“A demissão da Ministra Matilde Ribeiro, a irresponsabilidade de Flávio Jorge e o oportunismo de Martyus Chagas”.
A partir de Novembro de 2006 e praticamente durante todo o ano de 2007 o nosso campo político publicou uma série de documentos analisando e denunciando uma ação inescrupulosa que comprometia o processo democrático no Partido dos Trabalhadores e também na SEPPIR – Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial. A Secretaria Nacional de Combate ao Racismo do PT onde o Força Negra perfaz 50% de sua composição está sob uma obstrução orquestrada que propositalmente não reúne o coletivo nacional há vários meses, a própria Executiva Nacional do PT não se posiciona sobre um recurso apresentado por militantes que solicitam a intervenção na instância e uma posição do partido. A situação de Martyus Chagas, Secretário Nacional de Combate ao Racismo, que ocupa cargo no PT e no Governo Lula, como adjunto e agora interino da ex ministra Matilde Ribeiro é só um exemplo da falta de ética do núcleo de comanda a SEPPIR. Esse grupo político idealizou o projeto hegemônico da criação e ocupação total do ministério a partir da construção do nome de Matilde Ribeiro que não era oriunda do movimento negro brasileiro. Em nossas publicações avaliamos o primeiro mandato do Governo Lula e apontamos graves problemas de implementação das políticas raciais básicas e as razões da sua ineficiência. Enquanto isso, o movimento negro brasileiro silenciava-se dissimulando não ver e não ouvir os meandros de uma crise que sinalizava o pior. O principal mentor e articulador dessa concepção política é Flávio Jorge que após criar essa estratégica megalomaníaca acabou expondo o movimento negro brasileiro e uma população de mais de 80 milhões de afro-descendentes a uma verdadeira vergonha nacional sem precedentes. O pronunciamento da Ministra Matilde Ribeiro pedindo exoneração no último dia 01 de Fevereiro representou o final da segunda etapa de escândalos que teve início na equivocada entrevista à rede BBC. Foram os dois únicos momentos que a SEPPIR apareceu em evidencia para o povo brasileiro em todo o seu mandato. O que retrata uma verdadeira incompetência política e administrativa desse grupo que afinal de contas estava rompido a mais de um ano. Ou seja, as criaturas Matilde e Martyus voltaram-se contra o criador Flávio Jorge. Tanto que a Ministra responsabilizou e demitiu ao vivo para todo o Brasil os dois assessores ligados a Flávio Jorge na SEPPIR. Esse grupo político que já deve estar articulando a sucessão do ministério traiu a nossa ancestralidade e deferiu um golpe certeiro na secular luta pela liberdade do povo negro brasileiro e da sua principal vertente o movimento negro. “O sangue e a vida de nossos guerreiros antepassados foi desprezado pelo egocentrismo de famintos de alma e de ideal”. Nelson Mandela, que ficou vinte e sete anos na prisão, foi seduzido várias vezes com melhorias pessoais de conforto e alimentação e nunca aceitou mordomias. Mas sempre dizia não, e só aceitava alguma coisa quando conquistava melhorias para todos os detentos. Ele sempre disse: “Só negociarei com o regime segregacionista a liberdade do meu povo, nunca benefícios pessoais”, e assim Mandela derrubou a segregação racial institucional na África do Sul. “Mandela não pensou apenas na árvore, mas sim na floresta”. Os grandes líderes agem assim, não se vendem para o sistema. Zumbi manteve o Quilombo dos Palmares enfrentando o colonialismo, mas também os negros traidores e delatores. Estamos em plena era do pelourinho eletrônico e tecnológico que a partir dos meios de comunicação surra em massa a dignidade e a luta de todo o povo negro do Brasil. Fruto da manutenção do padrão europeu de Estado e Sociedade que torna irrelevante a existência do racismo institucionalizado reduzindo-o a problemas sociais e de classe. É só lembrarmos da recente campanha contra a titulação das terras quilombolas e o decreto 4887/2005. O resultado fatal dessa concepção foi a exposição da Ministra Matilde Ribeiro como presa fácil para a elite racista brasileira que hipocritamente puniu uma mulher negra, aliás, que sabia muito bem o que fez e de ingênua não tem nada. É lógico que essa elite não demonstrou o mesmo ímpeto e coragem para fazer uma campanha contundente na mídia e colocar os chefes do Mensalão na cadeia. E mesmo no caso dos “cartões de crédito” sabemos que a elite branca governamental gastou e continuará gastando dez mil vezes mais em viagens, hospedagens, e fartos banquetes. Contudo, o discurso fácil de que a razão da demissão da Ministra é meramente resultante do racismo é um engodo reproduzido pelo seu próprio núcleo de apoiadores. Nisto, o campo Força Negra vem a público manifestar a sua indignação dizendo que a responsabilidade por tudo que está acontecendo é do grupo político liderado por Flávio Jorge, Matilde Ribeiro, e Martyus Chagas que entre o amor e o ódio ainda estão juntos. A imprensa e a sociedade brasileira têm que entender que o movimento negro não é uma coisa só, e existem várias e diferentes organizações no movimento social, e em correntes partidárias. A maioria do movimento negro no Brasil não tem nada a ver com esse campo político que conduziu a política racial no PT e no movimento social desde o início da década de 90. A irresponsabilidade desse grupo deflagrou um desgaste histórico na luta de combate ao racismo no país que influenciará negativamente a agenda política a partir de 2008. A única saída é o fortalecimento de nossas organizações políticas que devem ser verdadeiramente democráticas irrompendo com a vulnerabilidade do individualismo e de sucessivos golpes internos. Outro fator é o constante surgimento de militantes relâmpagos e sem história no movimento negro brasileiro que só almejam espaços públicos e comprometem sucessivamente a seriedade da nossa luta. Só assim, teremos a segura construção de um projeto estratégico de nação do ponto e vista do povo negro brasileiro para a sociedade. Sabemos que a partir de agora nada será como antes. A falta de credibilidade desse campo político resultou no limite que culminou num constrangedor pedido de exoneração da Ministra Matilde Ribeiro. Onde a própria composição da SEPPIR, entidades e partidos, não se manifestou em defesa à ministra, ou mesmo pediu demissão coletiva num grande ato político contra o racismo transmitido para todo o país. Agora, com certeza surgirão várias “personalidades” sem militância no movimento negro pleiteando o cargo, e outros setores também ausentes aparecerão fazendo análises e manifestando o seu posicionamento. No entanto, desde 2006 o nosso campo “o FORÇA NEGRA do PT” – formado por militantes de várias correntes do partido – vem construindo esse ponto de vista crítico e de oposição à incompetência na gestão da SEPPIR e a falta de ética na Secretaria Nacional de Combate ao Racismo, liderada pelo mesmo grupo. Em 2007 denunciamos para o Brasil que a tese “Democracia pra Valer” era uma farsa e não condizia com a prática de seus dirigentes no PT e que eles usariam a estrutura governamental para construir esse campo, com uma base “levanta crachá” seduzida pelos recursos provindos da SEPPIR. Nesse sentido, pedimos ao presidente Luís Inácio Lula da Silva que abra o diálogo conosco e com o movimento negro brasileiro e considere que devemos assumir conjuntamente o processo de reestruturação da SEPPIR e das relações raciais no Partido dos Trabalhadores. Só assim, construiremos a unidade necessária para o fortalecimento da agenda política das ações afirmativas para enfrentar a desigualdade racial que assola cada vez mais o segundo país em população negra do mundo. E, que a II Conferência Nacional da SEPPIR não seja mais um desperdício de dinheiro público, pois das resoluções e diretrizes resultantes da I Conferência, nada foi implementado.
Força Negra do Partido dos Trabalhadores – Coordenação Nacional – 06/02/2008.
Nenhum comentário:
Postar um comentário