segunda-feira, 14 de junho de 2010

TRAIDORES E TRAIDORAS DO POVO NEGRO

"Líderes do acordo com Demóstenes agora pedem cautela Por: Redação - Fonte: Afropress:
Brasília - Lideranças do Movimento Negro que participaram das reuniões convocadas pela SEPPIR para dar aval ao acordo defendido pelo ministro chefe, Elói Ferreira de Araújo, com o relator do Estatuto da Igualdade Racial, Demóstenes Torres (DEM-Goiás), começaram a recuar da posição e passaram a defender maior cautela no tratamento da questão. Pelo acordo, o projeto do Estatuto revisado por Demóstenes (foto), pode ser votado em tempo recorde (nesta quarta-feira, 16/06), caso haja concordância com a retirada de direitos históricos, cujo reconhecimento vem sendo adiado desde a Abolição, em 1.888. (Leia Editorial "A tesoura de Demóstenes e o Estatuto).Tiro no péSob a condição de não terem seus nomes tornados públicos, algumas dessas lideranças admitem que “o acordo com Demóstenes é um tiro no pé” e o projeto, se aprovado como pretende o senador goiano, representará um enorme retrocesso em conquistas históricas da população negra".
TRAIDORES E TRAIDORAS DO POVO NEGRO, DA NOSSA HISTÓRIA
E DA NOSSA CONDIÇÃO HUMANA NO BRASIL RACISTA
Traidor e traidora do povo negro, da nossa história e da nossa condição humana no Brasil racista, é o ex-ministro Edson santos, é o atual ministro Eloi de Araújo, e cada gestor, e cada gestora da SEPPIR que participou da construção desta negociação espúria com o DEM.
Traidores e traidoras do povo negro, da nossa história e da nossa condição humana no Brasil racista, são aqueles e aquelas que deram o seu aval para a SEPPIR, CONEN e UNEGRO prosseguirem na negociação de um instrumento inócuo, durante a II Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, em Brasília, junho de 2009, há um ano atrás.
Você estava lá? Qual foi a sua posição?
Será que se uniu àqueles e àquelas que tiveram o microfone cortado e foram ameaçados pelos seguranças contratados para proteger os traidores e as traidoras que manipulavam a mesa da II CONAPIR?
Ou será que se uniu àqueles e àquelas que entoaram o hino nacional, como se a excomungar as pessoas tentaram denunciar a “manobra traidora” que estava sendo articulada pelo governo e seus /suas asseclas negros/negras, em torno de um arremedo do Estatuto da Igualdade racial proposto originalmente?
Naquele momento, naquela oportunidade única para dizer não à flagrante traição ao povo negro, durante a II CONAPPIR, como VOCÊ se posicionou?
Louvou a “pátria mãe gentil”, que o/a cooptou, e o/a colocou num minúsculo e rídiculo “berço esplêndido” para a defesa sem trégua dos racistas?
Ou se posicionou firmemente na defesa da maioria negra que está sendo exterminada nas periferias das cidades pelo Estado racista; na defesa das comunidades quilombolas que perdem a cada dia suas terras para elite “grileira” e racista; na defesa daqueles e daquelas que estão excluídos do mercado de trabalho e da educação formal; na defesa daqueles e daquelas cuja cultura foi e está sendo demonizada pelo racismo; na defesa do povo negro, enfim?
Será que VOCÊ, escolhido/a em suas bases para representar o povo negro excluído na Conferência se lembrou dos seus representados? Ou se submeteu às determinações dos seus partidos políticos, de direita ou esquerda, que não nos reconhecem, que não reconhecem a nossa história, a nossa cultura, a nossa humanidade, e a nossa existência?
Traidores e traidoras do nossa história e da nossa condição humana no Brasil racista, são os APN's que sempre se posicionaram à favor do “documento espúrio”, na época da Conferência e hoje, o que não nos surpreende, considerando que se mantêm vinculados a uma Instituição co-responsável pela escravidão, e responsável direta pela demonização da cultura negra e do povo negro.
Traidor da nossa história e da nossa condição humana no Brasil racista, é o jornalista Dojival Vieira, que no editorial “O RESPEITO À MAIORIA OU O RETORNO À AUTOFAGIA“, publicado no Afropress na “Sex, 10 de Julho de 2009 22:42”, atacou as lideranças e as Entidades negras que assinaram o manifesto MANIFESTO EM DEFESA DOS DIREITOS E DA AUTONOMIA POLÍTICA DA POPULAÇÃO NEGRA (abaixo), com colocações do tipo “os opositores do texto [do Estatuto] deveriam, para começar, terem dela [da Conferência] se ausentado. (…) Não resiste, portanto, à menor análise, teses conspirativas para quem 'grileiros, gestores públicos, legisladores e empresários da comunicação, entre outros, se uniram para produzir uma proposta clandestina de Estatuto'. (…) Se o texto não é o melhor, se foi fruto de concessões na tramitação no Congresso, que o descaracterizaram – pelo menos na ótica dos seus críticos – o fato é que foi amplamente referendado pela maioria quase esmagadora dos delegados [na Conferência]”.
O mesmo jornalista, no mesmo editorial preocupou-se em defender e promover o ministro Edson Santos contra supostos ataques de lideranças e entidades do Movimento Negro. Escreveu “O que tais críticos escondem por trás de argumentos desse tipo é o ressentimento com o fato de o Ministro não ser oriundo dos quadros do Movimento Negro, o que, igualmente, não é defeito; ao contrário, pode ser virtude, se, por Movimento Negro se entender, uma certa visão sectária de um grupo reduzido que se pauta por uma Agenda defasada há pelo menos 30 anos, e que atua como uma corporação fechada e impermeável aos ventos das novas gerações de negros desejosos de mudar a agenda política do país. (…) Goste-se ou não, o ministro passou a conduzir o órgão criado no interior do Estado para tratar das políticas para a população negra, com outro padrão de preparo, o mesmo com que conduziu as negociações para se chegar ao texto [do Estatuto] submetido e aprovado pela Conferência.
Nada contra a pessoa do jornalista Dogival Vieira, e sim contra a hipocrisia e as “canetas baratas”, que pelo visto o ministro Elói se esqueceu de comprar.

PROFA. SILVANY EUCLÊNIO

(Ativista do Movimento Negro, presente na II CONAPIR)
SEGUE ABAIXO O TEXTO DO MANIFESTO LANÇADO EM JUNHO DE 2009, MAIS ATUAL DO QUE NUNCA.
MANIFESTO EM DEFESA DOS DIREITOS
E DA AUTONOMIA POLÍTICA DA POPULAÇÃO NEGRA


Nós, Organizações e Ativistas do Movimento Negro vimos nos manifestar publicamente em defesa de uma ação contundente do Estado brasileiro para garantir a efetivação dos direitos políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais da população negra.
Lutamos contra a escravidão e rompemos as correntes da opressão. Desmascaramos a farsa da democracia racial e inscrevemos na Constituição Federal o racismo como crime inafiançável e imprescritível. E mais, temos construído um amplo consenso na sociedade brasileira sobre a necessidade de uma ação coletiva para banir o racismo.
O Estatuto da Igualdade Racial se inscreve neste contexto como parte da nossa luta histórica. Após quase uma década de tramitação no Congresso Nacional, o documento tem sido alvo de ataques que o desfiguram completamente!
Neste início de século XXI, a articulação de diferentes setores racistas, partidos políticos e herdeiros dos antigos senhores de escravos derrotados em 1888, têm engendrado diferentes maneiras de se contrapor à vontade da sociedade brasileira de instaurar a equidade e a justiça racial entre nós.
Não satisfeitos de serem detentores da maior fatia da riqueza nacional, produzida em grande parte pela população negra, insistem em utilizar manobras para esvaziar o sentido original do Estatuto, inviabilizando a plena realização de nossas conquistas no combate ao racismo, em evidente desobediência aos preceitos constitucionais e aos tratados internacionais ratificados pelo Estado brasileiro.
Neste momento, interesses eleitorais estimulados pela proximidade de 2010, têm provocado articulações e composições espúrias que utilizam nossas conquistas como moeda de troca. Daí o esvaziamento dos conteúdos de justiça racial do Estatuto, o que impõe retrocessos, injustiças e a perpetuação de violações de direitos fundamentais da população negra.
Grileiros, gestores públicos, legisladores e empresários da comunicação, entre outros, se unem para produzir uma proposta clandestina do Estatuto, contrariando frontalmente os nossos interesses e as evidências de que o racismo é um fator estruturante das hierarquias na sociedade brasileira. São exemplos disto:
1. O caráter autorizativo e não determinativo desta proposta de Estatuto, que delega aos gestores a decisão de cumprir ou não o que está escrito;
2. A eliminação do instrumento das cotas e a restrição das políticas de ação afirmativa apenas à parcela da população negra brasileira abaixo da linha da pobreza;
3. O não reconhecimento dos territórios tradicionais quilombolas - terras ocupadas por remanescentes de quilombos, utilizadas para a garantia de sua reprodução física, social, econômica e cultural, bem como as áreas detentoras de recursos ambientais necessários para a subsistência das comunidades, para a preservação da sua cultura, englobando os espaços de moradia, espaços sagrados e sítios históricos;
4. A retirada da criação do fundo de recursos financeiros para implementação de políticas públicas para a população negra.
Sendo assim, em respeito à trajetória política de negras e negros brasileiros, nos manifestamos pela defesa intransigente de nossas conquistas históricas, repudiando o atual texto substitutivo do Estatuto da Igualdade Racial – Projeto de Lei 6264/2005.
Nesse mesmo sentido a II CONAPIR se pronunciou favorável à aprovação do Estatuto com alterações que assegurem as demandas históricas da população negra.
Repudiamos as negociatas que envolvem partidos de direita e de esquerda. Repudiamos os retrocessos.
Repudiamos qualquer tentativa de esvaziamento de nossa organização política.
Reafirmamos nossa luta por ações afirmativas nos diferentes setores da vida social e política do país.
Pelas cotas raciais nas universidades públicas.
Pelo direito aos territórios das comunidades quilombolas e tradicionais.

Nenhum direito a menos!

REPARAÇÃO JÁ!
Brasília, 28 de Junho de 2009
II Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial
"Compromisso, senão lutar vira negócio; respeito, senão militância vira farra;

memória, senão a desgraça se repete".
Hamilton Walê

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