sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Barack Obama





Barack Obama
Aqui, a vitória negra não acabou em festa

Roquildes Ramos Silveira *


Barack Hussein Obama, 44º Presidente eleito para governar os Estados Unidos. Quem de nós ainda duvida de sua origem negra ? Pois é, ele é o primeiro negro na história dessa nação a ocupar o cargo mais importante para o mundo . A Presidência dos Estados Unidos.
O mundo está festejando, e nós o que estamos fazendo? Vários países , principalmente , do continente da África, estão em festa comemorando esse fato histórico , pois , no campo da simbologia reacende possibilidades propositivas para a humanidade , contrário , portanto ao autoritarismo político , econômico e militar , marcas impositivas de governabilidade entre os Estados Unidos e o restante do mundo .
E para nós brasileiros (negros e negras) que importância tem para a nossa nação a eleição de Barack Hussein Obama, em que aspecto será para nós positiva? Esta resposta, analisando todos os ângulos e dimensão, não deverá ser manifestada de forma apressada, logo, inconseqüente, haja vista que no Brasil, apesar do seu recente fortalecimento econômico, ainda, é um país considerado emergente em desenvolvimento e dependente das políticas econômicas Estadunidenses. Contudo, não há como negar que o fato em si representa um acontecimento extraordinário, acalentando a esperança do respeito aos Direitos Humanos, ente outros Direitos e Garantias Fundamentais, e a Soberania das demais nações.
Aqui entre nós, que durante muito tempo vivemos numa condição legitimada de escravidão, que ainda hoje assiste a perpetuação dos efeitos dessa escravidão é um choque acreditar que um dia isso fosse possível, pois, ao contrário desse acontecimento histórico, o Brasil está longe de ser uma possibilidade real de acessão no mundo da política, da economia, quanto mais um negro vir a chegar à Presidência da República.
Na verdade, as condições para a população negra em geral são péssimas (com ressalva as conquistas pessoais). Sendo assim, os negros e negras brasileiras raramente ocupam e ocuparão um espaço na classe privilegiada do Poder, seja na administração pública ou privada. Em pleno século XXI, no Brasil a condição da população negra se restringe ao patrimônio maldito herdado da escravidão. Vivemos na extrema pobreza, no "mercado informal" (a mendicância, a prostituição, a exploração infantil, o emprego desqualificado etc), além disso, nos é imposto pelo neoliberalismo (com fachada de esquerda) uma estrutura educacional degenerada com o objetivo maior (não declarado) de perpetuar o analfabetismo e, conseqüentemente, a marginalização da raça. Este sistema nos impõe como políticas públicas habitacionais as cadeias e penitenciárias (para os jovens e adultos), os asilos (para os velhos), os orfanatos (para as crianças), os manicômios (para os desajustados) tem sido os nossos lugar; construções da modernidade para o controle demográfico do excedente de cor. Conclui-se que apesar de todo avanço alcançado, digo, a "democracia", os descendentes privilegiados da colonização brasileira ainda vêem os desdentes da escravidão como espúrias necessárias para a acumulação de riquezas.
Diante dessa realidade , precisamos refletir amiúde acerca do futuro do Brasil porque é o segundo maior país em população negra do mundo e vivemos, com algumas mudanças aparentes , no que concerne a nossa estética e cultura , como no dia seguinte da " Abolição ", sem Poder . As favelas a cada dia se multiplicam, os números de negros e negras sobrevivendo da criminalidade e da prostituição tem aumentado geograficamente. Tal situação não é diferente no governo da "Bahia de Todos Nós ". A cada momento vê-se essa consolidação do modelo opressor e degenerativo de grande parte de nossa população sem que nada de concreto seja implementado, a não ser o discurso em nome da "governabilidade", leia-se, deixar tudo como está para não contrariar os interesses econômicos das elites .
O atual Governo não se diferencia dos outros governantes de outrora, pois, como se tem visto não existe proposta séria para a educação pública, nem para a saúde (apesar dos avanços tímidos), tampouco para a economia e o combate ao desemprego que, segundo dados estatísticos, afetam diretamente a condição humana da população negra.
Nota-se então que os negros e negras sempre tiveram um lugar que lhe é reservado (por isso, no modelo atual capitalista nunca estivemos excluídos, ao revés), qual seja, rir, segurar a bandeira da esquerda e aplaudir os governantes, entre tantas outras funções que temos executado para ganhamos o pão de cada dia. Fora isso, quantos dos que "comeram poeira" junto com o atual Governador foram chamados para ocupar postos de destaques e de confiança?
Sendo assim , em que medida podemos afirmar que a vitória do negro Barack é nossa vitória ? Infelizmente , muito pouco . A repercussão parece ter sido tímida . A prova disso, que por não estarmos organizados política e economicamente não saímos para comemorar . As nossas ruas não foram ocupadas pelos blocos , nem pelo frevo , muito menos , o sambódromo anunciou a festa que o nosso Planeta preparou para o nosso Povo , nem mesmo os Terreiros de culto Afro rufaram seus tambores dando as boas novas . Enquanto isso , Barack Hussein Obama triunfantemente "fez" com que povos diversos saíssem às ruas celebrando, se abraçando e chorando de felicidade .
A forte influência das teorias marxistas, entre outras, que ajudaram a fundar as bases ideológicas dos movimentos sociais, na América Latina na formação de algumas lideranças do movimento negro, talvez, seja uma das explicações para a nossa tímida reação. Historicamente aprendemos que para sermos conscientes devemos negar tudo que seja produzido pela "América", portanto, tendemos a fazer uma analise de que os negros dos Estados Unidos são tão-somente capitalistas e, não são diferentes de tantos outros.
Então se entende porque não estamos em festa , porque sem poder político e econômico , o que nos resta como possibilidade é ser atores coadjuvantes , figurantes no " teatro " do "Brasil de Todos " e na "Bahia de Todos Nós ". Importante lembrar que recentemente saímos de uma eleição e poucos , entre nós , votamos num candidato para vereador ou vereadora por serem negros (e ainda assim , nos orgulhamos da nossa pele , do nosso cabelo e da nossa consciência ).
Para que um dia seja possível viver a possibilidade real e concreta de construímos um projeto revolucionário e libertário para o povo negro e para a nossa sociedade, é preciso que nós negros e negras nos unamos e tomemos em nossas mãos a responsabilidade de materializar este projeto, pois, para que o sonho de Martin Luther King se tornasse possível foi necessário muito mais que cotas (indispensáveis ainda entre nós). Fora a determinação de um povo, revestida de muita disciplina que fez do sonho dele, entre tantos outros, como Malcolm X, que incansavelmente lutaram dando a própria vida para que um dia os direitos políticos e econômicos tivessem ao alcance de todos.

Precisamos refletir que herança estamos semeando, pensar nas futuras gerações. É preciso mudar. Deixar de colher e acolher as "migalhas" do banquete dos poderosos.

Roquildes Ramos Silveira

Estudante de Direito – Para a Disciplina de Direito Econômico . Prof. Deraldo Dias . Coordenador Geral do Sindicato dos 
Servidores Penitenciários da Bahia e do Núcleo Makota Veldina de Estudantes Negros da UCsal.

ogumder@hotmail.com.

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