quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Bete Nagô será homenageada com o Troféu Rainha Nzinga, nos dias 27 e 28 de Maio de 2022, Montes Claros - MG.



Bete Nagô, ativista fotográfica Bete Nagô é o nome que a mulher em busca de emancipação Elisabete Maria Carlos
Fitzgerald Furuya escolheu para si. Bete Nagô não esconde sua força, sede por justiça social e que
caminha para o aperfeiçoamento, em busca deste, avançando: está em cada um dos vídeos que posta, palavra que escreve, fala honesta, franca e inteligível (por acessível) nas mesas em que
participa e nas fotos que faz. Nesse caminhar vem se erguendo uma mulher de volição, opiniões e atitudes anti sistêmicas pois o sistema no qual estamos inseridas não acolhe, rende afeição e alegrias a determinados corpos.
Seu trajeto é na busca de uma outra sociabilidade, onde caiba o bem viver como regra e não exceção. Ao contrário de muitos que se julgam revolucionários, sua vivência diária não é esperando o dia da mudança, mas colocando em práxis essa utopia de afeto e cuidado na qual crê. Um afeto que a faz mãe, zeladora e cuidadora de muitos. Aprendeu sendo a primogênita das três filhas de seus pais. Sua paixão pela fotografia, também, vem de longe. Seu pai chegou um dia em casa, vindo de exercer seu ofício de zelador com um livro nas mãos recheados de fotografias em preto e branco. Era ali que travara seu primeiro contato com a obra de Sebastião Salgado. Sua mãe, empregada doméstica de profissão, não via graça naquelas fotos pois não tinham cores. A menina Bete Nagô, no entanto, como relata emocionada, descobriu naquele registro da realidade o que seria sua arma na guerra contra a injustiça: fotografias em preto e branco. Fotografia não é arte barata, pensava. E assim seguiu sua vida em busca da sobrevivência sendo empregada doméstica e artesã. Foi muita labuta neste país em que sonhos de negras estão fadados a permanecer no mundo das ideias, sem nunca se materializar; no qual arte não é trabalho e no qual pessoas negras não são desde a falsa abolição absorvidas pelo mercado de trabalho, tendo negados seu direito a cidadania plena, com garantias dos direitos mínimos necessários à sobrevivência humana. Foi com a descoberta da fotografia inclusiva, tão às mãos quanto um celular, que essa história começou a mudar. Através do conhecimento da fotografia como arte inclusiva foi que esta mulher negra, nascida na periferia da cidade de Guarujá, moradora do Macuco de Santos, de origem periférica tornou o sonho de infância em sua forma de comunicar seus sentimentos ao mundo. Bete Nagô é filha de Xangô e Iansã. Traz a força no olhar; deste nascem os registros das peleias de pessoas que lutam por justiça social. São dessas guerreiras que se cerca e são estas as protagonistas de suas fotos - pessoas trabalhadoras, mulheres, mães. Sua guerra é a delas; seu papel é o de fazer ecoar os gritos das que clamam por reparação social, equidade e o que é direito, direitos humanos para todes, todas e todos. Sua arma, é a câmera fotográfica.
Helena Pontes dos Santos

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