quarta-feira, 17 de abril de 2013

“A revolução das mulheres continua”


Em Túnis, mulheres de todas as partes do mundo realizaram a Assembléia das Mulheres e reafirmaram a importância da solidariedade entre os povos no enfrentamento ao machismo e patriarcado, que se expressam em diferentes contextos sociais e políticos por elas vivenciados. Com a presença de muitas mulheres tunisianas, palestinas, marroquinas, senegalenses, francesas e brasileiras, dentre muitos outros países da África, Oriente Médio, Europa, América e Ásia, a Assembléia enfatizou a luta por Estados laicos, contra as desigualdades legais, institucionais, econômicas, políticas, sociais e culturais, pela autonomia e emancipação das mulheres no mundo. “A revolução das mulheres continua, das mulheres do Marrocos, Egito, Palestina, Tunísia, de todo o mundo. É a solidariedade que nos fará construir, ao nosso modo, um outro mundo possível”, afirmaram.
Um dos destaques foi o protesto contra o governo argeliano, que impediu mulheres do País de vir ao Fórum. Para enfrentar questões como essa, houve uma reafirmação da importância da solidariedade. “Esta deve ser nossa palavra de ordem. A luta das mulheres subsaarianas é também a luta por uma consciência feminista, que nos mostra a necessidade de investir em formação e de sair para as ruas para reivindicar nossos direitos. Não podemos permanecer paradas nas lembranças que nos machucam, precisamos superá-las e lutar”, afirmou uma representante do movimento de mulheres do Senegal. Para ela, é fundamental garantir mais acesso à educação, ao trabalho e ao conhecimento. “Devemos nos colocar juntas, ter sinergia, fazer um coletivo para conquistar a liberdade, contra o patriarcalismo. Somos estupradas, submetidas à violência e aos organismos internacionais controlados pelos países do Norte, e devemos nos unir para lutar também contra a grilagem de terras”, afirmou.
O tema do acesso à terra foi amplamente abordado pela representante brasileira, que é do MST e compartilhou um pouco da luta das mulheres da América e especificamente das mulheres camponesas do Brasil. “Somos nós mulheres que garantimos a produção que alimenta a população brasileira. As mulheres do campo no Brasil têm se organizado para fazer o enfrentamento ao agronegócio, que quando chega ao campo destrói o território e a produção de alimentos. É um modelo que traz todo tipo de violência contra as mulheres, e é nesta luta que temos nos organizado”. Por isso, é fundamental “unir todas as camponesas do mundo pela libertação das mulheres”. Tunísia
A presidenta da Associação Tunisiana das Mulheres Democráticas, Ahlem Belhardi, contextualizou a luta das mulheres neste momento pós-revolucionário, destacando que a situação é complexa e é preciso frear a contra-revolução. “Estamos mobilizadas para incluir o direito das mulheres na revolução, não podemos ser apenas um instrumento da luta”. Ela também afirmou a importância da solidariedade internacional contra o sistema econômico financeiro, que “se impõe sobre nosso território. É ótimo que estejamos juntas neste Fórum”.
Outra militante tunisiana ressaltou que é preciso aprofundar as conquistas da revolução em relação aos direitos das mulheres. “A Bacia Mineira foi a fagulha que espalhou a revolução na Tunísia, e as mulheres estavam na linha de frente nessa batalha. Mas os homens instrumentalizam as mulheres. Participei da primeira manifestação de mulheres da nossa história. Ficamos sentadas protestando de maneira pacífica e fomos presas por quatro meses, enquanto alguns homens foram presos pelos mesmos motivos por três meses”. No final da Assembléia, as mulheres propuseram a criação de uma rede de apoio às tunisianas, para estabelecer instrumentos que garantam uma solidariedade efetiva.

Fonte: http://www.abong.org.br

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