A realidade das comunidades gurutubanas de Jaíba
As comunidades gurutubanas, no norte de Minas Gerais, sofrem com o descaso das políticas públicas
As comunidade gurutubana hoje totalizam 27 núcleos populacionais no norte de Minas Gerais.
Destes seis estão em jaíba, entre estes tem-se a Vila João Gracia e Canudo que encontram-se meio a vegetação de Caatinga sob a predominância de Latossolos Amarelos e sequentimente de argissolos, anteriormente denominados podizólicos.
Segundo o relato da liderança Geronilda Cardoso de Jesus do núcleo populacional de Vila João Gracia, os gurutubanos jaibenses vivem sob o completo descaso do poder público.
Fato associado a falta de investimentos as comunidade. A precariedade evidenciada no local contribui no aumento do índice de mortalidade da região.
A comunidade Vila João Gracia e constituída de aproximadamente 50 residências que encontram-se dispersas. Tem como núcleo populacional mais próximo a comunidade Lagoa de Barro.
O transporte público na Vila João Gracia e Canudo inexistente sendo os deslocamento emergências a área urbana de Jaíba evidenciados sob a forma de pagamentos vão além de suas posses.
Muitos não tem condição de arcar com os custos de transporte e assim passam a conviver com a dor e morte de familiares.
Diante da dificuldade de transporte e atendimento a maioria das pessoas não fazem acompanhamento médico, nem mesmo as mulheres gurutubanas realizam tratamento preventivo quando grávidas, culturalmente ganham seus filhos na própria comunidade por intermédio de parteiras. Ambas comunidades apresentam alto índice de gravidez na adolescência.
A energia elétrica e vista pontualmente em algumas casas dos gurutubas da Vila João Gracia em detrimento dos canudos que não apresentam energia em nenhuma das residências.
Existem casas com água encanada e rede de esgoto, todavia, a maioria não tem sequer fossas.
Na Vila há um telefone público quebrado. As famílias que não tem acesso a água encanada tem como alternativa o poço que situa-se distante. Na comunidade não há correios. O comércio do local restringe-se a um bar. A maioria mora em casa precárias de adobe ou pau-a-pique, cubículos sem divisão de cômodos. Nestas é comum residirem três a quatro famílias. Na maioria inexistem móveis e colchões.
As estradas de acesso as comunidades estão em péssimas condições não favorecendo a circulação de automóveis.
Na Vila e o agrupamento dos Canudos vinculam-se a Associação Quilombola dos Gurutubas, que representa todos os 27 núcleos, estando esta fora do Município de Jaíba.
Na Vila João Gracia, parte das pessoas tem aceso aos meios de comunicação como televisão e rádio, todavia este percentual não se aproxima nem mesmo de um terço.
Na comunidade dos Gurutubas e Canudos, o trabalho existente é escasso, temporário e mal remunerado,sendo estes necessários a sobrevivência das famílias.
As comunidades locais estão resgatando a sua história através do programa de remanescentes de quilombos, valorizando a sua cultura como o batuque e a comida típica e é nessa identidade que os liga.
A associação quilombola tem a participação de 600 famílias entre 27 comunidades.
A luta maior é pela terra hoje reduzidas, mediante a apropriação ilegal do fazendeiros, através de grilagem.
As comunidades Vila João Gracia e Canudos quilombolas do município de Jaíba, bem como as demais gorutubanas, tiveram a maioria seu território histórico grilado pelos fazendeiros ao longo dos anos, sendo esta prática ativa nos dias atuais.
A perda destas terras foram associadas a diversas disputas que resultaram em mortes dos remanescentes de quilombos. A redução da terra junto a ausência de condições básicas a vida digna tem ocasionado o caos social, barbárie caracterizada pelas doenças, alto índice de analfabetismo, natalidade, mortalidade e despreparo profissional.
Mediante as dificuldades que vivênciam várias pessoas da comunidade emigraram de seu território tradicional em busca da melhoria de qualidade de vida para suas famílias.
Com a emigração tem-se a perda gradativa da identidade cultural quilombola.
A coordenadora geral da Associação dos Quilombolas Gurutubanos, Faustina Soares Santana, afirmou que é necessário o resgate cultural de toda a comunidade dos Gurutubanos e também um resgate material, ou seja, terem suas terras por direito devolvidas, terras estas roubadas pelos fazendeiros.
Afirmou que anteriormente não era preciso a solicitação de documentos para comprovar a posse das terras e que o fazendeiros traziam documentos para os quilombolas assinarem com o pretexto de fazerem um registro das terras, mas na realidade o que estava escrito neste documento era a entrega das terras através de míseros valores de venda. Fato facilitado visto que muitos eram analfabetos.
Faustina também afirmou que houveram bastantes mortes dos quilombolas devido a luta pela posse das terras e que 3 membros de sua famílias foram mortos nestas disputas.
Na comunidade há ocorrência de mulheres solteiras e outras abandonadas pelos maridos. Como as mesmas não tem nenhum preparo ficam sem renda e o desemprego se agrava, conseqüentemente a fome perpetua a situação miserável da comunidade.
Na comunidade Vila João Gracia são comuns problemas ambientais e dificuldades no plantio de subsistência, tal como retrata Gilberto, uma das lideranças locais: “Tenho noventa anos, nasci em engenho e possuo atualmente poucas terras para a agricultura para ao plantio de milho, feijão, mandioca. Hoje não consigo mais plantar pois o rio não tem mais água.
Hoje a água em muitos lugares viraram poça e os peixes não existem. Como o rio não tem água como antes e essa se encontra poluída, tenho dificuldade no plantio, necessário a alimentação da minha família”
As doenças mais comuns na região são anemia, verme, desnutrição, febre, gripe forte, chagas, calazar, epilepsia, diarréia, tuberculose, gastrite, coração, depressão, dor de cabeça e parasitose.
As visitas médicas só acontecem em casos graves “caso é bem grave”, não há médico nem enfermeiro na comunidade que seja residente, somente um médico que vai a comunidade de 8 em 8 dias, e um agente de saúde que vai a casa, todavia a maioria das pessoas relatam nunca recebeu este em sua casa.
O uso de medicamentos não é constante, e quando necessário utilizam chás caseiros e benzedeiras e curandeiros da comunidade.
O índice de alcoolismo é alto, tanto nos adultos quanto os adolescentes.Na comunidade é comum a ocorrência de doenças de pele, manchas e feridas, principalmente nas pernas, além de graves infecções de ouvido.
As casas, mediante a falta de infra-estrutura apresentam-se sujas, contribuindo para a proliferação de vários insetos prejudiciais a saúde, como baratas, aranhas e vespas encontrados dentro da roupa de cama de várias famílias.
Não há atendimento médico adequado para os gurutubanos agravando a saúde da comunidade. Mediante ao fato, reivindicam o saneamento básico, a instalação de postos de saúde, ambulâncias e médicos permanentes para atendimentos emergenciais e para aqueles típicos do dia a dia.
De acordo com informações de gestores da prefeitura o índice de mortalidade infantil é comparada a países da África chegando a ordem de 100 mortes para cada 1000 nascidos vivos. As mulheres não fazem pré-natal. Em ambas as comunidades é evidenciada a atuação das parteiras, atualmente são duas conhecidas na região, anteriormente eram três, a mais antiga chamada Rosária todavia faleceu recentemente.
Outra questão associada a falta da atuação do setor saúde são os altos índices de catarata que atingem os idosos gurutubanos, doença esta que ocasiona a cegueira gradativa.
Esta poderia ser evitada com o tratamento e/ou cirurgia. A falta de água é marcante, todos coletam a água dos cursos d’água mais próximos que estão poluídos e barrentos. O uso da mesma pela comunidade destina-se ao banho (eventuais), cozimento de alimentos, para beber elevando o estado de saúde. Uma solução viável e identificada pelos quilombolas são os poços artesianos.
Na comunidade quilombolas gorutubanas são evidenciadas crianças com alto grau de desnutrição. Com intuito de sanar estes problemas no município esta sendo montada uma equipe de PSF que atue de forma abrangente. As comunidades Vila João Gracia e Canudo não tem conhecimento relacionado as drogas e sexualidade.
A taxa de analfabetismo da comunidade dos gurutubanos que atinge cerca de 60% dos quilombolas e, por vezes, somente os adolescentes e crianças sabem escrever contudo, parte destes tem dificuldade na leitura.
Muitos abandonam a escola para trabalharem tendo com o intuito ajudar suas famílias na roça. Situações como esta causam o despreparo profissional e social dos gurutubanos deixando-os a margem do processo de inserção social e exercício da cidadania. Uma das reivindicações feitas pela comunidade associam-se a capacitação dos educadores para que os mesmos adaptem a teoria a realidade local para facilitar o processo de aprendizagem e assim a inserção social dos moradores.
A melhor das escolas das comunidade gurutubana Vila João Gracia finda o ensino na oitava série apresenta-se em Localidade rural e é dotada de quatro salas, possuem vídeo, antena parabólica, caixa d’água e Rede elétrica.
Quadra de esportes. Construção de alvenaria e telha de amianto. Poucas cadeiras e carteiras (algumas quebradas).
Todavia segundo os relatos da comunidade as demais escolas apresentam-se precárias.
Na Em Canudos existe uma única escola com apenas o primário. Para que as crianças e adolescentes continuem seus estudos precisam andar 30 km.
Algumas mães não levam as crianças para a escola por falta de documentação o que é a causa da evasão escolar fato agravado pelo trabalho precoce com o intuito de auxiliarem no sustento da família.
A cultura existente nas comunidades é marcada por manifestações culturais composta por novenas a São João que acontecem em junho e tem duração de 9 dias.
O batuque e sapateado (lundum) acontece em junho e dezembro.
As comunidades tem como padroeiros São Pedro e Bom Jesus.
Com intuito de sanar estes problemas que a violam o direito de uma vida digna dos quilombolas é necessária a criação de políticas públicas em todas as instancias de governo sejam elas municipais, estaduais e federais considerando a vivência e os interesses dos integrantes das comunidades tradicionais.
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