sábado, 16 de fevereiro de 2008

Por quê um cabeça chata chateia tanta gente...? (1)

/ plural, e sim o BABILAK BAH que congrega na sua visão de mundo o pluralismo e a possibilidade dsincrética a troca, do encontro e da partilha do sensível. Afirmo minha individualidade quando me diluo no coletivo, fazendo desta prática minha estética e filosofia – sou fruto desta riquíssima experiência intransferível. O meu fazer artístico é perpassado por este fermento que fomenta e atiça minha arte que se revela na poesia, na música, nas artes plásticas, na arte percussiva, como produtor, arte-educador e recentemente, no audiovisual. O que individualizo e pluralizo são as minhas linguagens "Um critico anônimo é um sujeito que não quer assumir o que diz ou o que deixa de dizer ao mundo acerca dos outros e de seus trabalhos, por isso não assina. E uma coisa dessas é tolerada? Não há mentira que seja tão insolente a ponto de impedir um critico anônimo de usá-la: de fato, ele não é responsável. Todas as resenhas anônimas são suspeitas de mentiras e falsidade. Por isso, assim como a policia não permite que as pessoas andem pelas ruas mascaradas, não deveria ser admitido que elas escrevessem anonimamente. As revistas literárias que usam o anonimato são propriamente o lugar onde, sem punição alguma, a ignorância possui seu tribunal para julgar a erudição, e a burrice, para julgar a inteligência.
(...) Isto é, de tal maneira que todo artigo de jornal fosse acompanhado pelo o nome de seu autor, sob a responsabilidade rigorosa do editor quanto à autenticidade da assinatura. Assim, dois terços das mentiras divulgadas seriam eliminadas, e a insolência de muitas línguas venenosa seria refreadas." ARTHUR SCHOPENHAUER. (1788-1860)

Aos críticos da "cidade ausência", sitio digital no endereço www.cidadeausencia.com, grupo de poetas da cidade satélite de Brasília/Taguatinga,
Li a crítica sobre o show que, acredito, assistiram na Feira da Música Independente Internacional de Brasília -FMI ou ouviram no CD "Babilak Bah: Enxadário - Orquestra de Enxadas".
De início, perguntei-me: qual a fonte de informação da revista para realizar tal crítica? E como abordar questões tão polêmicas e controversas como a dicotomia entre clássico e primitivo e o direito autoral na produção musical contemporânea num texto de um parágrafo só?
Também me chamou atenção que os artigos da revista são assinados pelos seus respectivos autores, menos a critica direcionada a mim. E ainda, sem data de postagem.
Confesso que vejo na crítica a possibilidade do debate, o esclarecimento de questões, a tomada de posição que com a liberdade de imprensa e a democratização da mídia digital contribuem para promover o crescimento dos indivíduos e grupos sociais. No entanto, não podemos confundir debate e crítica artística com acusações pessoais desconhecendo a história dos sujeitos envolvidos e sua referida obra.
Interroguei-me: por que vocês colocaram entre parênteses "(nordestino de nascimento)?" Isso me proporcionou uma deliciosa reflexão filosófica com gosto de jabá e jerimum. Constatei: sou cabeça chata, e concluí: não é chato pensar, e penso com minha cabeça chata e vou chatear os outros ainda mais com o meu crioulo português; sei que um Babilak Bah incomoda muita gente, incomodar faz parte da minha sociologia pessoal. Peço emprestada a fala de outro nordestino chateado com tanta hipocrisia: "vou te confundir para poder te esclarecer" (Tom Zé).
Digo para os da "cidade ausência" que me faço presente na cidade com enxada, com verbo e outros truques com assinatura. Esclareço aqui que não é o Enxadário que é uma entidade - um euplural.
No tocante ao que seja coletivo, posso afirmar que é o que mais ressalto e busco com voraz intensidade... A intenção sonora e os longos solos existentes neste cd foram permitidos por mim. É fato no showbiz o artista principal de um grupo reduzir a intensidade do microfone da back vocal para que a sua voz tenha mais abrangência e visibilidade sobre as demais ou inibir solos de instrumentistas para não ter a cena roubada. Atuo ao contrário; peço aos músicos, convidados por mim para o trabalho, que façam longos solos, interfiram na criação e utilizem o espaço do palco. No Enxadário, por exemplo, divido com três músicos a boca de palco e nunca limitei um músico ou tive tal procedimento de restrição.
Nos seus respiros finais, o texto da crítica chega a fazer um juízo de valor... "então, seria muito mais justo que esse "Enxadário’... e seus ‘frutos e holofotes’ recebessem o nome de um ‘grupo’, e não de apenas uma pessoa". Esclareço que essa pesquisa está na sua terceira edição e teve seu início de forma solitária; sua gênese não se deu pelo plantio coletivo e sim, no primeiro momento, pela necessidade de ocupar a terra cheia de pedregulho e preconceito e ará-la, desbravar linguagens, colonizar sentidos, não desistir frente a críticas, investir muito recurso próprio e colocar a cara a tapa.
Para a finalização do CD em fevereiro de 2006, lançado em outubro, antes de entrar em estúdio foi percorrido um longo caminho em um trecho onde ninguém quis plantar e correr risco, ou seja, foi preciso ocupar espaços e mentes acostumadas à mesmice; criar estratégias, ser criativo, esquecer acima tudo os modismos. Quando muitos estavam nas esquinas, outros tocando lambada, ainda alguns estudando os clássicos, pedindo procuração ao cânone de uma aristocracia ultrapassada, eu vivia no ostracismo taxado de louco, firme no exercício da experimentação buscando subsídio para denunciar o diabólico pelo simbólico, como faço agora contra os preconceituosos que taxam e afirmam como primitivos instrumentos de afinação não definida e a percussão; é uma extrema ignorância confundir timbralidade com tribalidade. Trabalho com linguagem contemporânea e não invocando forças sobrenaturais dos tempos das cavernas ou incorporando espíritos das senzalas. Aos que pensam que percussão está relacionada a uma expressão do passado, não vê-la como um fenômeno de linguagem está corroborando com a submissão e desconhecendo os avanços do pensar e do fazer artístico, que vai muito além da comunicação, na sua mais abrangente expressão na esfera da arte e da cultura em face á contemporaneidade.
O que se destaca no paradigma da arte contemporânea não é o exímio compositor da perspectiva romântica e antiquada e sim o propositor. O conceito de música está além do som, como já alertou Aristóteles, quatro séculos antes da era cristã: "não se deve empregar a música para um único fim", ou seja, o universo tonal. Se fosse assim, as autoridades da pedagogia musical estariam despejando grandes criadores na esfera fonográfica e revelando compositores para eliminar nossas mazelas e mediocridades. A música hoje tem conceito, história, compromisso.
Este CD teve a participação de 37 músicos, o apoio de 10 entidades e o envolvimento de uma constelação de profissionais. De qual material os escritores da "cidade ausênica" tiraram que os músicos do CD são "meros colaboradores?" No encarte está escrito o nome dos produtores musicais. Os arranjos são também, nominalmente, citados com COLETIVOS. Para a gravação do CD os músicos principais foram remunerados por mim e os custos, altos, também assumidos por minha pessoa. Há nesse procedimento um estatuto moral, não se tratou de filantropia, caridade ou doação. Alguns amigos, com uma participação mais pontual, sim, foram ao estúdio pelo compromisso com a minha trajetória. Aproveito aqui para citá-los: Marco Flávio, Selma Carvalho, Décio Ramos(UAKTI), Alexandre Ribeiro, Rita Medeiros, Elder Araújo e o Coral Vox Pueri, na pessoa da maestrina Graice Cordeiro.
Já nos shows, faço questão de apresentar todos os músicos como "imprescindíveis" ao trabalho e, aliás, devo confessar que vocês me chamaram atenção para o fato de que não cito meu nome nos shows. Passarei agora: "E eu, Babilak Bah, (não só vocalista), mas concepção, criação, poemas" Ainda hoje, apesar dos elogios e destaque do trabalho, os "holofotes e frutos" demandam investimentos e os músicos, que hoje fazem parte desse momento, tem sido poupados a arcar com a questão orçamentária. Por exemplo, o custo de produção para a ida a Brasília ultrapassou o cachê negociado e eu não recebi, paguei para trabalhar, mas honrei com todos os custos da produção junto ao meu coletivo.
Peço que corrijam a informação quando dizem que no Enxadário o sincretismo vem com o "inovador", (os instrumentos inovadores foram criados por mim e há muito tempo como: Berimbacia, tamborguizo, berimbôca, rodofônico, pandeiro sem pratinela, templário e outros.).

É preciso que se tenha cuidado no que se diz e escreve para não cometer injustiças e proposições infundadas. Acredito que não é vergonhoso para artistas ou intelectuais estar na periferia, o deprimente é estar na periferia do conhecimento, da clareza e tirar conclusões precipitadas.
O que vocês ouviram não é nada do dia do bem virar, parafraseando o conterrâneo Geraldo Vandré. Tenho certeza que o mundo cantará minha música. Não digo isto por arrogância mas porque tenho muito a dizer. No momento, faço música com enxadas, no entanto, ainda não soltei minha voz desafinada e fora do tempo, porém canto minhas verdades e me faço presente - a carne que alimentará a cidade ausente e a outra cidade. Que legitimidade tem os que reivindicam direitos de outrem e não tem a dignidade de assinar e chegam a conclusões errôneas?Tenho que ressuscitar Nelson Rodrigues quando diz: "toda unanimidade é burra". Só me resta a interrogativa: que poetas são estes que usam máscaras e cometem erros medievais?
Quanto à pergunta: "com quantos sons se faz uma enxada?", creio que a interrogação é outra: quanto de conhecimento e conceito foi utilizado para tornar uma ferramenta tão arcaica e não obsoleta num objeto rico de expressão e significação simbólica dentro da musicalidade contemporânea? Quem, com teimosia e determinação, investiu tempo e recurso, agregou artistas de diferentes formações e estilos dando oportunidade e revelando tanta gente talentosa criando esse consistente projeto? ("E há outro jeito de fazer algo diferente hoje em dia.?) Bela pergunta, digo, na história universal da arte, só foi possível surgir grandes criadores porque transgrediram e romperam com normas e regras estabelecidas. Reverto à pergunta: quem estabeleceu novos parâmetros, mostrou novas possibilidades e apontou para outras fontes sonoras, sistematizou esta metodologia e pôs limites na organização musical em julgamento? Depois que algo foi criado é fácil fazer acréscimo e concluo, que sincretismo, pluralismo e coletividade não são sinônimos de valor estético, não passa meramente de adjetivação. Agradeço, quando afirmam "realizando um dos mais belos e elaborados trabalhos musicais que já emergiram na música brasileira" Não sei que critérios utilizaram para chegar a tal conclusão diante da valiosa produção independente atual. Não concordo, quando dizem "eis uma orquestra que merece ser escutada com ouvidos e corações" ressalto que não comungo deste imaginário caduco de música contemplativa que leva ao mero entretenimento e alienação, afirmo, eis uma orquestra para ser compreendida pela politização dos sentidos.
Fecho com a fala de um nordestino emblemático, Caetano Veloso: "no Brasil parece que fazer sucesso é um pecado", e complemento...Como incomoda dar certo e escapulir da estatística da violência e da tragédia social.
Babilak Bah.
Músico, poeta, educador social e produtor de suas idéias / Junho de 2007.
Sugestão de Leitura:
Arthur Schopenhauer – A Arte de escrever. Coleção l&PM Pocket, vol. 479
Babilak Bah – Jornal Estado de Minas -caderno Pensar –Cultura do Baticum –Junho de 2001. Babilak Bah - Tambor língua ou logos do caos-Suplemento Literário de Minas Gerais. N 1286 /janeiro de 2006
Babilak Bah -Navalha na alma – Idem. N. 48 /junho de 1999
Tárik de Souza – site www.memoriamusical.com.br – crítica ao cd Babilak Bah – Enxadário: Orquestra de Enxadas
Murray Schafer - Ouvido Pensante. Ed. unesp
Murray Schafer -Afinação do Mundo. Ed. unesp
www.babilakbah.mus.br
www.myspace/babilakbah
www.youtube/babilakbah

Nenhum comentário: