Fonte.: Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça
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Política pública pode ser definida como tudo aquilo
que o governo (municipal, estadual ou federal) faz no que diz
respeito às leis, medidas reguladoras, decisões e ações.
Partindo do principio que com uma política articulada acerca dos
saberes e experiências tendo em vistas ao planejamento, para
realização e avaliação de políticas, programas e projetos, com
os objetivos de alcançar resultados é com esse objetivo de
formar profissionais aptos/as a atuar no processo de planejamento,
orçamento, monitoramento e avaliação de projetos e ações de
forma a assegurar a transversalidade e a intersetorialidade de gênero
e raça nas políticas públicas, lançam o curso Gestão de
Políticas Públicas em Gênero e Raça, direcionada a servidores/as
nos três níveis da Administração Pública.
Cientes que a articulação entre as agendas de gênero
e raça nos programas e nas políticas públicas no Brasil ainda
permanece como uma tarefa premente, e que a inserção dos problemas
e temas da população feminina e negra na agenda pública.
A intersetorialidade cria espaços de comunicação e
relação de instituições que atuam em diversos setores
(político, técnico, administrativo etc.), em diferentes áreas
(saúde, educação, meio ambiente, assistência social, planejamento
etc.), e que podem pertencer a órgãos governamentais,
não-governamentais, empresas e órgãos internacionais. Políticas
públicas intersetoriais agregam setores diversos e várias áreas,
permitindo melhor utilização de conhecimentos e experiências
acumuladas, colaborando para o alcance de metas comuns, sob uma
coordenação que abarca todas as contribuições.
Política de Governo e Política de Estado
Políticas de governo são aquelas que o Executivo
decide num processo bem mais elementar de formulação e
implementação de determinadas medidas, para responder às demandas
colocadas na própria agenda política interna – pela dinâmica
econômica ou política-parlamentar, por exemplo – ou vindos de
fora, como resultado de eventos internacionais com impacto doméstico.
Elas podem até envolver escolhas complexas, mas pode-se dizer que o
caminho entre a apresentação do problema e a definição de uma
política determinada (de governo) é bem mais curto e simples,
ficando geralmente no plano administrativo, ou na competência dos
próprios ministérios setoriais.
Políticas de Estado, por sua vez, são aquelas que
envolvem as burocracias de mais de uma agência do Estado,
justamente, e acabam passando pelo Parlamento ou por instâncias
diversas de discussão, depois que sua tramitação dentro de uma
esfera (ou mais de uma) da máquina do Estado envolveu estudos
técnicos, simulações,análises de impacto horizontal, efeitos
econômicos ou orçamentários, quando não um cálculo de
custo-benefício levando em conta a trajetória completa da política
que se pretende implementar. O trabalho da burocracia pode levar
meses, bem como o eventual exame e discussão no Parlamento, pois
políticas de Estado, que respondem efetivamente a essa designação,
geralmente envolvem mudanças de outras normas ou disposições
pré-existentes, com incidência em setores mais amplos da sociedade
Nenhum
Estado, nem governo se constituem sem a atuação da sociedade civil.
É da sociedade civil que emergem as demandas para que
os governos efetivem com medidas concretas, os postulados muitas
vezes genéricos afirmados pelos Estados Democráticos de Direito.
Cabe destacar a atuação dos/as pesquisadores/as, sujeitos que têm
contribuído para a qualificação das políticas públicas. São
economistas, matemáticos/as, analistas de sistemas,
engenheiros/as, sociólogos/as, antropólogos/as, psicólogos/as,
profissionais da área da saúde, pedagogos/as, educadores/as e de
outras áreas que ao pesquisar as políticas públicas conferem-lhe
um caráter interdisciplinar.
Em outras palavras, a sociedade civil tem como ação
primordial, apontar os problemas a serem enfrentados, propor e
colaborar na formulação das políticas mais adequadas para saná-los
e, ainda, fazer o controle social da execução destas políticas por
meio dos espaços de democracia participativa, como os conselhos,
audiências públicas etc.
Por isso, é fundamental, em uma política pública,
pensarmos em quem ganha o que, por que e que diferença faz. Isso nos
remete diretamente ao coração da formulação das políticas
públicas e às relações entre sociedade e governo para a definição
das ações que serão tomadas.
O CICLO DAS POLITICAS PUBLICAS
O ciclo das políticas públicas estuda todo o processo
que vai da definição de agenda, elaboração da política pública,
sua efetiva implantação e avaliação Tratando-se da formulação
de políticas públicas, Easton (1953) constrói um paradigma para
demonstrar o que entende por atividades políticas: a atividade
política é analisada em termos de um sistema abarcando uma série
de ações que devem permanecer em equilíbrio a fim de
que a atividade sobreviva. Nestes sistemas, a vida
política é pensada como um processo que engloba inputs (entradas
ou perguntas), que vêm do ambiente externo (econômico,religioso,
cultural e de toda a sociedade civil), que se transformam em outputs
(saídas ou respostas) e que são as decisões políticas. Estas
decisões políticas afetam diretamente o ambiente externo e resultam
em novas questões e perguntas.
A partir do momento em que se dá a inserção desta
demanda na agenda política do governo, considera-se que se iniciou o
ciclo das políticas públicas, que pode ser assim esquematizado: 1)
Definição da agenda;
2)
Formulação de políticas, com identificação de alternativas,
avaliação das opções e seleção das opções;
3)
Implementação da política pública;
4) Avaliação.
AVALIAÇÂO E MONITORAMENTO
Avaliação e o monitoramento é uma etapa essencial
deste ciclo. É a avaliação e o monitoramento das políticas
públicas que permitem verificar quem, de fato, se beneficiou da
implementação de certa política pública e se ela, efetivamente,
atingiu o fim para o qual foi desenhada. No momento da avaliação
é que é possível responder com mais precisão “que diferença
fez” a implementação de determinada política. Diante dos
resultados, seriam feitos ajustes ou implementadas novas
políticas.
O que temos notado é que, embora seja possível
criticar a baixa utilização da avaliação de políticas públicas
no Brasil, enquanto ferramenta de gestão, cada vez mais tem se
percebido o seu potencial na correção do curso das políticas
públicas.
CONSIDERANDO OS TEMAS GÊNERO E RAÇA.
É possível perceber que a implementação das
políticas públicas conjuga as três respostas acima:
1) Primeiro, assumindo que há problemas na sociedade
referentes ao tratamento desigual dado às mulheres e aos/às
negros/as e outros grupos discriminados;
2) Por meio de informações, produção de
conhecimento e ação coletiva criam-se novas concepções em torno
do tema gênero e raça, almejando a justiça social e a equidade;
3) Por fim, há a conjunção entre participantes
visíveis e invisíveis para que, finalmente, a política
pública seja implementada.
Definindo políticas afirmativas: entre o
reconhecimento e a redistribuição em contextos globais e locais
O advento das políticas afirmativas enquanto políticas
públicas sob o controle do Estado marcou uma
mudança paradigmática nos
estudos dedicados aos chamados “novos
movimentos sociais” ou movimentos identitários.
No começo dos anos 1980,
postulados teóricos consagrados prescreviam
que os/as novos/as atores/atrizes sociais
reivindicariam apenas o reconhecimento
identitário (raça, gênero,
orientação sexual, política ou religiosa),
como se as necessidades básicas para a
realização plena da
cidadania prescindissem de uma base material de sobrevivência.
Diante das pesquisas e dos indicadores apontando a insuficiência das
políticas públicas universalistas para a correção das
desigualdades, os movimentos sociais passaram a
discutir com o Estado uma mudança no desenho das
políticas. A pressão dos movimentos sociais explicitou
que a gestão das desigualdades e as exclusões
requeriam um mecanismo social que desse conta tanto do re-
conhecimento quanto dos aspectos redistributivos, na medida em que
historicamente foi com base nas condições de pertença racial e
étnica, de gênero, orientação sexual, política ou religiosa que
as desigualdades e as exclusões se assentaram. Estes aspectos foram
ilustrados na unidade anterior, em que foi constatada a contradição
inerente aos discursos liberais
de igualdade,
liberdade, trabalho e cidadania na formação das sociedades
contemporâneas diante das realidades sociais sedimentadas na
desigualdade e na exclusão. Este debate se dá de forma acalorada,
em conflito com o liberalismo clássico.
Portanto, a demanda social por políticas afirmativas
choca-se frontalmente com a doutrina liberal. Os movimentos
feministas pelo sufrágio universal, os movimentos pelos
direitos civis encabeçados pelos/as norte-americanos/as negros/as em
prol da justiça sociorracial, da redistribuição de recursos e do
reconhecimento expõem as contradições inerentes a esta doutrina.
Esse movimento contínuo de exposição das contradições
ideológicas básicas da modernidade seria encampado por todos os
movimentos sociais, em escala global, na busca pela igualdade,
sobretudo após a erosão do Estado de “bem estar social”.
Neste contexto, o que seriam as políticas
afirmativas?
Na verdade, não há uma única definição dessas
políticas, já que esse mecanismo de gestão das desigualdades
cobre vastas áreas da atividade social, incorporando o mercado
de trabalho, a representação política, as oportunidades
educacionais, entre outras. Todavia, pode se dizer que há um
consenso conceitual, independente do contexto social do qual as
políticas afirmativas emergem: elas se constituem em mecanismos de
diminuição de desigualdades historicamente construídas ou
destinam-se a prevenir que novas desigualdades se estabeleçam no
tecido social, tendo por base condições de gênero, raça,
orientação sexual, participação política e religiosa. Observa-se
que políticas afirmativas, no setor público, podem ser simplesmente
denominadas ações afirmativas ou políticas de igualdade de
oportunidades. No setor privado, elas adquirem geralmente a
denominação de políticas de diversidade, que são voluntárias e
não são monitoradas sistematicamente por órgãos estatais.
Diversos/as autores/as e especialistas têm proposto definições
variadas e de acordo com processos específicos de desigualdade.
Por exemplo, Celso Antônio Bandeira (2003) define que
as ações afirmativas:
Das cinco definições de ações afirmativas
apresentadas, destacamos a do ministro Joaquim Barbosa
Gomes por explicitar as áreas da educação e o mercado do
trabalho onde a efetiva prática da igualdade de oportunidades poderá
ser alcançada. Sua definição está em acordo com aquelas feitas
por órgãos internacionais, como a (COMISSÃO
DE IGUALDADES
DE OPORTUNIDADE NO EMPREGO - EEOC),
dos Estados Unidos, e as diretrizes da (UNIÃO
EUROPEIA).
Desta forma, ao precisar exatamente onde, como e por que as ações
afirmativas podem ser implementadas, a definição do ministro
Barbosa elimina as incertezas quanto ao alcance dessas políticas.
É fundamental reparar também que em nenhum momento o ministro se
vale de termos imprecisos, como minoria, excluídos ou grupos
culturais. Ao primar pela precisão conceitual, os movimentos
sociais e a sociedade em geral podem avançar nas suas propostas de
busca da igualdade de oportunidades. É importante notarmos que,
de forma ampla, as políticas afirmativas estão mais voltadas
às políticas que dizem respeito ao ensino superior,
especialmente às cotas.
Políticas universalistas ou políticas focais.
a) Reconhece que o combate ao racismo, à discriminação
racial, à xenofobia e à intolerância correlata é responsabilidade
primordial dos Estados. Portanto, incentivam os Estados a
desenvolverem e a elaborarem planos de ação nacionais para
promoverem a diversidade, a igualdade, à equidade, a justiça
social, a igualdade de oportunidades e a participação para
todos. Através, dentre outras coisas, de ações e de
estratégias afirmativas ou positivas, estes planos devem visar à
criação de condições necessárias para a participação efetiva
de todos nas tomadas de decisão e ao exercício dos direitos
civis, culturais, econômicos, políticos e sociais em todas as
esferas da vida com base na não-discriminação.
b) Insta os Estados a estabelecerem, com base em
informações estatísticas, programas nacionais, inclusive programas
de ações afirmativas, ou medidas de ações positivas, para
promoverem o acesso a grupos de indivíduos que são ou podem vir a
ser vítimas de discriminação racial nos serviços básicos,
incluindo educação fundamental, atenção primária à saúde e
moradia adequada e as desigualdades de raça, gênero e outras formas
correlatas de opressão representam problemas globais, ainda que
obedeçam às especificidades de cada país; e as políticas
universalistas não são incompatíveis com políticas focais; elas
são, antes de tudo, instrumentos constitucionais complementares.
Contabilizando as boas práticas apesar da “queda
de braços”
O A experiência brasileira
de implementação de políticas afirmativas tem adentrado caminhos
tortuosos e embates políticos e ideológicos profundos acerca do
tratamento das desigualdades sociais, sobretudo aquelas focadas em
gênero e raça. Esse processo tem sido caracterizado pelo avanço
dos novos movimentos sociais, como estudado na primeira unidade deste
curso, levando-se em conta a ferrenha “queda de braço” entre
defensores/as e opositores/as dessas políticas.
Saiba mais https://caedvirtual.grude.ufmg.br/
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