a Secretaria da Identidade e Diversidade Cultural, o IPHAN e seus correlatos estaduais e municipais. É preciso que esses órgãos, na formulação de políticas, de normas para o fomento e a alocação de recursos, efetivamente, e de forma transparente, contemplem a diversidade das manifestações artísticas existentes no país, entre elas a performance negra. Isso implica na necessidade de também redefinir as funções e atribuições da Fundação Cultural Palmares, explicitando-se seus objetivos específicos e criando os meios para a sua realização. A natureza das questões a serem enfrentadas e o alcance da atuação mobilizadora da performance levam-nos a propor, como ações imediatas:- a continuidade do Fórum Nacional de Performance Negra, como um poderoso instrumento de fortalecimento dos grupos, companhias e outros agentes;- uma ativa participação da comunidade 
artística negra no processo da Marcha Zumbi + 10, visando denunciar as práticas de extermínio que atingem o povo negro; disseminar nas comunidades as motivações sociais, políticas e econômicas que tornam a Marcha um requisito para a afirmação da singularidade de nossa experiência histórica; e, por fim, comprometer o Estado brasileiro com políticas públicas que assegurem o enfrentamento e resolução dessas questões. Como no ditado africano, sabemos que o futuro está à nossa frente, mas também pode estar às nossas costas, se dermos a volta. É com essa visão que temos construído a história e é assim que ora damos mais um passo na afirmação de práticas performáticas que incorporam as matrizes afro-brasileiras, fundamentais na formação do Brasil. Salvador.

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